Haverá alguma coisa mais natural que o facto de serem
tantos os que não dispõem de qualquee outro modo de expressão para além da
manifestação pública?
Mesmo os que não são particularmente dotados bebem, no
seu desenraizamento, no automatismo da sua exclusão social, esse suplemento de
talento que não teriam alcançado no quadro da uma existência normal.
Seja qual for a forma sob a qual se apresenta, e seja
qual for a sua causa, o exílio no seu próprio país é, desde há muitos anos, uma
escola de vertigem.
Quando no país os órgãos de informação, os políticos e
todos os que deles dependem preferem falar sobre o que se passa em Itália, na
América ou na União Europeia, trata-se de uma situação-limite e como que o
extremo de estado de pobreza intelectual.
Não será um favor ser-se transportado até ele, de forma
imediata, sem os rodeios de uma disciplina, unicamente graças à benevolência da
fatalidade?
Ou será que pretendem amedrontar todo um povo, através de
afirmações de ingovernabilidade de um país rico, onde é gerada riqueza e onde,
também, existe grande percentagem de desemprego, graças à ganância de uns e à
incompetência dos mesmos, que negam o direito de viver condignamente ao povo.
Porque meterá tanto medo que tenha sido uma coligação de
Centro/Esquerda a vencer as eleições legislativas, dando a um antigo
primeiro-ministro a quem muitos chamam de monopolista da comunicação e autor de
vários crimes, que a justiça do seu país não julga e muito menos condena.
Logo, sendo considerado inocente, ou não existindo provas
para que seja condenado, deve ser considerado apto para exercer as funções que
o povo lhe confia com o seu voto.
Pensemos nesse pobre de luxo, no sem-fim de solidões que
teve de acumular para liquidar os seus laços, para tomar pé no invisível.
Não é nada fácil não se ser de lugar algum quando as
condições exteriores o não impõem.
O próprio místico só alcança o despojamento à custa de
esforços monstruosos. Arranquemo-nos ao mundo, que trabalho de abolição!
O pobre luxuoso, esse, consegue-o a baixo preço, devido
ao auxílio – ou à hostilidade – da História.
Não precisa de tormentos nem de vigílias para se despojar
de tudo; os acontecimentos forçam-no a isso.
Em certo sentido, parece-se com o doente que, como ele,
se instala na metafísica ou na poesia sem mérito pessoal, pela força das
coisas, graças aos bons serviços da doença.
De que pode haver medo com um governo de esquerda
coligado com o centro, embora com a esquerda em maioria? De que pode ter medo a
União Europeia, que soube impor a queda de um governo legitimado pelo voto
popular, e que agora se vê a braços com o grave dilema de qual o caminho a
seguir, envenenando a opinião pública com o espectro de um governo que lhe não
convém?
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