De início, quando a “crise”
surge, é sempre um caso obscuro, que deixa os cidadãos – suas próprias vítimas,
praticamente únicas – muito perplexos, pois ouvem falar de “gastar acima das
suas possibilidades, de mal gerir os parcos salários que recebe”, ao mesmo
tempo que assiste, impotente, ao aumento desenfreado do desemprego.
Quantas vezes ouvimos
dizer: “Não sabemos onde vamos parar. Até quando irá durar toda esta
austeridade? Porque temos de pagar o que outros – sempre os mesmos com algumas
variações – roubam sistematicamente?”
Pois é! Uns roubam, e o
bom do Zé-Povinho é quem sempre paga os “desvios”, pois um político ou membro importante
da sociedade, nunca rouba! Limita-se a “desviar”, cabendo-nos então repôr tudo
quanto desviaram.
Percebe-se que um problema
se coloca e que, subitamente, exige solução. Durante meses e anos adiou-se a
solução do mesmo, dizem os que se sentam nas cadeiras do poder.
Agora, que esse problema
se reveste de particular agudeza, deixa os cidadãos hesitantes, apreensivos,
engrossando as fileiras do desemprego, da fome e da miséria, pois os políticos,
entretanto chegados ao poder, nada mais sabem fazer que pôr em prática o verbo “cortar”,
mas cortando de forma quase cirúrgica, aos salários e subsídios de férias e de
Natal dos que ainda conseguem trabalhar. Até quando? Só Deus o sabe.
Entretanto, do alto do
pedestal em que se colocaram, graças ao voto popular – de que a maioria se
sente arrependida já – usam de toda a arrogância e até, em alguns casos, de
grosseria, nada mais querem ver que a submissão do povo à sua única vontade.
“Quem se detém na pura
manifestação exterior e deixa de ir mais longe, evidentemente que erra!” E como
tem errado o actual governo de Portugal..!, sacrificando apenas o povo
martirizado, enquanto, por outro lado, facilita e oferece novos benefícios aos
ricos e capitalistas, não esquecendo os banqueiros e mesmo, sim, esquecendo-se
dos que provocaram os tais “desvios” e vivem impunes no fausto.
Que velha imagem, perdida
na memória, súbita e misteriosamente ressurge, para nos levar a empreender o
que há anos nos parecia impossível?
Que sentimento, latente e
desde há anos esquecido, nos impele a fazer determinado gesto, egoísta ou
altruísta, sem que nós mesmos possamos discernir-lhe a exacta providência?
Essas subtilezas do
coração humano, e com maior razão de todos esses desempregados que grassam e
crescem diariamente em Portugal, não há psicólogos ou moralistas, isto é, os “especialistas”
da observação e da análise, podem desvendar.
E, desta forma, o povo vai
definhando cada vez mais, enquanto banqueiros, além de insultarem a cidadania
em geral, apresentam lucros de centenas de milhões de euros.
Assim, torna-se muito raro
que não se tenha de recorrer a determinados gestos sociais, como as
manifestações de protesto, as greves e as caricaturas carnavalescas de
governantes acéfalos.
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