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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

«POBRE EUROPA A DE HOJE»


No meio das suas perplexidades e das suas molezas, a Europa conserva, apesar de tudo, uma convicção, uma única convicção, da qual por nada deste mundo está disposta a separar-se: a de ter um futuro de vítima, de sacrificada.

Por uma vez intratável e firme, crê-se perdida, quer-se perdida e está-o, de facto, devido à falta de verdadeiros políticos com sentido de liderança séria e honesta, com ideias sociais firmes e convicções fortes para a sua defesa intransigente.

A Europa actual rendeu-se ao “deus” dinheiro!

De resto, não lhe ensinaram há muito tempo que raças mais frescas virão submetê-la e ultrajá-la?

No momento em que parecia em plena expansão, no século XVIII, o abade de Galini verificava já a sua decadência e anunciava-lha. Rousseau, pelo seu lado, vaticinava: “Os tártaros serão os nossos amos: é uma revolução que me parece inevitável.” Falava verdade.

No que se refere ao século seguinte, conhecemos a frase de Napoleão sobre os cossacos e as angústias proféticas de Tocqueville, de Michelet ou de Renan.

Estes pressentimentos deitaram corpo, são intuições que passaram a fazer parte da bagagem de ideias de toda a gente.

Não se abdica de um dia para o outro: é necessária uma atmosfera de recuo cuidadosamente alimentada, uma lenda de derrota.

Atmosfera e lenda, ambas se encontram doravante criadas. E, do mesmo modo que os pré-colombianos, predispostos e resignados à invasão de conquistadores longínquos, cederiam quando estes chegassem, assim os ocidentais, demasiado instruídos, demasiado compenetrados da sua servidão futura, decerto nada farão para se lhe opor.

Aliás não teriam meios para isso: nem desejo, nem audácia.

Os Cruzados, convertidos em jardineiros, desvaneceram-se nessa posteridade caseira sem quaisquer vestígios de nomadismo.

Mas a História é nostalgia do espaço e horror a ficar em casa, sonho vagabundo e necessidade de morrer longe…a História é precisamente o que já não vemos à nossa volta.

Existe uma saciedade que incita à descoberta, à invenção de mitos, mas também de crises, mentiras instigadoras da acção: é ardor insatisfeito, entusiasmo mórbido que se torna sadio logo que se fixa num objecto; existe outra que, dissociando o espírito dos seus poderes e a vida do seu motor, empobrece e esteriliza.

Hipóstase caricatural do tédio, desfaz os mitos ou falseia o seu uso. Uma doença, em suma.

Quem quiser conhecer os sintomas e a gravidade da doença fará mal em procurá-los longe: basta que se observe a si próprio e que descubra a que ponto o Ocidente o marcou…

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