“Não é de
estranhar que seja em Madrid" que "hoje se realiza um grande fórum de
investidores europeus interessados em Angola", escreve o diário oficial.
O Jornal
de Angola volta esta
quinta-feira a criticar as “elites corruptas e ignorantes de Lisboa”, que, em
seu entender, determinam e estão a prejudicar as relações entre Portugal e
Angola. As críticas constam de um editorial intitulado “Um Abril sem festa”,
que tem como pretexto o 25 de Abril.
O editorial
insere-se numa série de textos críticos da actuação da justiça e dosmedia portugueses. O Jornal
de Angola, único diário do país, e jornal oficial, que chegou já a
defender o fim dos investimentos angolanos em Portugal, afirma desta vez que a
cooperação bilateral está a ser afectada.
As “elites
corruptas e ignorantes”, que o editorial não identifica concretamente, preferem
“dar as mãos a gente de baixa categoria, que vive da mentira, da difamação e do
embuste”, e com isso, segundo o jornal oficial, “é a cooperação bilateral que
sai prejudicada”.
Por essa razão,
acrescenta, “não é de estranhar que seja em Madrid, e não em Lisboa, que hoje
se realiza um grande fórum de investidores europeus interessados em Angola.
Muitos homens de negócios da Europa começam a ver que a falta de visão de
Lisboa está a atrasar e prejudicar os seus investimentos em Angola”.
Em
Portugal, “só os bandoleiros têm respeito e são bem recebidos”, diz também o
jornal. “Qualquer marginal é um cavalheiro para as elites corruptas
portuguesas, desde que diga mal dos titulares dos órgãos de soberania
angolanos.”
As críticas
abrangem também com particular veemência os mediaportuguesas. “Um
qualquer escroque tem passadeira vermelha nos órgãos de comunicação social
portugueses, neste momento bem mais asquerosos do que os propagandistas do
regime fascista.” Noutra passagem, o texto acusa-os de darem “espaço a toda a
espécie de mentiras e calúnias”
“Por muitos
ventos contrários que soprem de Lisboa, por muitas punhaladas que as elites
ignorantes e corruptas portuguesas desfiram nos nossos Povos, jamais
conseguirão pôr-nos de costas voltadas”, diz, no entanto, o editorial.
As elites
“ignorantes e corruptas até conseguiram afastar Manuel Alegre e Mário Soares
das comemorações do 25 de Abril. Vasco Lourenço é para eles mais um Capitão de
Abril a abater. Otelo Saraiva de Carvalho já nem sequer tem lugar entre os
beneficiários da revolução que ele comandou destemidamente”, refere também o
texto.
O último
editorial crítico foi publicado no último domingo. Nele, o director do
diário de Luanda, José Ribeiro, atacou a justiça portuguesa a propósito da condenação de Maria
Eugénia Neto, viúva do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, por crime
de difamação da historiadora Dalila Cabrita Mateus. O texto recordava também
que o Ministério Público tinha mandado arquivar uma queixa apresentada por
generais angolanos contra o activista Rafael Marques.
Na
sequência da divulgação dessas investigações, dois membros do Governo
português, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, e o ministro da
Economia, Álvaro Santos Pereira, tentaram restabelecer a confiança de Luanda em Portugal.
O "sistema judicial português não é lugar adequado para dirimir
questões internas de outros Estados", disse Portas.
A
comunicação social portuguesa tem sido criticada por notícias como a
investigação ao procurador-geral de Angola. Em Novembro de 2012, o Jornal de Angola denunciou em editorial o que considerou uma “campanha contra
Angola […] do poder ao mais alto nível” em Portugal e previu que as relações
entre Luanda e Lisboa fossem prejudicadas.
No que ao
25 de Abril diz respeito, o editorial desta quinta-feira relaciona as lutas
pelas independência do país e a construção da democracia em Portugal e escreve
que os angolanos “não vão esquecer” que o Movimento das Forças Armadas, que há
39 anos derrubou o Estado Novo, “se juntou ao MPLA, à FNLA e à UNITA na
luta pela liberdade, pela Independência Nacional e pela democracia”.
Diversos
dirigentes angolanos são referidos como “heróis da libertação do povo
português” e vários “capitães de Abril” são “também nossos heróis” – escreve o
jornal. No grupo dos primeiros são nomeados os então líderes do MPLA (Movimento
Popular de Libertação de Angola) e da FNLA (Frente Nacional de Libertação de
Angola), Agostinho Neto e Holden Roberto, respectivamente. Não é mencionado
Jonas Savimbi, que liderou a UNITA (União Nacional para a Independência Total
de Angola), que combateu o governo do MPLA.
=Público=
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