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domingo, 3 de fevereiro de 2013

«O SER SOCIAL E AS MÁQUINAS»


Do primeiro círculo guardamos portanto a deambulação,. O nomadismo involuntário, o abandono, a negação da dignidade e a tirania radical de um corpo reduzido à sua expressão mais simples.

Desejos em estado puro, brutais e violentos, primitivos e dirigidos a Tanatos, necessidades incendescentes que devem ser satisfeitas se não se deseja morrer – os famosos desejos naturais e necessários de Epícuro.

Danados, abandonados, perdidos, afloram a morte todos os dias, vivem com ela, lutam contra ela. O seu triunfo no quotidiano transmite a cada momento o sinal de que ainda podem viver, como se concede uma esmola, com uma precária parcimónia,, suportando uma lâmina atrás da cabeça, pronta a cair a qualquer momento.

Deixemos este primeiro círculo cuja população os sociólogos poderiam contabilizar e indicar qual a relação numérica que estabelece com a do segundo círculo.

No conjunto infernal a progressão regista-se de forma exponencial. Demasiados danados, mas mais ainda de rejeitados, que defino, mais uma vez, na relação que estabelecem com o Levitã: os primeiros são as rejeições, os dejectos, os segundos são os sintomas da patologia do corpo social, os que estão em equilíbrio, prontos a cair, deixando de lado a incerteza do seu círculo para cairem no primeiro, o da danação, ou no terceiro, cuja natureza indicarei adiante.

Rejeitados, portanto. São os sintomas de uma patologia, pois mostram uma fragilidade, uma precaridade topológica entre a doença social mortífera e a doença crónica, assimilada ao proletariado.

A pauperização define os contornos da dinâmica que rege a ordem destes círculos, os seus entrelaçamentos, separações, pontos de junção, de fricção e de comunicação.

Beneficiários de uma prorrogação, ainda não condenados como os primeiros, os rejeitados podem ainda esperar obter um lugar, mesmo modesto, no mundo dos proletários que fornece a grande maioria dos inquilinos do último círculo deste inferno miserável.

Em que pecaram, esses bodes expiatórios de um corpo social preocupado com a eficiência e a rentabilidade?

De term enveredado naturalmente, volutária ou involuntariamente, pouco importa se sob a influência de tropismos hereditários ou de vontades deliberadas, pelos caminhos de viés, pelas vias oblíquas que desobedecem ao ideal que o levitã formulou para si próprio: juventude, saúde, razão e moralidade. Dir-se-ia a entrada para uma empreitada da juventude pétainista.

Quatro virtudes cardeais que o corpo social não suporta ver transgredidas. Pecado contra a religião social, insulto desferido ao narcisismo do Levitã, que celebra as suas próprias imagens, missão, um enfeudamento sem falha.

Se não, é a imobilização, o encerramento, a marginalização.



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