Sócrates não viu a crise chegar e perto do fim do seu
consulado planeava aliar-se ao PSD, conta Mário Soares na biografia Uma
Vida.José Sócrates festejou a derrota de Manuel Alegre nas presidenciais de
2011 e estava a ponderar uma aliança com o PSD, pouco tempo antes de os
sociais-democratas chumbarem o PEC IV. São factos revelados por Mário Soares em
entrevistas a Joaquim Vieira, autor da biografia Mário Soares – Uma Vida, ontem
posta à venda.
A
euforia de Sócrates com a derrota nas presidenciais de 23 de Janeiro de 2011
chocou Soares, apesar de este estar então de relações cortadas com Alegre. O
antigo Presidente da República recorda a conversa com Sócrates nestes termos:
«No dia seguinte à vitória do Cavaco, chamou-me lá [à residência oficial]. Eu
chego e o gajo estava radiante, bem-disposto. E a primeira coisa que diz foi:
‘Ó Mário, acabámos com aquele [insulto]’. E eu disse: ‘Eh pá, não gosto disso».
Na
ocasião Soares também desaprovou a nova táctica do primeiro-ministro, que após
celebrar a derrota definitiva do rival planeava «uma grande aproximação aos
gajos do PSD». O fundador do PS entendeu que o chefe do Governo já não tinha
estratégia e navegava à vista. «‘Ó Sócrates, eu acho que você tem grandes
méritos. Mas não pode continuar a fazer buracos, porque você anda a tapar
buracos».
Em
relação à crise, Sócrates manteve-se em negação. «Não percebeu a crise senão no
fim, ou quase no fim», conta Soares, referindo-se a mais uma conversa tida em
S. Bento. «Estive toda a manhã a discutir com ele. Nunca o vi tão irritado, não
comigo mas com a situação. Não queria por força que viesse a coisa [o resgate
internacional]».
O
livro de 851 páginas, editado pela Esfera dos Livros, conta os mais de 70 anos
de vida política de Soares. Nas conversas entre o autor e o biografado
mantém-se «o tom desabrido, com recurso ao calão e até, ocasionalmente, ao
vernáculo com que o fundador do PS falou». Joaquim Vieira explica que decidiu
não alterar a «linguagem habitualmente praticada por Soares no quotidiano».
As
presidenciais são capítulos férteis em revelações.
Nas últimas em que Soares se candidatou, contra Cavaco Silva, em 2006, o socialista conta que foi incentivado a avançar por diversas figuras da esquerda.
Como Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, o dirigente do PCP Domingos Abrantes e o líder do BE, Francisco Louçã. «Procuraram-me, separadamente, claro, por diversas vezes, na Fundação [Mário Soares], para me incitar a candidatar-me, embora me dissessem sempre que na primeira volta apresentariam candidatos próprios».
Nas últimas em que Soares se candidatou, contra Cavaco Silva, em 2006, o socialista conta que foi incentivado a avançar por diversas figuras da esquerda.
Como Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, o dirigente do PCP Domingos Abrantes e o líder do BE, Francisco Louçã. «Procuraram-me, separadamente, claro, por diversas vezes, na Fundação [Mário Soares], para me incitar a candidatar-me, embora me dissessem sempre que na primeira volta apresentariam candidatos próprios».
Soares
avançou também porque achava Alegre inapto para candidato oficial do PS.
«Sócrates nunca gostou do Alegre, e eu achava que ele não tinha nenhuma espécie
de condições para ser Presidente. Eu posso ser amigo de um tipo, mas não quer
dizer que apoie as asneiras que faça», explica.
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