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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

«AS GRANDES DÚVIDAS…»



“Se o Sol e a Lua começassem a duvidar, apagar-se-iam no mesmo instante” (Blake).

A Europa duvida desde há muito… E se o seu eclipse nos confunde, os americanos e os russos contemplam-no com serenidade ou com alegria.

A América ergue-se diante do mundo como um nada impetuoso, com uma  fatalidade sem substância. Nada a predispunha para a hegemonia.

No entanto, é para ela que tende, não sem algumas hesitações.

Ao contrário das outras nações, que tiveram de sofrer toda uma série de humilhações e derrotas, a América apenas conheceu até aqui a esterilidade de uma sorte ininterrupta.

Se no futuro tudo lhe continuar a sair igualmente bem, o seu aparecimento terá sido um acidente sem importância. Os que presidem aos seus destinos, os que levam a peito os seus interesses, deveriam preparar-lhes dias maus; para deixar de ser um monstro superficial, tem necessidade de uma provação de envergadura.

Depois de ter vivido até hoje fora do inferno, prepara-se para descer até ele. Se quiser procurar um destino, só o poderá encontrar na ruína de tudo o que foi a sua razão de ser.

Quanto à Rússia, não se pode examinar o seu passado sem um calafrio, um assombro de qualidade.

Passado surdo, cheio de expectativa, de ansiedade subterrãnea, passado de toupeiras iluminadas. A irrupção dos russos fará tremer as nações; começaram já por introduzir o absoluto na política.

É esse o desafio que lançam a uma humanidade atormentada pelas dúvidas e à qual não hesitarão em vibrar o golpe de misericórdia. Se nós já não temos alma, eles têm-na para dar e vender.

Próximos das suas origens, desse universo afectivo em que o espírito adere ainda à terra, ao sangue, à carne, sentem aquilo que pensam; as suas verdades, como os seus erros, são sensações, estimulantes, actos.

De facto, não pensam, explodem. Ainda no estádio em que a inteligência não atenua nem dissolve as obsessões, ignoram os efeitos nocivos da reflexão, bem como essas agruras da consciência que a tornam factor de desenraizamento e de anemia.

Portanto, podem avançar tranquilamente. Que têm pela frente senão um mundo linfático? Nada á sua frente, nada de vivo que lhes possa barrar o caminho, nenhum onstáculo: não foi um deles o primeiro a empregar, em pleno século XIX, a palavra “cemitério” a propósito do Ocidente?

Em breve chegarão em massa para visitar os despojos. Os seus passos são já perceptíveis pelos ouvidos delicados. Quem poderia opor às suas superstições em marcha sequer um simulacro de certeza?

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