É um presente doce e inesperado – a nossa letra, um
envelope que não contém contas nem avisos, facturas ou outras para pagar,
avisos das Finanças para cobrança de impostos, que, nos tempos que correm, são
muito frequentes, ou então publicidade elaborada a rigor para ver se nos
conseguem cravar; colocada na caixa do correio da pessoa a quem é dirigida e
que, ao regressar a casa, cansada depois de um dia passado no meio de selvagens
e ruídos bárbaros de patrões ou chefes incompetentes, as nossas palavras serão
como um bálsamo.
Não têm de ser transcendentes, apenas sinceras; serão
lidas hoje, relidas amanhã, sobretudo quando se é alguém a quem se quer de
forma especial, em quem se pensa muitas vezes e se imagina a sua presença.
O primeiro passo a dar para escrever uma carta, é ultrapassar
o sentimento de culpa por não ter escrito antes. Mas, será que “devemos” uma
carta a alguém?
A vergonha que sentimos ao ver correspondência por
responder torna difícil pegarmos na esferográfica e dá origem, quando
finalmente o fazemos, a uma carta formal e, por vezes, sem qualquer interesse.
Tal como aquelas palavras que os políticos dizem para um
micro, de um reportes de uma estação televisiva, que logo serão negadas se
assim lhe convier. Os senhores jornalistas é que não compreenderam o que ele
pretendeu dizer, houve uma má interpretação, que levou a que todos os que
ouviram o que disse a “errar” na interpretaçaão, tal como aconteceu, por
exemplo, com as palavras proferidas por Fernando Ulrich em relação aos
sem-abrigo e aos outros cidadãos, que são constantemente espoliados do que lhes
pertence pelos senhores governantes, para combaterem a “crise” em que outros
grandes cidadãos colocaram o país.
Algumas das melhores cartas irrompem de um surto de
inspiração, pelo que todos devem ter sempre á mão papel e canetas, num sítio
onde possa sentar-se por uns minutos e rabiscar uma nota, mas também
subscritos, selos, livros de endereços…
A Internet, é verdade, veio roubar muito as cartas
enviadas pelos correios, uma vez que se pode enviar mensagens, assim como
através de telemóveis e seus SMS ou outras.
Permita-se-me dar um exemplo de como se deve começar uma
carta. Suponhamos que se pretende escrever a um político, sobretudo um que não
mereça o nosso apreço, causa pela qual se sente uma espécie de revolta
interior, mas devendo saber manter-se a dignidade que ele, ou eles, nos negam
sistematicamente.
Caro senhor (respire fundo e mergulhe. Comece por uma
simples afirmação, pela constatação de um facto, pois tudo o resto virá
naturalmente, como se estivessem a conversar. Não se preocupem com a gramática,
com o acordo ortográfico, nem pense no estilo. Vá directo ao assunto).
Caro senhor Pedro (por exemplo):
Tenho constatado que se tem preocupado, talvez
demasiadamente, com a “crise”, causando graves efeitos danosos ao povo
português, do qual faço parte integrante – com muita honra – e que não tem
respeitado – a meu ver – a Constituição – nomeada e designadamente no que
respeita aos sucessivos cortes nos salários e nos subsídios (de férias e de
Natal), e que também se tem preocupado em dividir os portugueses, concedendo
aos que exercem a sua profissão no sector privado regalias que retirou aos que
o fazem no sector público, com o qual pretende acabar, e que demonstra com o
seu comportamento, mas também com a sua fraseologia, “custe o que custar” e “doa
a quem doer” – e isto são meros exemplos de como se comporta no quotidiano,
mesmo para com aqueles que votaram em si (aqui, os bajuladores usariam V.
Execelência – talvez), fazendo com que os portugueses se sintam cada vez mais à
nora para fazerem face ao custo de vida, vendo-se em muitos casos obrigados a
recorrer a instituições de solidariedade social para poderem fazer uma refeição
diária. (Convém dar sempre uns exemplos).
E, conseguida a corrente de ideias, é só deixar que a
esferográfica continue a escrever, tal como deve acontecer com as teclas do
computador. Depois, dobra-se a folha A4 em duas ou mais partes, mete-se no
envelope, cola-se-lhe um selo, e faz-se seguir, ou então, usando a net, copiar
e colar, seguido de enviar.
Isto porque não podemos pegar no telefone e ligar para o
senhor Pedro, por exemplo – que até se não encontra no seu gabinete ou mesmo no
país. Temos de o fazer através de uma folha de papel ou pela Internet. A carta
pode ter uma vantagem. Se não for rasgada e enviada para o caixote do lixo,
poderá ser elida daqui a uns tempos, sobretudo quando o senhor Pedro já se não
encontrar no poder e queira fazer uma retrospectiva e senir-se arrependido de
todo o mal que tem feito aos portugueses de menores recursos.
A escolha deve ser sempre de cada um!
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