Forma de agir e pensar contra si próprio.
Devemos a quase totalidade das nossas
descobertas às nossas violências, à exacerbação do nosso desequilíbrio
Um candidato depois de eleito pode imagina-se
um “deus”, na medida em que nos intriga, não é o mais ínfimo de nós que o
discernimos, mas antes no limite exterior da nossa febre, no ponto preciso em
que, confrontando-se a nossa ira com a sua, se produz um choque, um encontro
tão ruinoso para eles como para nós. Eles – candidatos eleitos.
Ferido pela maldição que se liga aos actos, o
violento só força a sua natureza, só se ultrapassa a sai próprio, para a ela
regressar, furioso e agressor, seguido pelas suas empresas, que o punem por as
ter feito nascer.
Não há “obra” que não se volte contra o seu
autor: o poema esmagará o poeta, o sistema
o filósofo, o acontecimento o homem de acção, a política aquele que se
designa a si mesmo de político.
Destrói-se quem, respondendo à sua vocação e
cumprindo-a, mentindo e no seio da corrupção, se agita no interior da história:
apenas se salva aquele que sacrifica dons e talentos para, desprendido da sua
qualidade de homem, puder repousar no ser.
Se aspiro a uma carreira metafísica, não
posso por preço algum conservar a minha identidade: terei de liquidar o menor
resíduo que dela possa guardar; se, pelo contrário, escolho a aventura de um
papel histórico, a tarefa que me cabe é a de exasperar as minhas faculdades até
explodir eu próprio com elas. Parece-se sempre que pelo eu que se assume: ter
um nome é reivindicar um modo preciso de ruína.
Fiel às suas aparências, o violento não se
desencoraja, recomeça e obstina-se, já que não pode dispensar-se de sofrer.
Empenha-se em perder os outros? É o desvio
que toma para chegar à suua própria perda.
Sob o seu ar seguro, sob as suas bravatas,
esconde-se um apaixonado da desgraça.
Assim, é entre os violentos que encontramos
os inimigos de si próprios. E todos nós somos violentos, seres enraivecidos
que, tendo perdido a chave da quietude, já não têm acesso aos segredos da
dilaceração.
Em vez de deixarmos que o tempo nos
triturasse lentamente, preferimos reforçá-lo, acrescentar aos seus os nossos
instantes. Este tempo recente, enxertado no antigo, este tempo elaborado e
projectado, revelaria em breve a sua virulência: objectivando-se, tornar-se-ia
história, monstro por nós lançado contra nós, fatalidade a que é impossível
escapar, ainda que recorrendo às formas da passividade ou às receitas da
sabedoria.
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