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domingo, 21 de abril de 2013

«SOCIALISMO “REVISIONISTA?”»

O socialismo, apagado e silencioso, é menosprezado devido à recuperação teutónica e à respectiva formulação prussiana de que foi objecto. Líder do grupo, Marx conseguiu o golpe de estado filosófico que consistiu em ocultar ou desacreditar todo o pensamento socialista que o antecedeu, para fazer crer que só ele, e ele apenas, constituía a genealogia, o desenvolvimento e o desfecho dessa sensibilidade teórica.

É fazer pouco caso de Blanqui e Fourrier, de Proudhon e Pecqueur, de Babeuf e Considérant, é esquecer Cabet e Saint-Simon, sem os quais o marxismo não teria podido constituir-se, ora através de transferências maciças e francas, ora através de uma afinação teórica, por meio da polémica ou do confronto.

Esquecemo-nos  o que Proudhon sofreu em descrédito e purgatório injustificados, devido às críticas polémicas e malévolas do autor do Capital, obsecado pelo seu império sobre o movimento operário europeu.

Ora, quando reage à industrialização mundial, à mecanização do real, à concentração do capital em modelos destinados a serem superados por aqueles que hoje vigoram, a mística de esquerda torna-se socialismo e faz girar o conjunto da sua reflexão em torno desse ponto fixo que é o trabalhador.

O cidadão e o homem, nascidos nos cueiros da Revolução Francesa, vêem-se juntar-se-lhes o operário, o proletário, encarnações da indigência e da miséria, da pobreza e da desapropriação sistemática de si próprio. Esse século é verdadeiramente habitado por uma reflexão sobre a filosofia da miséria.

Deste modo convém demorarmo-nos um pouco sobre o aparecimento de uma importante tomada em consideração, teórica e crítica, da propriedade.

O seu fundamento, natureza, legitimidade, futuro, as suas formas,, as alternativas possíveis a uma propriedade ora terrena, ora imobiliária ou de capital, concentrada nas mãos de alguns, decididos a servirem-se dela para produzir um benefício exponencial e constante, na mais absoluta das negligências em relação aos que possibilitam esse lucro, eis o que levou a escrever um Pierre-Joseph Proudhon e, com ele, uma miríade de autores socialistas, animados por esta mística de esquerda, operando dentro deles, preocupados em encontrar-lhe uma forma teórica viável.

Aliás, o que  é a propriedade? Marca o pontapé de saída da reflexão socialista sobree esta questão em França e um pouco por toda a Europa. Ao responder: “o roubo”, Proudhon formula nítida, simplesmente e de modo polémico o que nunca deixou de ser verdade desde 1840.

Portanto, o trabalhador: só por si figura da danação, da exclusão e da exploração, ele encarna o escravo do mundo moderno sem o qual, dizia Aristóteles, não há civilização possível – o que pensam também todos os devotos da religião do capital.

Os bens, as riquezas, os benefícios, as mais-valias, os lucros, os relatórios, os ganhos, eis as obras-primas do mundo moderno, as pirâmides do capitalismo e as catedrais da industrialização.

Para construir esses benefícios, não se regateia uma mão-de-obra que, tanto ontem como hoje, se paga com um punhado de cebolas, com pedaços de pão seco e com más bebidas.

O preço dessas construções? O trabalho dos jovens licenciados, os salários de miséria acordados aos que penam, a indigência absoluta para os miseráveis privados de emprego, a escravatura, o dia de trabalho, legal, de catorze horas, as doenças profissionais, o alcoolismo, os acidentes, as dívidas, os alojamentos vergonhosos, quando existem, a ausência do direito ao trabalho, a repressão de qualquer aspiração sindical, o seguimento policial, através de documentos apropriados, dos trajectos tomados pelo operário.

Irra! Para a dignidade ou para a humanidade dos homens, mulheres e crianças que possibilitam a existência das riquezas e a sua confiscação pelo capital.


Sem uma revisão de valores mas sobretudo das práticas, os actualmente ditos socialistas – do PS – com a sua “social-democracia de pacotilha”, conseguem imitar na perfeição os opressores do povo, aos quais dizem negar qualquer colaboração só porque já sonham com o poder.

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