Leis sobre
Enquadramento Orçamental e reforço dos reguladores foram acertadas previamente
no Terreiro do Paço, em reuniões discretas.
A
revelação foi feita em directo, já a noite ia longa no Prós e Contras da RTP.
«Tem havido reuniões regulares de alguns membros do Governo com alguns membros
do PS em circunstâncias específicas. São reuniões em que temas como este [o
corte de quatro mil milhões na despesa] seguramente serão abordados», disse
Hélder Rosalino, para espanto dos presentes.
A
afirmação do secretário de Estado da Administração Pública tinha implícito um
compromisso: o Governo falará com o PS sobre os cortes antes de os formalizar.
E também uma certa indiscrição, com conhecimento de causa: Vítor Gaspar tem
chamado o PS ao Terreiro do Paço para abordagens preventivas em documentos onde
o acordo político alargado é visto como indispensável pelo ministro.
Segundo
fontes do Governo e do PS, consultadas pelo SOL, só no último mês e meio houve
pelo menos dois destes encontros discretos nas Finanças. O primeiro para se
chegar a acordo sobre a Lei de Enquadramento Orçamental, o segundo sobre a nova
legislação com os reguladores.
No
caso da Lei de Enquadramento – onde está a famosa «regra de ouro» que limita a
evolução do défice e dívida pública –, a negociação foi minuciosa. Esta
quarta-feira, no plenário, quando Vítor Gaspar foi defender a lei, os
socialistas destacaram os pontos que lhes mereciam crítica. Gaspar rapidamente
acedeu a todas, que já conhecia. Até àquela que o ministro tinha por mais
sensível: a que prevê o pagamento prioritário aos credores externos, sobre
todas as outras dívidas do Estado.
«Portugal,
como fez a Espanha, quer tornar explícita a prioridade ao serviço da dívida, o
que é favorável a reganhar crédito no acesso aos mercados. Mas se isso for
obstáculo ao consenso, temos abertura» para reconsiderar, disse o ministro.
O
debate acabou, aliás, com Gaspar a ir cumprimentar a bancada socialista, que
não por acaso tinha disparado várias críticas ao ministro – num tema onde a
bancada, uma vez mais, se divide profundamente.
Diálogo parlamentar suspenso
A
segunda matéria onde já houve contactos informais ainda não foi sequer aprovada
em Conselho de Ministros. Trata das novas regras que pretendem reforçar os
reguladores sectoriais (com excepção do Banco de Portugal e Entidade Reguladora
para a Comunicação Social). Gaspar pretende obrigar todos a uma audição prévia
na Assembleia e reforçar os seus poderes. O PS já avisou que há um ponto que
não aceita: dar poder de veto aos presidentes nomeados, numa equipa de cinco
administradores. A questão está, agora em decisão nas Finanças.
Quanto
ao diálogo parlamentar entre a maioria e o PS, está suspenso pela recusa
socialista em integrar a comissão eventual sobre a reforma do Estado. Ontem,
face à recusa da Presidente da Assembleia em dar posse a tal comissão, o líder
parlamentar do PSD disse que voltará à carga sobre o tema na conferência de
líderes da próxima semana.
Segundo
apurou o SOL, a maioria admite colocar essa discussão em uma de duas comissões
já existentes: a do Orçamento ou a da troika. Qualquer delas é liderada por
socialistas: Vieira da Silva e Eduardo Cabrita.
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