Diz-se que o cidadão e o político já
não sabem querer. Será realmente verdade?
Creio que não, pelo menos no que diz
respeito ao cidadão, que quer, mas que se depara como contra um muro – os políticos
– que contrariam sempre o querer da cidadania.
E, rapidamente se faz o inventário
das causas, se preconizam remédios e se acrescenta a cultura física ao latim e
ao grego, o desporto à matemática e à hidroterapia fria a todos os benefícios
que se atribuem ao método Coué.
(Emile Coué, psicoterapeuta francês,
famoso pelos seus estudos psicológicos, que o levaram a um método de
auto-sugestão aplicada à eurritmia do organismo humano. Esse método consiste na
repetição, a horas certas, de uma frse capaz de agir sobre o inconsciente
[todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor] e de
modificar as funções para as restabelecer no seu estado normal).
Mas nada proíbe o optimismo, quando
se trata de alguém já estabilizado na maturidade. O mesmo não se dá quando se
trata de crianças e adolescentes que, por definição, devem, à força de energia
e de carácter, conquistar-se integralmente a si mesmos.
Se Pedro e Paulo, voltando para suas
casas, nelas encontram uma temperatura constante de vinte graus, de 15 de
Setembro a 15 de Maio, não verão nisso nenhum inconveniente.
E mais ainda, nada lhes parecerá mais
normal: sabem que a mecânica faz o esforço em seu lugar.
Não têm de procurar o papel, nem a
lenha, nem o carvão, nem os fósforos que serviriam para acender a lareira ou a
salamandra. Esta ou aquela não têm um botão de controlo.
Basta movimentar o polegar e o
indicador. Eles não têm de cuidar de nada, nada prover, nada limpar.
Tudo funciona sozinho. Nada tendo
querido, quanto ao assunto referido, como a uma infinidade de outros,
tornaram-se a cada dia umpouco mais inaptos a querer.
O mesmo se dá com tudo o que constitui o quadro da nossa vida, e que não mais temos de criar.
Tudo é feito de maneira a suprimir
artificialmente o esforço.
Que se prefira, se se quiser, uma
poltrona estofada a um banco, mas não se diga que a poltrona é uma escola de
energia.
Quem estiver com uma enxaqueca, que
tome uma aspirina, mas não se pretenda que, tomando-a, se fica apto a suportar
a dor. Que se tome o autocarro quando chove, mas não se creia que isso
imunizará contra o mau tempo. Que as aulas durem cinquente minutos, em vez de
sessenta, mas não se finja pensar que isso dá gosto pelo trabalho intenso. Que
se abdique tanto quanto se queira, é assunto de cada um, mas não se exale a
abdicação contínua como o melhor exercício da vontade.
À força de gostar do conforto, de
fazer dele não um meio, mas um fim, tem-se progressivamente matado, ou pelo
menos atenuado, o gosto pelo esforço. E jamais se percebeu que a ausência de
energia física provocava, inevitavelmente, uma lamentável carência de energia
moral.
E essa frouxidão, considerámo-la
hoje, com razão, um caso difícil, porque acabou por tomar conta de tudo e de
muitos – da minha maneira de pensar e de querer, da vida social e religiosa, e,
o que é pior, corrompeu até o método que deveria fazer de todos os cidadãos
resistentes e capazes de afrontar as duras realidades da existência – o trabalho.
Qualquer semelhança com o que se
passa hoje em Portugal, é pura coincidência.
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