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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

«A RESIGNAÇÃO»



Se nós, hoje, felizes herdeiros, beneficiamos do bem que a presença de Pedro proporciona a todos os cidadãos portugueses, penso que devemos ostentá-lo, assim como toda a felicidade que sentimos com a sua presença no governo.

Realmente, não há mal que sempre dure..!, e, quanto às nossas humilhações, teremos sempre a possibilidade de as embelezar ou de as escamotear, de adoptar uma atitude de aborto elegante, de ser honradamente o último dos homens.

As boas maneiras, o hábito da desgraça, privilégio daqueles que, tendo nascido perdidos, começaram pelo seu fim. Saber-se-á de uma “raça” que nunca existiu é uma amargura não totalmente isenta de doçura ou mesmo de volúpia.

A exasperação que antes sentia ao ouvir alguém dizer a propósito de tudo e de nada: “Destino”, parece-me hoje pueril.

Ignorava então que viria a fazer o mesmo, que, refugiando-me também eu atrás desse vocábulo, lhe atribuiria a boa e a má sorte de todos os mais pequenos elementos da felicidade e da infelicidade, que, mais ainda, me agarraria à Fatalidade com o êxtase de um náufrago e lhe consagraria os meus primeiros pensamentos antes de me precipitar no horror de cada dia.

“Tu desaparecerás no espaço, ó meu Portugal”!

Esta exclamação poderia aplicá-la com maior pertinência hoje, sempre ao meu país, cuja constituição o predispõe mais ao desaparecimento, prodigiosamente organizado para vir a ser devorado, provido de todas as qualidades de uma vítima ideal e anónima.

O hábito do sofrimento sem fim e sem razão, a plenitude do desastre, que aprendizagem na escola das tribos esmagadas!

O mais antigo historiador romeno começa com estas palavras as suas crónicas: “Não é o homem que governa os tempos, mas os tempos que governam o homem”.

Fórmula fruste, programa e epitáfio de um recanto da Europa.

Para captarmos o tom da sensibilidade popular dos países do Sul, basta relembrar as lamentações do coro na tragédia grega.

Por uma tradição inconsciente, todo um espaço étnico foi por elas marcado.

Rotina do suspiro e do infortúnio, jeremíadas dos povos menores ante a bestialidade dos grandes!

Evitemos, porém, o excesso dos lamentos: pois não é reconfortante podermos opor às desordens do mundo a coerência das nossas misérias e das nossas derrotas?

E não teremos nós, perante o diletantismo universal, o consolo de possuir, em matéria de dores, uma competência de esfolados vivos e, ao mesmo tempo, de eruditos?

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