Aquelas e aqueles a quem
designam por “idosas e idosos”, aos quais é negado qualquer outro direito que
não seja o de serem ainda consumidores e o de gastarem as suas reformas no jogo
social do consumo, emcaixam progressivamente a privação de toda a arrogãncia
permitida aos jovens.
Nada de sensualidade ou de
sexualidade triunfantes, de preferência uma vida privada que se quer modesta e
sem ondas.
Emprrados devagarinho para
a saída, são acarinhados, conservados e venerados enquanto reciclam as suas
economias na máquina social.
Reconhecidamente
improdutivos – excepto quando fazem política, caso em que não existe limite
etário – são afastados com a mesma veemência que foi empregue para sacrificar a
sua liberdade, vida, energia e existência nos tempos em que se esmeravam para
alimentar a máquina social, no chamado período activo.
Com as suas forças
definitivamente irrecuperáveis, ajusta-se a dose de isolamento a infligir; de
uma paarticipação modesta, discreta, recuada, para os mais sortudos, até ao
gueto puro e simples, prometido àqueles cuja mecânica esstá muito usada para
que lhes destinem outra coisa que não seja o enclausuramento dentro das paredes
das casas a que se chamam, pudicamente, de repouso. “Lares de terceira idade”.
Passa-se o mesmo para os
loucos, cujo corpo também já não obedece mais docilmente às prescrições
sociais, corpo entregue ao capricho, à invenção, ao delírio, à improvisação
quase sempre a-social.
Desarrazoado, aquele que
terá desertado a razão ocidental será declarado inapto a ocupar uma função no
seio do corpo social.
Espítito inutilizável,
alma improdutiva e, portanto, corpo insultado, relegado, negligenciado.
Desgraça para aqueles que esta faculdade, instruída como um animal doméstico,
desertou, de perto ou de longe: por limitação, pobreza, deficiência,
inadequação ou ausência, ela é o que autoriza o refugo dos desgraçados de que
se esqueceu.
Todo o sistema escolar,
que vive do adestramento e da domesticação, tem por objectivo classificar as
razões em função da capacidade ou incapacidade em utilizá-las docilmente por
parte daqueles que são “educados”.
O diploma atesta e
certifica a utilização correcta da razão, quer dizer, o seu emprego segundo os
trãmites sociais confirmados, mas não, certamente, devido á pura inteligência
ou à inventividade radical.
A razão passa por ser um
excelente indicador da dose de socialização que são capazes de armazenar os que
procuram o reconhecimento social, os que esperam um salvo-conduto do animal
social, uma autorização para fazer parte do festim para o qual ele convida as
naturezas obsequiosas.
Na lógica que anima a
sociedade capitalista e em virtude da qual qualquer particular só conta quando
estiver convencido da necessidade da sua subsunção sob o universal, a razão
triunfa como instrumento de uma socialização bem obtida, como um argumento
desfraldado a favor da negação e da dissolução da individualidade na
totalidade.
O seu uso, calibrado e
determinado, serve de perpétua antinomia entre o indivíduo e a sociedade.
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