Sem pensar na recompensa,
o Bom Samaritano da Bíblia interrompe o seu caminho para ajudar um homem que
fora espancado e roubado. É esta a essência do altruísmo: auxiliar quem precisa
sem esperar nada em troca.
Para muitos especialistas
do comportamento humano, tal atitude é um paradoxo. Os comportamentalistas
pensam que fazemos uma coisa, porque
obtemos ou esperamos obter uma recompensa; da mesma forma, não praticamos
determinado acto porque acarretaria custos demasiado altos. Chama-se a isto o
modelo recompensa/punição do comportamento humano.
Alguns psicólogos
argumentam que as pessoas recebem uma recompensa oculta pelo seu altruísmo. O
benefício é sentirem-se bem consigo próprios e evitarem a culpabilidade que
resultaria por não terem ajudado. Este argumento tenta preservar o modelo
recompensa/castigo, explicando simultaneamente o paradoxo do altruísmo, mas
ignora algumas questões importantes, como a origem dos sentimentos de gratidão
ou de culpa e a razão por que certas pessoas são mais altruístas que outras.
Talvez o aspecto mais flagrante seja o facto de não conseguir explicar porque
motivo nos sentimos bem só por sabermos que alguém está a ser ajudado, mesmo quando
nada temos a ver com essa ajuda e ninguém no-la pediu.
Embora utilizada
frequentemente como sinónimo de compaixão ou ajuda, a palavra «empatia» não
define, realmente, nem o comportamento moral bom (ou mau), mas simplesmente a
capacidade de sentirmos aquilo que outra pessoa sente.
Por exemplo, um menino no
infantário pode ficar emocionado se um colega leva uma pancada na cabeça e
começa a chorar, porque sabe quanto dói essa pancada. Mas, só porque sentiu
empatia, a sua emoção seguinte não é necessariamente de compaixão: tanto pode
dar ao companheiro que chora uma palmadinha de conforto, como desinteressar-se
rapidamente sem manifestar a sua solidariedade.
Certas amizades
desproporcionadas, como as que podem existir entre professor e aluno, entre
médico ou enfermeiro e doente, talvez não sejam tão desiguais como parecem.
Na opinião de Freud, as
pessoas de estatuto superior podem sentir-se recompensadas só por verem que a
sua actividade proporciona um melhor bem-estar a outros. Além disso, as pessoas
podem procurar relacionamentos desiguais, mas gostam de desempenhar o papel da
que precisa de apoio, outras de se comportar como se fossem «pais ou mães» e
procurar amigos ainda com mais problemas que eles próprios têm, ou cheios de
defeitos óbvios que possam «corrigir».
Termino deixando uma
pergunta: «Pode corrigir-se a solidão no seio da multidão»?
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