Ver um objecto não chega: é também importante
saber situarmo-nos em relação a ele. O cérebro consegue fazê-lo devido à sua
capacidade de percepção da profundidade.
Um dos mais importantes dados visuais para
esta percepção é a disparidade binocular, ou seja, os dois aspectos diferentes
que cada olho nos dá do mundo que observa.
Como há uma distância entre os olhos, cada um deles observa os objectos
de um ângulo ligeiramente diferente. O cérebro utiliza as informações recebidas
de cada olho para calcular a nossa distância ao objecto, processo ao qual se dá
o nome de estereoscopia.
O cérebro aceita as imagens dos dois olhos
com tanta fidelidade que, mesmo que a imagem única delas resultante desafie a
lógica e a experiência, ele combinará as duas imagens recebidas.
Uma experiência muito simples demonstra esta
verdade. Faça um canudo de papel, coloque um objecto ao fundo da sala (uma vela
acesa é o ideal) e observe-o através do canudo com o olho direito, mantendo
abertos os dois olhos.
Passe agora lentamente a mão esquerda em
frente ao canudo. Quando ela atinge determinada posição, verá aparecer um
buraco na mão e a vela a arder no meio!
Uma vela que arde num buraco da sua mão não é
lógico, nem sequer verosimil – mas mesmo assim os seus olhos vêem-no.
Um objecto de diversão muito apreciado no
século XIX era o estereoscópio, que dava a ilusão de vermos uma fotografia em
três dimensões. O aparelho foi inventado em 1838 pelo físico inglês Charles
Wheatstone.
Para conseguir a ilusão de relevo, a cena era
fotografada duas vezes de ângulos diferentes (as duas máquinas, um pouco separadas, imitavam o espaçamento dos
dois olhos humanos). Montavam-se depois as duas fotografias no visor, usando
espelhos para sobrepor as imagens.
Hoje, há brinquedos baseados na invenção de
Wheatstone. Este processo de observar uma cena simultaneamente de dois ângulos
é a base dos filmes a três dimensões.
Quando olhamos ao longo de uma linha de
caminho de ferro, como sabemos que os carris se mantêm paralelos? Nascemos a
sabê-lo ou tivemos de o aprender? Pode acontecer que os carris realmente
convirjam como parece? Questões como esta fascinaram sábios e cientistas
durante séculos; emergiram assim três escolas de pensamento.
Um grupo diz que, ao vermos os carris
convergir, sabemos, pela nossa experiência, que se mantêm paralelos. Por isso,
a nossa mente decide – correctamente – interpretar como distância a informação
que os olhos lhe dão.
Outro grupo utiliza o termo gestalt para explicar como os olhos vêem, mas a mente rejeita, a convergência dos carris. Gestalt significa, em alemão, “feitio”, “forma”.
Segundo esta teoria, quando observamos uma
cena, a nossa mente apreende intuitivamente o seu significado. De onde seja
irrelevante tentar analisar o modo pelo qual as peças individuais criam na
mente a impressão da totalidade: criam-ma simplesmente.
Um terceiro grupo diz que a mente dispõe de
muitos outros elementos visuais na cena além dos carris, que utiliza para
determinar a distância. Um dos mais importantes é a forma como os contornos e
as texturas (das pedras na linha, por exemplo) são nítidos ao perto e perdem a
nitidez com o aumento da distância.
Associamos assim a nitidez do pormenor com a
proximidade, a indistinção com o afastamento.
Utilizando os meios ao seu alcance, também os
políticos e nomeadamente o senhor Silva, mas outros também, quando estão a
milhares de quilómetros de distância de Portugal, e quem sabe se cantando A
Traviata enquanto se penteiam ou lavam os dentes, não hesitam em prestar
declarações que sabem ser sem nexo, mas que depois recordam afirmando terem
dito que a justiça social deve ser efectiva no país, mas que lhe não prestaram
a devida atenção quando disse tais coisas. Como é óbvio, são os portugueses
quem arca com a Cruz e a arrasta até ao Calvário imposto pelo senhor Pedro e
seus seguidores.
E tudo é feito e dito com toda a nitidez e
clareza, com toda a profundidade que até dá a entender aos mais cépticos que
estão a falar verdade.
Depois, outras vozes também profundas afirmam
pretender a formação de um governo mesclado de progressistas, de humanistas e
outros “istas”, tendo no pensamento, possivelmente, algumas exclusões, dos não
considerados do arco da governança.
Portugal pode estar, finalmente e segundo
eles, “no bom caminho”!, ou seja, a caminho da emigração e da fuga à miséria
que cá se vive.
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