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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

«O LIBERALISMO POLÍTICO»


Em matéria política, a melancolia só é intratável naqueles que querem conservar as regras do jogo tais como elas são: o capitalismo triunfando na linha do liberalismo hirsuto, desenfreado.

Para estes, é claro que o interesse consiste em avançar com a ideia de que já só existe um imenso movimento planetário do qual não temos a possibilidade de escapar.

Baseado neste princípio, o Estado universal tem belos dias à sua frente e, sem espírito de resistência que se lhe oponha, o totalitarismo de um pensamento uniformizado, de uma economia monoteísta e o advir da história acabarão por impor rapidamente as suas leis, realizando, desse modo, uma ditadura como a história nunca conheceu no passado.

À laia da guizo, os defensores deste niilismo comungam numa Europa supranacional que aceleraria o fim da autonomia das nações,  já de si bem encetada.

Qualquer promoção de uma Europa liberal, dita de Maastricht, actua como um formidável acelerador na planetarização do capitalismo e no seu triunfo isolado.

Com Maastricht propõe-se menos Europa do que uma só Europa liberal, com a exclusão, por exemplo, de uma entidade política. E a arte da mentira (na qual são useiros e vezeiros os gestores do capitalismo que, desde há um quarto de século, se substituem uns aos outros no poder), consistiu em assimilar a Europa, só ela, singular, única, àquela que propõem os técnicos e os financeiros de Bruxelas, desejosos de instaurar um império liberal susceptível de fazer contrapeso, simetricamente, se não às nações do marco e do iene, pelo menos à do dólar – o que, temos de convir, não está longe de ser a mesma coisa.

Se não nos quisermos sacrificar ao pessimismo reinante, nem à excitação europeia liberal deste início de século, que soluções parecem ainda encaráveis?

O fim do capitalismo? Certamente que não. Enquanto não houver alternativa a este, a não ser pela abolição da propriedade privada e pela apropriação colectiva dos meios de produção, será necessário, ao optar por uma escolha, aceitar as consequências, as barreiras eriçadas de obstáculos, que acendiam o ânimo de Gracchus Babeuf.

Deste modo seria também necessário acabar com toda a individualidade, digna desse nome, que esteja condenada, sacrificada a mover-se, sem liberdade, no recinto da nação fechada por uma cortina de ferro, de betão, ou seja, de tudo o que for susceptível de ser controlado do alto de um miradouro.

A opção libertária não pode ser essa, pelo menos num autoritário confesso como Pierre-Joseph Proudhon, ou num atípico do género de André Gorz, pois Bakounine difere de Marx apenas quanto aos meios e, de modo algum, sobre os fins.

Nos dois pensadores encontramos o mesmo sacrifício à teleologia, ao optimismo, a mesma crença hegeliana na possibilidade de um final e de um desfecho da História, uma idêntica comunhão no ódio pela propriedade privada, herdado de Rousseau, ao qual vão ambos buscar também a sua crítica da modernidade, o ridículo descrédito lançado sobre a técnica.

Ambos crêem no homem total, desembaraçado das suas alienações, pelo simples facto de evoluir numa sociedade sem classes. E a história é bem conhecida.

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