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segunda-feira, 22 de abril de 2013

«CARICATURA EM PORTUGAL»

Género artístico com uma longa tradição, a caricatura visa, pela acentuação e exagero de alguns aspectos característicos do personagem tratado, apresentá-lo numa óptica satírica, ou mesmo ridícula, por vezes plena de aguda observação psicológica e notável significado sociológico.

Tal como aconteceu na generalidade dos países europeus, a caricatura afirma-se em Portugal no século XVIII, para adquirir um volume crescente a partir da centúria seguinte, com a difusão da imprensa e as vicissitudes da vida política e do quotidiano ditadino.

Mas a sua trajectória histórica é ainda mal conhecida, estando por estudar muitos dos seus aspectos.

Data de cerca de 1735, segundo J. A. França, o exemplo mais antigo que hoje se conhece: uma gravura satírica de Vieira Lusitano escarnecendo de um escultor galego em ajuste de contas pessoal.

Mas só em 1807 voltamos a ter notícia de análoga tentativa, como o desenho anónimo vituperando a fuga da família real e do príncipe D. João para o Brasil.

Embora circulassem no país ilustrações satíricas e publicações estrangeiras, o primeiro jornal deste tipo data apenas de 1847.

Intitulado Suplemento Burlesco e usando como processo gráfico a litografia, nele surgiam frequentes ataques a Costa Cabral, “o chibo de Algodres”, invenção gráfica de um obscuro Lopes Pinta-Monos, e um dos primeiros grandes sucessos públicos neste domínio. Desencadeia-se a partir daqui toda uma vasta produção, de nível não muito elevado, que tem como principais centros Lisboa e Porto.

Reflectindo posições de clientela partidária e interesses de imediatismo político, ela acaba por abranger toda a vida da burguesia constitucional, interpretada por caricaturistas como Nogueira da Silva (através do Jornal para Rir, da série Celebridades Contemporâneas), em Lisboa, e de Sebastião Sanhudo, no Porto (com Pai Paulino, O Sorvete, O Piperotes).

Mas a grande figura que enche o panorama da caricatura oitocentista é Rafael Bordalo Pinheiro. Com a sua carreira iniciada nos anos 70 no Binóculo, A Berlinda e a lanterna Mágica, prosseguida no Brasil com o Psit… e o Besouro, e continuada em Portugal com o António Maria, os Pontos nos II e A Paródia, ele foi o criador do Zé-Povinho, sem dúvida a mais espantosa personificação dessa entidade colectiva que tudo sofre e muito pouco recebe, apesar de tantas vezes evocada.

A seu lado comparecem e desfilam artistas e intelectuais, políticos e financeiros, soberanos e famílias imperiais, ministros e conselheiros, eclesiásticos e acontecimentos da actualidade, não faltando ainda o auro-retrato sem contemplações.

Nesta linha, de um romantismo mais ou menos atardado, se inscrevem outras personalidades, próximas de uma maneira ou de outra dos modelos de Rafael Bordalo: Manuel Gustavo, seu filho, Celso Hermínio (fundador de O Micróbio e o Berro), Julião Machado (colaborador da Comédia Portuguesa) e Manuel de Macedo (colaborador na Lanterna Mágica), Leal da Câmara, cujo traço inicialmente se confunde com o de Bordalo, desenvolveu depois uma interessante carreira internacional,, em Madrid, Paris (onde trabalha para L’Assiette au Beurre) e Bruxelas, em situação de certo modo emancipada.

A caricatura e a visão humorista ocuparam um lugar de relevo entre os artistas modernistas que procuravam romper com a linguagem oitocentista. Tal começa a verificar-se no certame de “arte livre”, em 1911, e depois a partir da I Exposição dos Humoristas, no ano seguinte, onde participam,, entre outros, Emmerico Nunes, Cristiano Cruz, Almada Negreiros, Amarelhe, Francisco Valença e Jorge Barradas.

Iniciava-se assim um novo ciclo, que chega até aos nossos dias ao longo de gerações sucessivas, em que se incluem Stuart Carvalhais, Correia Dias, Bernardo Marques, Carlos Botelho, Tomás de Melo-Tom, João Abel Manta…

Conhecendo uma vertente política importante, distribuída por todo o naipe das formações ideológicas, a caricatura reduz esse âmbito de crítica durante a época do Estado Novo, apesar da liberalização ocorrida no período marcelista.

Após Abril de 1974 assiste-se a uma explosão do género, em que nomes como o de Sam, Vasco, Cid, António e outros, ainda que com actividade anterior, desenvolvem uma obra ampla e variada.


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