Em matéria política, a melancolia só é intratável
naqueles que querem conservar as regras do jogo tais como elas são: o
capitalismo triunfando na linha do liberalismo hirsuto, desenfreado.
Para estes, é claro que o interesse consiste em avançar
com a ideia de que já só existe um imenso movimento planetário do qual não
temos a possibilidade de escapar.
Baseado neste princípio, o Estado universal tem belos
dias à sua frente e, sem espírito de resistência que se lhe oponha, o
totalitarismo de um pensamento uniformizado, de uma economia monoteísta e o
advir da história acabarão por impor rapidamente as suas leis, realizando,
desse modo, uma ditadura como a história nunca conheceu no passado.
À laia da guizo, os defensores deste niilismo comungam
numa Europa supranacional que aceleraria o fim da autonomia das nações, já de si bem encetada.
Qualquer promoção de uma Europa liberal, dita de
Maastricht, actua como um formidável acelerador na planetarização do
capitalismo e no seu triunfo isolado.
Com Maastricht propõe-se menos Europa do que uma só
Europa liberal, com a exclusão, por exemplo, de uma entidade política. E a arte
da mentira (na qual são useiros e vezeiros os gestores do capitalismo que,
desde há um quarto de século, se substituem uns aos outros no poder), consistiu
em assimilar a Europa, só ela, singular, única, àquela que propõem os técnicos
e os financeiros de Bruxelas, desejosos de instaurar um império liberal
susceptível de fazer contrapeso, simetricamente, se não às nações do marco e do
iene, pelo menos à do dólar – o que, temos de convir, não está longe de ser a
mesma coisa.
Se não nos quisermos sacrificar ao pessimismo reinante,
nem à excitação europeia liberal deste início de século, que soluções parecem
ainda encaráveis?
O fim do capitalismo? Certamente que não. Enquanto não
houver alternativa a este, a não ser pela abolição da propriedade privada e
pela apropriação colectiva dos meios de produção, será necessário, ao optar por
uma escolha, aceitar as consequências, as barreiras eriçadas de obstáculos, que
acendiam o ânimo de Gracchus Babeuf.
Deste modo seria também necessário acabar com toda a
individualidade, digna desse nome, que esteja condenada, sacrificada a
mover-se, sem liberdade, no recinto da nação fechada por uma cortina de ferro,
de betão, ou seja, de tudo o que for susceptível de ser controlado do alto de
um miradouro.
A opção libertária não pode ser essa, pelo menos num
autoritário confesso como Pierre-Joseph Proudhon, ou num atípico do género de
André Gorz, pois Bakounine difere de Marx apenas quanto aos meios e, de modo
algum, sobre os fins.
Nos dois pensadores encontramos o mesmo sacrifício à
teleologia, ao optimismo, a mesma crença hegeliana na possibilidade de um final
e de um desfecho da História, uma idêntica comunhão no ódio pela propriedade
privada, herdado de Rousseau, ao qual vão ambos buscar também a sua crítica da
modernidade, o ridículo descrédito lançado sobre a técnica.
Ambos crêem no homem total, desembaraçado das suas
alienações, pelo simples facto de evoluir numa sociedade sem classes. E a
história é bem conhecida.
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