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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

«A REBELIÃO NO PARTIDO SOCIALISTA»


Que a rebelião goze de uma honorabilidade indevida, basta para disso nos persuadirmos reflectir no modo como são qualificados os espíritos que lhe não são propensos. Chmo-lhes fouxos.

É quase certo que estamos fechados a todas as formas de sabedoria, porque vemos nelas apenas uma frouxidão transfigurada. Por muito injusta que seja semelhante reacção, não posso impedir-me de a ter a propósito do próprio taoísmo.

Embora saiba que ela recomenda o apagamento e o abandono em nome do absoluto e não da cobardia, recuso-o no preciso momento em que julgo tê-lo adoptado; e apesar de dar mil vezes razão a Lao-Tsé, compreendo melhor um assassino.

Entre a serenidade e o sangue, é para o sangue que é natural inclinarmo-nos. O assassínio pressupõe e coroa a revolta; aquele que ignora o desejo de matar, poderá professar opiniões subversivas, porém nunca passará de um conformista.

Sabedoria e rebelião: dois venenos. Incapazes de os assimilarmos ingenuamente, não encontramos nem numa nem outra  uma fórmula de salvação.

Não deixa de ser verdade que, na aventura luciferina, adquirimos uma mestria que jamais possuiremos na sabedoria. Para nós, a própria percepção é sobressalto, começo de transe ou de apoplexia. Perda de energia, vontade de gastar as nossas disponibilidades.

Insurgir-se perante todas as coisas comporta uma irreverência para consigo próprio, para com as próprias forças. Onde iríamos buscar forças para a contemplação, essa despesa estática, essa concentração na imobilidade? Deixar as coisas na mesma, olhá-las sem as querer moldar, apreender a sua essência, nada de mais hostil à orientação do nosso pensamento: aspiramos, pelo contrário, a dar-lhes forma, a torturá-las, a emprestar-lhes as nossas raivas.

E assim deve ser: idólatras do gesto, do jogo e do delírio, amamos os que arriscam tudo, tanto na poesia como na filosofia.

Não há saída para aquele que, ao mesmo tempo, ultrapassa o tempo e nele se atola, que atinge por entre sobressaltos a sua última solidão e, porém, se afunda na aparência.

Indeciso, dividido, arrastar-se-á como doente da duração, exposto simultaneamente às atracções do devir e do intemporal.

Nada de viável pode nascer de uma meditação de circunstância, de uma reflexão sobre o acontecimento. Notras idades mais felizes, os espíritos podiam delirar livremente, como se não pertencessem a época alguma, emancipados que estavam do terror da cronologia, abismados num momento do mundo que, para eles, se confundia com o próprio mundo.

Sem se preocuparem com a relatividade da sua obra, consegravam-se-lhe inteiramente.

Estupidez genial, para sempre passada, exaltação fecunda que a consciência dividida em nada comprometia. Adivinhar ainda o intemporal e saber, porém, que somos tempo, que produzimos tempo, conceber a ideia de eternidade e acarinhar o nosso nada; irrisão de onde emergem tanto as nossas rebeliões como as dúvidas que alimentamos acerca delas.

Procurar o sofrimento para evitar a redenção, seguir ao contrário o caminho da libertação, tal é o nosso contributo em matéria de religião: iluminados biliosos, budas e cristos hostis à salvação, pregando aos miseráveis os encantos da sua desgraça.

Mas, não deixa de ser verdade que o nosso primeiro antepassado só nos deixou por herança o horror do Paraíso. Ao dar um nome às coisas, preparava a sua e a nossa queda. Se quisermos remediá-la, teremos de começar por desbaptizar o universo, por retirar a etiqueta que, posta em cada aparência, a eleva e lhe empresta um simulacro de sentido.

Entretanto, tudo em nós, até as células nervosas, sente repulsa pelo existir: único modo de salvaguardarmos a nossa perda.

E assim será até que uma cura de eternidade nos desintoxique do devir, enquanto não nos aproximarmos desse estado no qual, “o instante vale dez mil anos”, segundo um budista chinês.

No Partido Socialista actual, o secretário-geral foi eleito pelas bases, devendo, por isso, ser respeitado, permitindo-lhe que leve a cabo a sua política quer na oposição quer, se assim acontecer, como governante, líder de um governo por ele escolhido e que acabe com toda a austeridade, permitindo aos mais pobres uma vida melhor.

Não é com “caciques”, como Costa e outros saudosistas socráticos, que conseguiremos sair do fundo do fosso em que nos colocou o senhor Pedro.

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