Das últimas aparições em público de Miguel Relvas
resultaram manifestações contra o Governo. A VISÃO foi ao ISCTE ouvir Grândola,
mas o filme foi outro... VEJA
O VÍDEO
É um longo minuto de improviso
facial, aquele que Miguel Relvas tem de representar, perante uma plateia cheia,
no Grande Auditório do ISCTE. À sua frente estão as máquinas que recolhem esta
imagem para a posteridade. Estão também umas largas dezenas de estudantes que
não param de gritar "demissão" e "está na hora de o Governo se
ir embora". Os olhos do ministro cruzam-se com os dos outros ilustres
convidados: o embaixador de Espanha, o consultor do Presidente da República,
Fernando Lima. Relvas parece suspenso, tal como o seu sorriso.
São
17 horas e 43 minutos de terça-feira, 19 de fevereiro. O ministro entrou na
sala há, exactamente, 10 minutos. E pôde logo perceber onde estava metido. A
sala encheu-se por ele, não tanto pela conferência Como vai ser o jornalismo
nos próximos 20 anos, organizada pela TVI e pelo ISCTE. A plateia central está
apinhada, quando o ministro-adjunto de Passos Coelho entra, precedido pelas
câmaras de TV. Os estudantes foram entrando, em grupos de dez, mais coisa menos
coisa, em levas espaçadas. Os últimos chegam à sala quase em simultâneo com
Relvas. E recebem-no de pé, com cartazes e palavras de ordem: "Vai estudaR
Relvas", "Para os bancos vão milhões, para o ensino só tostões",
"Este Governo não tem educação, bolsas sim, propinas não" (este
último um clássico da luta contra as propinas que se iniciou há, precisamente,
20 anos).
É
José Alberto Carvalho quem tenta pôr fim ao limbo de Relvas. O jornalista da
TVI sobe ao palco e acena para a plateia. Pede um minuto. Não lho concedem.
Sobe ao palco Rosa Cullel, ex-jornalista do El Pais, atual
administradora-delegada da Mediacapital, dona da TVI. Toca no ombro de Relvas e
sugere-lhe que se cancele aquela cerimónia de encerramento. Relvas liberta-se,
por instantes, e a sua cara alivia-se. Acena com a cabeça e mostra um ar
compreensivo. Dobra as folhas do discurso e sai do palco, entre aplausos e
apupos na sala. José Alberto Carvalho fica no palanque.
E
tudo começa a correr ainda pior...
Empurrões
e aflição
O
ministro despede-se, três minutos depois de subir ao palco, e procura sair da
sala em passo apressado. Os seguranças precedem-no. Mas não sabem como sair
daquela zona, numa cave do edifício 2 do ISCTE. Os estudantes seguem-nos.
A
equipa de seguranças de Relvas escolhe um corredor à direita, que não tem
saída. Tem de recuar, de punhos fechados, empurrando quem se encontra à frente.
Repete o mesmo erro no corredor seguinte, que é apenas um U que vai dar,
irritantemente, ao átrio onde estão os estudantes, os cartazes e os
jornalistas. Aí, a confusão é total. Todos estão ombro a ombro. Um estudante
aproxima um cartaz da cara do ministro. Os seguranças abraçam Relvas que está
lívido, sem expressão. O ministro vai num andor, frágil, humano, acossado.
Levam-no
em corrida por uma rampa. Um dos seguranças cobre a retirada deixando-se ficar
para trás e, de costas para os perseguidores, abre os braços e as pernas entre
a ombreira, contendo o embate. Quando Relvas já passou a porta seguinte, o
segurança segue-o. Os manifestantes vão atrás. Mas já não passam a última
porta, entreaberta, que os seguranças (três), defendem com murros e empurrões.
Ali
ficarão.
Os
manifestantes concentram-se agora na porta da garagem. Esperarão pouco mais de
10 minutos, ali, com os seus cartazes e faixas. A polícia chegara, entretanto,
e organizara-se em cordão. Um carro cinzento, de vidros fumados entra e sai, às
18 e 03, com o ministro lá dentro.
Só
então se começa a ouvir: "Grândola vila morena, terra da
fraternidade..."
Era
a música que todos esperavam.
Mas
Relvas já não a ouve. Nem se ri, enquanto trauteia a senha de José Afonso para
o 25 de Abril, como aconteceu na véspera, em Gaia, quando foi interrompido,
enquanto falava de exportações, numa reunião do Clube dos Pensadores.
Paulo
Portas também estava na lista de conferencistas da TVI, no ISCTE. Telefonou, de
manhã, a dizer que não podia ir, por estar doente.
Em
menos de 24 horas, esta foi a segunda flash mob com que Relvas se esbarrou. E,
desta vez, nem conseguiu falar. Faltam 10 dias para a manifestação de 2 de
março. E a contestação já conseguiu silenciar um dos seus alvos. Que, por isso,
fica ainda mais vulnerável.
=Visão=
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