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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Quem conhece os bairros sociais?


Há dias perguntaram-me se conhecia alguém que conhecesse realmente, com toda a autenticidade a vida nos bairros pobres-sociais portugueses, particularmente da cidade do Porto. A minha resposta foi, ninguém.

Disse-o porque ninguém conhece ou sente, ninguém está totalmente integrado nesses ambientes nem com as pessoas que lá moram. Por vezes ouvem-se padres…

Por isso, quando alguém resolve dedilhar essa corda, oferece-nos uma melodia impressionante de nada. Ouvem-se políticos…

Li há tempos um conto que aflora esse assunto, a começar pelo enterro dum velho patriarca e depois uma sucessão de períodos trabalhados ao estilo pessoal, brindando-nos o seu autor uma dúzia de páginas escritas com o próprio ambiente e elemento humano que descreve, muito aproximadamente o que se passa nesses bairros pobres e problemáticos.

Não usa mais palavras que as necessárias. Tudo é curto, concreto e conciso. As reacções, os acontecimentos, a forma como as coisas acontecem, e tudo isso com uma espécie de cansaço que vem do anatema que só ele sabe constituir esa vida – um anatema que nada destrói e continuará a perseguir todos aqueles que vêm à luz do dia naqueles locais.

Ninguém pense que é uma história fácil, sendo até possível que alguns se enojem com ela e perguntem: «Para que escevem estas coisas?» Alguns sentem-se incomodados…

Mas, a realidade é que essas coisas precisam de ser escritas para que haja consciência delas e, sobretudo, para dar cabo da digestão àqueles eu tudo pintam cor-de-rosa, só por comodidade pessoal.

Como dizem os franceses, “ce n’est pas à coeur léger” que se pode contar como se transformam em verdadeiros guetos, onde é gerada a violência e serve de prato do dia, que alguns fogem quando lhes é solicitado auxílio, de imediato pensam em demoli-los para reconstruir novos que, pouco tempo depois estão iguais ou em pior estado que o anterior. Ove-se mais um padre.

Tudo tem um significado e quando – como agora – tento chamar a atenção para esse grave problema social, é porque embora menos, conheço também algumas coisas sobre bairros sociais que muitos preferem ignorar. O padre, agora, cala-se e fala de novo o político.

Chego a pensar, às vezes, como foi possível chegar a ponto tão precário do ponto de vista social e como podem as autoridades continuar a ignorar o que por lá se passa, sem que retome a decisão de nomear fiscais que velem pelos bairros sociais e deles zelem como se de propriedade sua. Fala o economista…

Por vezes, quando se acorda, pode ser demasiado tarde. Quem sabe se ouvindo essa própria gente as coisas poderiam melhorar? Ninguém responde, como sempre.

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