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domingo, 21 de abril de 2013

«LUIS DE CAMÕES»

O muito pouco que se sabe sobre a vida do poeta documenta bem a situação do génio, condenado a um ostracismo involuntário no seio da sociedade do seu tempo. Os milhares de paginas que têm sido escritas sobre o assunto não escondem a exiguidade dos dados verdadeiramente incontroversos sobre a vida de Camões.

Não se sabe bem onde nem quando nasceu. Duas datas, 1517 e, sobretudo, 1525, são as que reúnem maiores probabilidades; quatro locais: Lisboa, o mais verosimil berço do poeta, Coimbra, Santarém e Alenquer.

Terá falecido a 10 de Junho de 1580, mas onde pára o respectivo registo de óbito? Nos livros que restam na Torre do Tombo referentes às freguesias lisboetas daquela data não está. O que é de estranhar, a menos que tivesse Camões sido uma das vítimas da peste de 1579, quando centenas de mortos escaparam aos zelosos curas escribas dos livros paroquiais.

Foi sepultado, segundo a tradição, no carneiro da Igreja de Sant’Ana, mas, quando a mão piedosa lhe pôs a pedra do epitáfio sobre os ossos, não era grande a segurança sobre a respectiva identificação. E serão do poeta os que estão nos Jerónimos, por obra e graça da prestimosa comissão ad hoc do 3º centenário da sua morte? Acontecimento que representou a primeira grande homenagem nacional ao poeta…

De registos válidos, sabe-se quem foi o seu pai (Simão Vaz) e sua mãe (Ana de Sá ou Ana de Macedo, mulher nobre de Santarém). Presume-se que tenha feito apurados estudos, pela sólida cultura que a sua obra revela, mas o seu nome não consta dos livros de registos de matrículas da Universidade de Coimbra, cidade que, ainda assim, é insofismável que bem  conheceu e frequentou.

Nela foi figura importante o chanceler Bento de Camões, seu familiar. Os traços de passagem do poeta por Coimbra parecem, porém, ter sido apagados, um a aum, por dedo misterioso. Há quem queira atribuir um estado de nobreza que é incompatível com o que da sua vida se sabe ou se presume.

Estudos recentes (José Hermano de Saraiva) inculcam-no como escudeiro dos condes de Linhares, colega menos afortunado de Francisco de Morais, autor do Palmeirim e dos curiosíssimos Diálogos, o que teria sido a base dos seus infortúnios.

A amada Dinameme, morta no mar, não seria a escrava peregrina, mas D. Joana de Menezes, filha dos condes. A hipótese é extremamente curiosa. Em tempo de derivações, não seria difícil ver em D. Joana de Menezes, demasiado curioso, por coincidência…

À frequência da corte parecem aludir as relações culturais inferidas da lírica. Uma das cartas que lhe são atribuídas com bastante probabilidade é dirigida a uma dama da comitiva real. Não lhe são estranhos igualmente os meandros do meio boémio da estúrdia quinhentista lisboeta.

Como escudeiro, em Ceuta, perdeu o olho direito em combate. Um infausto acontecimento no dia do Corpo de Deus de 1552, em que feriu um Gonçalo Borges numa escaramuça no Rossio, levou-o à cadeia do Tronco, reservada a presos de baixa extracção, de onde sai, perdoado pelo queixoso, obtido o perdão real, para servir como soldado nas partes da Índia, “mãe de vilões ruíns e madrasta de homens honrados>”.

DE Goa sai em expedições por mar, como por exemplo ao estreito de Meca, onde se originou a canção “Junto dum seco, fero, estéril monte”. Os seus “Disparates da Índia”, em que satiriza alguns poderosos da cidade, vão fazê-lo alvo de iras e de vinganças.

O governador Francisco Barreto tê-lo-á desterrado para a China, por indesejável. Julga-se ter estado em Macau como provedor dos defuntos e ausentes. Sofre um naufrágio na foz do Mecom (referido no canto X de Os Lusíadas. De novo em Goa. D. Constantino de Bragança ter-lhe-á dispensado protecção, facto que não impede o ter sido preso, acusado de dívidas. Tem relações de amizade com Garcia de Orta e com Pêro de Magalhães de Gândavo, para a publicação de cujas obras solicita a protecção do conde de Redondo e de D. Leonis Pereira, respectivamente.

Alguns anos depois está em Moçambique, levado pelo capitão Pêro Barreto, que, todavia, lhe não perdoa o dinheiro da viagem e o mantém preso.A 7 de Abril de 1570, no rescaldo da peste de 1560, só se volta a ter notícias do poeta quando D. Sebastião lhe concede, em Julho de 1572, privilégio para a publicaçºao de Os Lusíadas e depois lhe outorga uma tença de 15 mil reis, com a qual irá viver até ao final dos seus dias, e que sua mãe receberá depois da sua morte.


É inegável que Camões conheceu o teatro vicentino e nele se inspirou, mas, como diz Luciana Stegagno Picchio, “Camões não é um simples continuador de Gil Vicente: a revolução renascentista já passara por ele e nenhum suspiro passadista a podia apagar”.

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