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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

«OS MAIS VELHOS»


Aquelas e aqueles a quem designam por “idosas e idosos”, aos quais é negado qualquer outro direito que não seja o de serem ainda consumidores e o de gastarem as suas reformas no jogo social do consumo, emcaixam progressivamente a privação de toda a arrogãncia permitida aos jovens.

Nada de sensualidade ou de sexualidade triunfantes, de preferência uma vida privada que se quer modesta e sem ondas.

Emprrados devagarinho para a saída, são acarinhados, conservados e venerados enquanto reciclam as suas economias na máquina social.

Reconhecidamente improdutivos – excepto quando fazem política, caso em que não existe limite etário – são afastados com a mesma veemência que foi empregue para sacrificar a sua liberdade, vida, energia e existência nos tempos em que se esmeravam para alimentar a máquina social, no chamado período activo.

Com as suas forças definitivamente irrecuperáveis, ajusta-se a dose de isolamento a infligir; de uma paarticipação modesta, discreta, recuada, para os mais sortudos, até ao gueto puro e simples, prometido àqueles cuja mecânica esstá muito usada para que lhes destinem outra coisa que não seja o enclausuramento dentro das paredes das casas a que se chamam, pudicamente, de repouso. “Lares de terceira idade”.

Passa-se o mesmo para os loucos, cujo corpo também já não obedece mais docilmente às prescrições sociais, corpo entregue ao capricho, à invenção, ao delírio, à improvisação quase sempre a-social.

Desarrazoado, aquele que terá desertado a razão ocidental será declarado inapto a ocupar uma função no seio do corpo social.

Espítito inutilizável, alma improdutiva e, portanto, corpo insultado, relegado, negligenciado. Desgraça para aqueles que esta faculdade, instruída como um animal doméstico, desertou, de perto ou de longe: por limitação, pobreza, deficiência, inadequação ou ausência, ela é o que autoriza o refugo dos desgraçados de que se esqueceu.

Todo o sistema escolar, que vive do adestramento e da domesticação, tem por objectivo classificar as razões em função da capacidade ou incapacidade em utilizá-las docilmente por parte daqueles que são “educados”.

O diploma atesta e certifica a utilização correcta da razão, quer dizer, o seu emprego segundo os trãmites sociais confirmados, mas não, certamente, devido á pura inteligência ou à inventividade radical.

A razão passa por ser um excelente indicador da dose de socialização que são capazes de armazenar os que procuram o reconhecimento social, os que esperam um salvo-conduto do animal social, uma autorização para fazer parte do festim para o qual ele convida as naturezas obsequiosas.

Na lógica que anima a sociedade capitalista e em virtude da qual qualquer particular só conta quando estiver convencido da necessidade da sua subsunção sob o universal, a razão triunfa como instrumento de uma socialização bem obtida, como um argumento desfraldado a favor da negação e da dissolução da individualidade na totalidade.

O seu uso, calibrado e determinado, serve de perpétua antinomia entre o indivíduo e a sociedade.

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