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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

«ALQUIMIA CANIBAL»


Para ser definida como uma alquimia canibal submetendo o político, como expoente da patologia manifestada pelo síndrome de Hecatão e que se substitui a qualquer outra religião, como proveniente do sacrifício e do holocausto reiterados, como vivendo da luta de classes e gerando a máxima alienação, a economia capitalista, sob a sua forma actual, cibernética e planetária, nem por isso é menos o reflexo de uma metafísica que subentende, como se encontraram submetidas todas as variantes registáveis do modo de produção capitalista das riquezas.

A economia decorre de superestrutura ideológica e não é, em nada, uma infra-estrutura separada, motriz do mundo, na sua totalidade.

Antes de chegar a uma proposta liberatória apoiada por uma mística de esquerda, gostaria de tentar dizer de que modo a economia, esta “ciência do lúgubre”, segundo as palavras de Carlyle, sempre gerou as suas mitologias a partir dos pensamentos dominantes da época ou das ideologias melhor adaptadas para permitir a justificação teórica (se não ontológica), do mercado livre e da concorrência, da divisão do trabalho, da submissão de uma classe aos interesses de outra, da teologia radiosa e da harmonia preestabelecida, da mão invisível e dos paraísos anunciados para o amanhã.

O conjunto contribuiu para a formação de uma metafísica da necessidade impiedosa, que trouxe para o seu lado a quase totalidade dos economistas, nem que fossem aparentemente opostos, como Adam Smith e Karl Marx.

Para propor uma outra maneira de encarar a economia, tratar-se-á de avançar com as bases de uma outra visão do mundo – e, para um edifício libertário susceptível de ser arrematado por ideais humanos, será preciso uma mística atenciosa e conforme.

Antes, e para propor uma genealogia ontológica da modernidade económica, gostaria de recorrer à constelação cartesiana e, mais particularmente, para começar, aos avanços que foram permitidos ao grande século, graças ás conclusões e aos grandes temas do Discurso do Método.

O catolicismo recua sob os assaltos do pensamento reformista e da ascendência potencial de uma filosofia laica, em vias de substituir a teologia católica toda-poderosa. Antes dele, Montaigne prepara o advir do sujeito moderno, mas é Descartes que vai provocar a sua nascença, assisti-lo, e dar uma identidade àquele eu que se constitui em oposição a Deus.

Deste modo podemos perspectivar a relação inversamente proporcional que liga o esboroamento do catolicismo com a elaboração das condições para as possibilidades daquilo a que se chama o economicismo, esse monstro híbrido que faz da economia uma religião.

Progresso do ateísmo, desaparição de Deus, aparecimento da economia e da teologia das riquezas triviais, eis o movimento que vai possibilitar a cristalização dos fervores e dos cultos prestados ao dinheiro.

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