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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

«VÓS, SENHORES…»













Quando por toda a parte nos opondes «o absoluto», afectais um arzinho profundo, inacessível, como se vos debatesseis, num mundo longínquo, com uma luz, com trevas que vos pertencem, a vós, senhores de um reino ao qual ninguém, para além de vós, poderá aportar jamais.

Dispensais-nos, a nós, mortais, alguns restos das vossas prospecções. Mas nem todos os vossos esforços conseguem que façais mais do que soltar esse pobre vocábulo, fruto das vossas leituras, da vossa douta frivolidade, do vosso nada livresco e das vossas angústias do empréstimo.

O absoluto – todos os nossos esforços se reduzem a minar a sensibilidade que a ele conduz.

A nossa sabedoria, ou antes, a nossa não-sabedoria – repudia-o; relativista, propõe-nos um equilíbrio, não na eternidade, mas no tempo.

O absoluto que evolui, essa heresia de Hegel, tornou-se o nosso dogma, a nossa trágica ortodoxia, a filosofia dos nossos reflexos.

Quem pensa poder escapar-lhe dá mostras de jactância ou de cegueira.

Encurralados na aparência, cabe-nos a adopção de uma sabedoria incompleta, mescla de cisma e de arremedo.

Se a Índia, para citar de novo Hegel, representa «o sonho do espírito infinito», a tendência do nosso intelecto, como a da nossa sensibilidade, obriga-nos a conceber o espírito encarnado, limitado aos seus caminhos históricos, o espírito puro e simples, que não compreende o mundo, mas os momentos do mundo, tempo fragmentado a que só raramente escapamos, quando traímos as nossas aparências.

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