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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

«VISITA A UMA ESCOLA»



Certo dia, fui convidado a visitar uma escola-modelo. Essa visita foi um verdadeiro encantamento, um espectáculo admirável”

A Superiora do estabelecimento conduziu-me a uma classe arejada, clara, toda verniz e esmaltes. As paredes eram de cor delicada. As certeiras eram em vidro e aço cromado.

Não havia bancos, mas cadeiras estofadas. Na parede do fundo, corria um friso, com os mais belos desenhos de uma pintora célebre.

O estrado da mestra era feito com aqueles tipos de madeira congolesa que se poderia tomar por essências preciosas.

Dois piriquitos azuis bicavam-se desaforadamente num imenso viveiro. Pela janela aberta, viam-se suaves colinas, belas árvores, um lago onde se via um salgueiro lamartiniano.

Ali dentro, ficava-se com a alma de criança

Eu quase teria desejado reaprender a tabuada de multiplicar, a ortografia flamenga, o género de amor, prazer e órgão.

Felicitei, pois, a boa madre, que se mostrou encantada por isso.

«Não é verdade, mesmo, que está bom?», disse-me ela. «Como vão estudar, os meus pequenos!»

Concordei, com bastante convicção, e despedi-me.

Regressei a Portugal, e passados tempos, saudoso daquele recanto encantador da cidade de Paris, quis revê-lo.

Portanto, para lá voltei. Tudo estava mudado! Não havia mais friso na parede, nem carteiras cromadas, nem piriquitoss, nem estrado em madeira de lei. Nas vidraças, uma caiação mal feita escondia a romântica paisagem.

«Boa madre, disse, espantado com aquele vandalismo, que fez a senhora?A sua classe tornou-se numa gaiola como as outras?»

“Sim, respondeu a santa mulher, de grande inteligência, sim, era preciso.

As crianças distraíam-se muito. Depois, sorrindo, acrescentou: “Olhe, nada se faz sem um pouco de austeridade”

A falta de energia decorre de diversas causas. Entre essas, ouso incriminar o próprio quadro da nossa vida, onde tudo nos dispõe, não á concentração em nós mesmos, mas, ao contrário, à distracção e à dispersão.

A criança e o adolescente que voltam para suas casas, que encontram ali?

A austeridade, aquele mínimo de austeridade que é o obstáculo que se faz necessário, quer se queira, quer não, superar e vencer?

De forma nenhuma!

Na maior parte do tempo, tudo está disposto de maneira a que o máximo de conforto produza o mínimo de esforço, para aqueles que possuem os meios de pagar a seus filhos o luxo que acabo de referir naquela escola parisiense, inserida num colégio de uma ordem religiosa.

O próprio quadro da nossa vida, tão confortável, tão bem arranjado para favorecer o velho instinto da preguiça e tão perfeitamente concebido para favorecer a necessidade de comodidade que dorme em cada criança, em cada adolescente, sem que nenhum governante se preocupe com isso.

Ele mata a vontade, enfraquecendo-a e atrofiando-a, inicialmente. Pedem-se exemplos?

Temo-los bem à vista de todos na tremenda diferença existente entre os cidadãos, seus filhos e as elites capitalistas, que desconhecem o significado da palavra “crise”.

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