Do
primeiro círculo guardamos portanto a deambulação,. O nomadismo involuntário, o
abandono, a negação da dignidade e a tirania radical de um corpo reduzido à sua
expressão mais simples.
Desejos
em estado puro, brutais e violentos, primitivos e dirigidos a Tanatos,
necessidades incendescentes que devem ser satisfeitas se não se deseja morrer –
os famosos desejos naturais e necessários de Epícuro.
Danados,
abandonados, perdidos, afloram a morte todos os dias, vivem com ela, lutam
contra ela. O seu triunfo no quotidiano transmite a cada momento o sinal de que
ainda podem viver, como se concede uma esmola, com uma precária parcimónia,,
suportando uma lâmina atrás da cabeça, pronta a cair a qualquer momento.
Deixemos
este primeiro círculo cuja população os sociólogos poderiam contabilizar e
indicar qual a relação numérica que estabelece com a do segundo círculo.
No
conjunto infernal a progressão regista-se de forma exponencial. Demasiados
danados, mas mais ainda de rejeitados, que defino, mais uma vez, na relação que
estabelecem com o Levitã: os primeiros são as rejeições, os dejectos, os
segundos são os sintomas da patologia do corpo social, os que estão em
equilíbrio, prontos a cair, deixando de lado a incerteza do seu círculo para
cairem no primeiro, o da danação, ou no terceiro, cuja natureza indicarei
adiante.
Rejeitados,
portanto. São os sintomas de uma patologia, pois mostram uma fragilidade, uma
precaridade topológica entre a doença social mortífera e a doença crónica,
assimilada ao proletariado.
A
pauperização define os contornos da dinâmica que rege a ordem destes círculos,
os seus entrelaçamentos, separações, pontos de junção, de fricção e de
comunicação.
Beneficiários
de uma prorrogação, ainda não condenados como os primeiros, os rejeitados podem
ainda esperar obter um lugar, mesmo modesto, no mundo dos proletários que
fornece a grande maioria dos inquilinos do último círculo deste inferno
miserável.
Em
que pecaram, esses bodes expiatórios de um corpo social preocupado com a
eficiência e a rentabilidade?
De
term enveredado naturalmente, volutária ou involuntariamente, pouco importa se
sob a influência de tropismos hereditários ou de vontades deliberadas, pelos
caminhos de viés, pelas vias oblíquas que desobedecem ao ideal que o levitã
formulou para si próprio: juventude, saúde, razão e moralidade. Dir-se-ia a
entrada para uma empreitada da juventude pétainista.
Quatro
virtudes cardeais que o corpo social não suporta ver transgredidas. Pecado
contra a religião social, insulto desferido ao narcisismo do Levitã, que
celebra as suas próprias imagens, missão, um enfeudamento sem falha.
Se
não, é a imobilização, o encerramento, a marginalização.
Sem comentários:
Enviar um comentário