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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

«COMO ESCREVER A UM AMIGO»


É um presente doce e inesperado – a nossa letra, um envelope que não contém contas nem avisos, facturas ou outras para pagar, avisos das Finanças para cobrança de impostos, que, nos tempos que correm, são muito frequentes, ou então publicidade elaborada a rigor para ver se nos conseguem cravar; colocada na caixa do correio da pessoa a quem é dirigida e que, ao regressar a casa, cansada depois de um dia passado no meio de selvagens e ruídos bárbaros de patrões ou chefes incompetentes, as nossas palavras serão como um bálsamo.

Não têm de ser transcendentes, apenas sinceras; serão lidas hoje, relidas amanhã, sobretudo quando se é alguém a quem se quer de forma especial, em quem se pensa muitas vezes e se imagina a sua presença.

O primeiro passo a dar para escrever uma carta, é ultrapassar o sentimento de culpa por não ter escrito antes. Mas, será que “devemos” uma carta a alguém?

A vergonha que sentimos ao ver correspondência por responder torna difícil pegarmos na esferográfica e dá origem, quando finalmente o fazemos, a uma carta formal e, por vezes, sem qualquer interesse.

Tal como aquelas palavras que os políticos dizem para um micro, de um reportes de uma estação televisiva, que logo serão negadas se assim lhe convier. Os senhores jornalistas é que não compreenderam o que ele pretendeu dizer, houve uma má interpretação, que levou a que todos os que ouviram o que disse a “errar” na interpretaçaão, tal como aconteceu, por exemplo, com as palavras proferidas por Fernando Ulrich em relação aos sem-abrigo e aos outros cidadãos, que são constantemente espoliados do que lhes pertence pelos senhores governantes, para combaterem a “crise” em que outros grandes cidadãos colocaram o país.

Algumas das melhores cartas irrompem de um surto de inspiração, pelo que todos devem ter sempre á mão papel e canetas, num sítio onde possa sentar-se por uns minutos e rabiscar uma nota, mas também subscritos, selos, livros de endereços…

A Internet, é verdade, veio roubar muito as cartas enviadas pelos correios, uma vez que se pode enviar mensagens, assim como através de telemóveis e seus SMS ou outras.

Permita-se-me dar um exemplo de como se deve começar uma carta. Suponhamos que se pretende escrever a um político, sobretudo um que não mereça o nosso apreço, causa pela qual se sente uma espécie de revolta interior, mas devendo saber manter-se a dignidade que ele, ou eles, nos negam sistematicamente.

Caro senhor (respire fundo e mergulhe. Comece por uma simples afirmação, pela constatação de um facto, pois tudo o resto virá naturalmente, como se estivessem a conversar. Não se preocupem com a gramática, com o acordo ortográfico, nem pense no estilo. Vá directo ao assunto).

Caro senhor Pedro (por exemplo):

Tenho constatado que se tem preocupado, talvez demasiadamente, com a “crise”, causando graves efeitos danosos ao povo português, do qual faço parte integrante – com muita honra – e que não tem respeitado – a meu ver – a Constituição – nomeada e designadamente no que respeita aos sucessivos cortes nos salários e nos subsídios (de férias e de Natal), e que também se tem preocupado em dividir os portugueses, concedendo aos que exercem a sua profissão no sector privado regalias que retirou aos que o fazem no sector público, com o qual pretende acabar, e que demonstra com o seu comportamento, mas também com a sua fraseologia, “custe o que custar” e “doa a quem doer” – e isto são meros exemplos de como se comporta no quotidiano, mesmo para com aqueles que votaram em si (aqui, os bajuladores usariam V. Execelência – talvez), fazendo com que os portugueses se sintam cada vez mais à nora para fazerem face ao custo de vida, vendo-se em muitos casos obrigados a recorrer a instituições de solidariedade social para poderem fazer uma refeição diária. (Convém dar sempre uns exemplos).

E, conseguida a corrente de ideias, é só deixar que a esferográfica continue a escrever, tal como deve acontecer com as teclas do computador. Depois, dobra-se a folha A4 em duas ou mais partes, mete-se no envelope, cola-se-lhe um selo, e faz-se seguir, ou então, usando a net, copiar e colar, seguido de enviar.

Isto porque não podemos pegar no telefone e ligar para o senhor Pedro, por exemplo – que até se não encontra no seu gabinete ou mesmo no país. Temos de o fazer através de uma folha de papel ou pela Internet. A carta pode ter uma vantagem. Se não for rasgada e enviada para o caixote do lixo, poderá ser elida daqui a uns tempos, sobretudo quando o senhor Pedro já se não encontrar no poder e queira fazer uma retrospectiva e senir-se arrependido de todo o mal que tem feito aos portugueses de menores recursos.

A escolha deve ser sempre de cada um!



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