Há dias perguntaram-me se conhecia alguém que
conhecesse realmente, com toda a autenticidade a vida nos bairros
pobres-sociais portugueses, particularmente da cidade do Porto. A minha
resposta foi, ninguém.
Disse-o porque ninguém conhece ou sente, ninguém está
totalmente integrado nesses ambientes nem com as pessoas que lá moram. Por
vezes ouvem-se padres…
Por isso, quando alguém resolve dedilhar essa corda,
oferece-nos uma melodia impressionante de nada. Ouvem-se políticos…
Li há tempos um conto que aflora esse assunto, a
começar pelo enterro dum velho patriarca e depois uma sucessão de períodos
trabalhados ao estilo pessoal, brindando-nos o seu autor uma dúzia de páginas
escritas com o próprio ambiente e elemento humano que descreve, muito
aproximadamente o que se passa nesses bairros pobres e problemáticos.
Não usa mais palavras que as necessárias. Tudo é
curto, concreto e conciso. As reacções, os acontecimentos, a forma como as
coisas acontecem, e tudo isso com uma espécie de cansaço que vem do anatema que
só ele sabe constituir esa vida – um anatema que nada destrói e continuará a
perseguir todos aqueles que vêm à luz do dia naqueles locais.
Ninguém pense que é uma história fácil, sendo até
possível que alguns se enojem com ela e perguntem: «Para que escevem estas
coisas?» Alguns sentem-se incomodados…
Mas, a realidade é que essas coisas precisam de ser
escritas para que haja consciência delas e, sobretudo, para dar cabo da
digestão àqueles eu tudo pintam cor-de-rosa, só por comodidade pessoal.
Como dizem os franceses, “ce n’est pas à coeur léger”
que se pode contar como se transformam em verdadeiros guetos, onde é gerada a
violência e serve de prato do dia, que alguns fogem quando lhes é solicitado
auxílio, de imediato pensam em demoli-los para reconstruir novos que, pouco
tempo depois estão iguais ou em pior estado que o anterior. Ove-se mais um
padre.
Tudo tem um significado e quando – como agora – tento
chamar a atenção para esse grave problema social, é porque embora menos,
conheço também algumas coisas sobre bairros sociais que muitos preferem ignorar.
O padre, agora, cala-se e fala de novo o político.
Chego a pensar, às vezes, como foi possível chegar a
ponto tão precário do ponto de vista social e como podem as autoridades
continuar a ignorar o que por lá se passa, sem que retome a decisão de nomear
fiscais que velem pelos bairros sociais e deles zelem como se de propriedade
sua. Fala o economista…
Por vezes, quando se acorda, pode ser demasiado tarde.
Quem sabe se ouvindo essa própria gente as coisas poderiam melhorar? Ninguém
responde, como sempre.
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