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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

«RECORDAÇÕES…»

















Lembro-me de um pobre tipo que, ficando na cama até uma hora adiantada da manhã, se dirigia a si próprio em tom imperativo: “Quer! Quer!” A comédia repetia-se todos os dias: ele impunha-se uma tarefa que não podia cumprir.

Pelo menos, agindo contra o fantasma que ele próprio era, desprezava as delícias da sua letargia.

Não poderíamos dizer o mesmo da Europa: tendo descoberto, após todos os seus esforços, o reino do não-querer, rejubila, porque sabe agora que a sua perda contém um princípio de volúpia do qual entende beneficiar.

O abandono enfeitiça-a e cumula-a. O tempo continua a correr? Não se alarma com isso; os outros que se ocupem do caso; o problema é deles: nem sonham que alívio pode ser atolar-se num presente que não conduz a lado algum…

Aqui viver é a morte; alhures, o suicídio.Para onde ir? A única parte do planeta onde a existência parecia ter alguma justificação cobriu-se de gangrena. Esses povos arquicivilizados são os nossos fornecedores de desespero. Para desesperar, basta olhá-los, observar o comportamento do seu espírito e a indigência das suas cobiças enfraquecidas e quase extintas.

Depois de terem pecado por muito tempo contra a sua origem e desprezado o selvagem, a horda – seu ponto de partida – é-lhes forçoso constatar que já não têm a mínima gota de sangue huno.

O historiador antigo que dizia de Roma que ela já não era capaz de suportar nem os seus vícios nem os seus remédios, definiu menos a sua época do que antecipou a nossa.

Era grande, sem dúvida, o cansaço do Império, mas, desordenado e inventivo, esse cansaço sabia ainda, ao menos, cultivar o ciniswmo, o fausto e a ferocidade, enquanto o cansaço de que somos espectadores não possui, na sua rigorosa mediocridade, nenhum prestígio criador de ilusão.

Demasiado flagrantes, demasiado certo, evoca um mal cujo automatismo inelutável tranquilizasse paradoxalmente o paciente e o médico: agonia em boa e devida forma, exacta como um contrato, agonia estipulada, sem caprichos nem dilacerações, à medida de povos que, recusam também aquilo que a justifica e fundamenta: o preconceito do devir.

Entrada colectiva no vazio! Mas não nos enganemos: este vazio, em tudo diferente daquele que o budismo qualifica como “sede da verdade”, não é nem realização nem libertação, nem positividade expressa em termos negativos, nem também esforço de meditação, vontade de despojamento e de nudez, conquista da salvação, mas deslizar sem nobreza e sem paixão.

Resultado de uma metafísica anémica, este vazio não pode sem nem recompensa de uma busca nem o coroamento de uma inquietação.

O Oriente avança na direcção do seu vazio, nele se consuma e triunfa, ao passo que nós nos atolamos no nosso e nele perdemos os nossos últimos recursos.

Decididamente, tudo se degrada e corrompe nas nossas consciências: o próprio vazio é nelas impuro.


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