Uma pátria é um soporífero de todos os instante.
Nunca invejarei – ou lamentarei – bastante os portugueses
por a não terem, isto é, por a verem cada vez mais em mãos estrangeiras e
alheias, uma espécie d pátria provisória, como é, infelizmente, o caso da “Lusitânia”.
Façam o que fizerem, vão para onde forem, a sua missão é
pagar; assim o quer o seu imemorial estatudo de estrangeiros, mas também de
nacionais que, cá dentro ou lá fora, devem pagar sempre pelos erros cometidos
por aqueles que deveriam dar bons exemplos de seriedade. Será que existirá uma
solução para a sua sorte?
Restam as contemporizações com o irreparável.
Até aqui, nada de melhor puderam ainda fazer ou
encontrar. É uma situação que irá durar até ao fim dos tempos. E a ela ficarão
os portugueses a dever a pouca sorte de jamais perecerem…
Em suma, embora agarrados a este mundo, os portugueses
não fazem, realmente, parte dele: há qualquer coisa de não-terrestre na sua
passagem pela Terra.
Terão eles sido no passado remoto testemunhas de um
espectáculo de beatitude cuja nostalgia conservam?
Virá daí toda essa “saudade” expressa no fado?
Mas, que poderão eles então podido ver, que se esquiva às
nossas percepções?
A sua tendência para a utopia não passa de uma recordação
projectada no futuro, de um vestígio convertido em ideal. Mas cabe-lhes em
sorte, enquanto aspiram ao Paraíso, tropeçar sem fim e irem de encontro à
desgraça?
A seu modo elegíacos, entregam-se ao lamento, acreditam
nele, cantam-no, convertem-no numm estimulante, num auxiliar, num meio de
reconquistarem, tomando a História por atalho, a sua beatitude primeira e mais
antiga.
É na direcção desta que se precipitam, é no seu encalço
que hoje correm.
E a corrida empresta-lhes um ar ao mesmo tempo espectral
e triunfante que nos aterra e seduz, seres tolhidos que somos, de antemão
resignados a um destino banal e para sempre incapazes de crer no futuro dos
nossos remorsos.
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