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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

«UMA SOCIEDADE ESGOTADA»



Aquele que pertence organicamente a uma sociedade, não pode identificar a natureza do mal que a mina. O seu diagnóstico pouco ou nada conta; o juízo que fizer sobre ela, implicá-lo-á; poupá-la-á por egoísmo.

Mais desprendido,mais livre, o cidadão comum examina sem cálculo e apreende melhor as falhas. Se a sociedade se perder, aceitará, se necessário, perder-se também, atestar nela e em si próprio os efeitos do fatum.

Remédios, não os possui nem os propõe. Como sabe que não se cura o destino, não se arvora em curandeiro junto de ninguém. A sua única ambição: estar à altura do Incurável...!

Perante a acumulação dos seus sucessos, os países do Ocidente não tiveram dificuldade emexaltar a História, em atribuir-lhe um significado e uma finalidade. Ela pertencia-lhes, eram eles os seus agentes: a História devia, por isso, seguir uma via racional…

Colocaram-na, assim, sucessivamente, sob os auspícios da Providência, da Razão e do Progresso. Faltava-lhes o sentido da fatalidade; começam enfim a adquiri-lo, aterrados pela ausência que os espreita, pela perspectiva do seu eclipse. De sujeitos, eis que se tornam objectos, para sempre despojados dessa irradiação, dessa admirável megalomania que até hoje os protegera contra o irreparável.

Hoje estão tão conscientes disso que medem a estupidez de um espírito pelo grau do seu apego aos acontecimentos. Nada mais normal, uma vez que os acontecimentos se passam noutro lado.

Só se sacrifica aos acontecimentos quando deles se conserva a iniciativa. Mas por pouco que se guarde a lembrança de uma antiga supremacia, continua ainda a sonhar-se ser grande, que mais não seja na desgraça.

A França, a Inglaterra, a Alemanha deixaram para trás o seu período de expansão e de loucura. É o fim da insensatez, o início das guerras defensivas, enquanto,por exemplo em Portugal se sonha e divaga sobre a competitividade com esses países, provocando, graças a uma megalomania renovada, a mortificação do povo.

Já não há aventura colectiva, já não há cidadãos, mas sim indivíduos pálidos e desenganados, prontos ainda a responder a uma utopia, porém sob a condição de esta chegar do exterior e de não terem que proceder ao esforço de a conceber.

Se outrora morriam pelo sem-sentido da glória, abandonam-se agora a um frenesim reivindicativo.

A “felicidade” tenta-os; é o seu último preconceito, a que esse pecado de optimismo de uma suposta social-democracia vai buscar a sua energia, e pretende submeter todo o povo a uma ideologia que não é a sua.

Preferir não ver, servir, entregar-se ao ridículo ou à estupidez de uma causa – extravagâncias de que já não são capazes.

Quando uma nação começa a envelhecer, tende para a condição de massa. Ainda que dispusesse de mil Napoleões ou de mil Salazares, não deixaria de se recusar a comprometer o seu repouso ou o dos outros.

Com reflexos vacilantes, quem aterrorizar e como? Se todos os povos se encontrassem no mesmo estádio de fossilização ou de cobardia, entender-se-iam facilmente: à insegurança sucederia a permanência de um pacto de cobardes…

Ora, o povo português foi oprimido, é-o ainda, mas nunca foi cobarde! E, apesar do que dizem, também nunca foi o melhor povo do mundo, e, penso, estar em condições de o demonstrar cabalmente, face a esses políticos dominantes que usam de má fé para com ele.

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