Se nós, hoje, felizes herdeiros, beneficiamos do bem que
a presença de Pedro proporciona a todos os cidadãos portugueses, penso que
devemos ostentá-lo, assim como toda a felicidade que sentimos com a sua
presença no governo.
Realmente, não há mal que sempre dure..!, e, quanto às
nossas humilhações, teremos sempre a possibilidade de as embelezar ou de as
escamotear, de adoptar uma atitude de aborto elegante, de ser honradamente o
último dos homens.
As boas maneiras, o hábito da desgraça, privilégio daqueles
que, tendo nascido perdidos, começaram pelo seu fim. Saber-se-á de uma “raça”
que nunca existiu é uma amargura não totalmente isenta de doçura ou mesmo de
volúpia.
A exasperação que antes sentia ao ouvir alguém dizer a propósito de tudo e de nada: “Destino”, parece-me hoje pueril.
Ignorava então que viria a fazer o mesmo, que,
refugiando-me também eu atrás desse vocábulo, lhe atribuiria a boa e a má sorte
de todos os mais pequenos elementos da felicidade e da infelicidade, que, mais
ainda, me agarraria à Fatalidade com o êxtase de um náufrago e lhe consagraria
os meus primeiros pensamentos antes de me precipitar no horror de cada dia.
“Tu desaparecerás no espaço, ó meu Portugal”!
Esta exclamação poderia aplicá-la com maior pertinência
hoje, sempre ao meu país, cuja constituição o predispõe mais ao
desaparecimento, prodigiosamente organizado para vir a ser devorado, provido de
todas as qualidades de uma vítima ideal e anónima.
O hábito do sofrimento sem fim e sem razão, a plenitude
do desastre, que aprendizagem na escola das tribos esmagadas!
O mais antigo historiador romeno começa com estas
palavras as suas crónicas: “Não é o homem que governa os tempos, mas os tempos
que governam o homem”.
Fórmula fruste, programa e epitáfio de um recanto da
Europa.
Para captarmos o tom da sensibilidade popular dos países
do Sul, basta relembrar as lamentações do coro na tragédia grega.
Por uma tradição inconsciente, todo um espaço étnico foi
por elas marcado.
Rotina do suspiro e do infortúnio, jeremíadas dos povos
menores ante a bestialidade dos grandes!
Evitemos, porém, o excesso dos lamentos: pois não é
reconfortante podermos opor às desordens do mundo a coerência das nossas
misérias e das nossas derrotas?
E não teremos nós, perante o diletantismo universal, o
consolo de possuir, em matéria de dores, uma competência de esfolados vivos e,
ao mesmo tempo, de eruditos?
Sem comentários:
Enviar um comentário