É o próprio comportamento moral que, cem, mil vezes ao
dia, é posto em causa e abertamente discutido.
Não falo, ainda aqui, de políticos cegos, inconscientes
da sua missão e da tremenda que lhes incumbe, se cumprirem com o seu dever face
ao povo.
Em Portugal, é imperioso não nos surpreendermos de nada,
com nada ou ninguém!
Caso único? Claro que não, mas quase. Infelizmente,
poderia citar outros e até piores, mas como costuma dizer-se, “com o mal dos
outros, podemos nós bem.”
Mas, no momento, o problema não é certamente esse.
Mais que exemplos concretos, é a ambiência que denuncio,
o que quer dizer, em suma, imponderáveis contra os quais nunca reagimos, porque
não se impõem a nós de maneira gritante.
Os actuais governantes de Portugal, ao que parece,
conhecem apenas o verbo “cortar”. E, cortar onde mais dói aos cidadãos, que é
nos seus salários, nos seus subsídios de férias e de Natal, cortar nos
benefícios sociais – que demoraram décadas a conseguir – mesmo após a ditadura
salazarista, e que o actual governo decidiu dar-lhes luta acesa, aberta,
mandando-nos ainda mais para o fundo do abismo em que nos encontramos.
Mas o clima moral em que vemos é feito de milhares de fraquezas, de concessões, de frouxa condescendência ao bem que é preciso praticar, de conivências secretas com o mal que é mister evitar.
Do ponto de vista intelectual, tudo é discutido, o que
gera um cepticismo que nem mesmo está sempre latente.
Do ponto de vista moral, tudo se faz pela metade, ou
menos ainda, o que conduz à condescendência, mãe da anarquia.
Na maior parte dos países, certamente, cada um não faz o
que quer. Sabem que há limites perigosos de ultrapassar. Mas o pouco que lhes é
imposto, é-o de maneira completa e no momento exacto? Por outras palavras,
sabemos dar ordens de maneira a sermos obedecidos? (Pensam os políticos). A
ordem que damos é clara e providenciamos para a sua integral execução?
Explicamos suficientemente os porquês de determinada prescrição e apontamos o
perigo de a omitir? Não nos limitamos, muito frequentemente,a um conselho
prematuro, de que nem nós mesmos percebemos a legitimidade? Damos
suficientemente atenção àquela lei psicológica, que de uma ordem confusa nasce,
necessariamente, uma acção ainda mais confusa? Revoltante?
Nove vezes em dez, o caso torna-se ainda mais difícil,
sendo consequência da tibieza de comando, mas também à insensatez de se
limitarem a conhecer apenas o verbo “cortar”.
Esquecem-se de remontar à causa: carência, desde a
primeira infância, de uma autoridade firme e pouco inteligente. Mas, os
governantes estão demasiado ocupados para se interessarem pelo bem-estar do
povo, tendo apenas tempo para dedicar ao mesmo verbo, “cortar!”.
Porque o povo, esse, que “se lixe!”.
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