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sábado, 9 de fevereiro de 2013

«A PARTIR DO SÉCULO DAS LUZES»

















A Europa não parou de enfraquecer os seus ídolos em nome da ideia de tolerância; pelo menos, enquanto foi poderosa, acreditou nessa ideia e bateu-se para a defender. As suas próprias dúvidas não passavam  então de convicções disfarçadas, como comprovavam a sua força, tinha o direito de se reclamar delas, bem como os meios de as impor; hoje, as suas dúvidas já não passam de sintomas de nervosismo, de vagos sobressaltos do instinto atrofiado.

A destruição dos ídolos acarreta consigo a dos preconceitos. Ora, os preconceitos – ficções orgânicas de uma civilização – asseguram a sua duração, conservam a sua fisionomia.

A civilização deve respeitá-los, senão a todos, pelo menos aos que lhe são próprios e que, no passado, tinham para ela a importância de uma superstição ou de um rito.

Se os considerar meras convenções, desprender-se-á deles cada vez mais, sem poder substituí-los pelos seus próprios meios. Prestou culto ao capricho, à liberdade, ao indivíduo? Conformismo, de boa lei.

Quando deixa de lhe obedecer, capricho, liberdade e indivíduo tornam-se letra morta.

Um mínimo de inconsciência é necessário a quem se quiser manter na história. Agir é uma coisa; saber que se age, outra.

Quando a clarividência investe o acto e se insinua nele, o acto desfaz-se, e com ele o preconceito cuja função consiste precisamente em subordinar, em submeter a consciência ao acto…

Quem desmascara as suas ficções, renuncia ao seu motor e como que a si próprio. Por isso aceitará outras, que serão a sua negação, porque não surgiram do seu íntimo.

Nenhum ser preocupado com o seu equilíbrio deveria ultrapassar um certo grau de lucidez e de análise.

Isto é mais verdade ainda para uma civilização que vacila logo que começa a denunciar os erros que permitiram o seu crescimento e o seu brilho, logo que começa a pôr em questão as suas verdades!

Não é sem risco que se abusa da faculdade de duvidar. Quando o céptico deixa de extrair dos seus problemas e das suas interrogações uma virtude activa, aproxima-se o fim, mais ainda, procura-o, corre para ele: que outro resolva as suas incertezas, que outro o ajude a sucumbir!

Sem saber já que fazer das suas inquietações e das suas liberdades, pensa com nostalgia no carrasco, chama por ele.

Os que, não descobriram resposta para nada, suportam melhor os efeitos da tirania do que os que descobriram as resposta para tudo. É assim que os diletantes se mostram menos embaraçados com a morte que os fanáticos.

Hoje, para onde quer que olhemos, só vemos sucedâneos de verdade, de preconceitos; aqueles que nem sequer esses sucedâneos possuem, parecem mais serenos, mas o seu sorriso é maquinal. Um pobre e derradeiro reflexo de elegância…

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