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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

«OS MENDIGOS»

















Após tanta fraude e impostura, é reconfortante contemplar um mendigo. Ele, ao menos, não mente aos outros nem a si próprio: a sua doutrina, se é que a tem, encarna-a; não gosta do trabalho e demonstra-o; como nada deseja possuir, cultiva o seu despojamento, condição da sua liberdade.

O seu pensamento resolve-se no seu ser, e o seu ser no seu pensamento.

Falta-lhe tudo, é ele próprio, dura: viver imediatamente a eternidade é viver apenas um dia de cada vez.

Por isso, para ele, os outros são presa da ilusão. Se depende deles, vinga-se observando-os, especialista que é do reverso dos sentimentos “nobres”.

A sua preguiça, de uma qualidade muito rara, faz dele um ser verdadeiramente “liberto”, perdido num mundo de gente tola e iludida. Sabe mais sobre a renúncia do que a maior parte dessas obras esotéricas.

Para os convencer disso, basta sair à rua… Mas não! É preferível exercitar os textos que pregam a mendicidade, como também as práticas, políticas e de uma sociedade hipócrita – a capitalista ofensiva.

Como nenhuma consequência prática acompanha as libertações dos capitalistas, não é de admirar que o último dos mendigos valha mais que eles todos juntos.

Poderia conceber-se o Buda fiel às suas verdades e aos palácios? Não se pode ser “liberto-vivo” e proprietário.

Insurjo-me contra a generalização da mentira, contra aqueles que ostentam a sua pretensa “salvação” e a esteiam numa doutrina que não emana do fundo do seu ser.

Desmascará-los, fazê-los descer do pedestal a que se alçaram, pô-los no pelourinho, eis uma campanha a que ninguém deveria ficar indiferente.

Porque é preciso, a todo o preço, impedir aqueles que têm demasiado boa consciência de viver e morrer em paz.

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