Pode dizer-se, como termo de comparação, que
um pai violento é aquele que tem o hábito de punir os filhos, ferindo-os ou
humilhando-os, mental ou fisicamente, ou, em muitos casos, de ambos os modos.
Esses pais descarregam as suas frustrações
pessoais nos filhos e consideram uma ofensa pessoal o facto de a criança chorar
ou fazer asneiras. Acham que é necessário castigá-la severamente para que “ande
na linha”.
Muitos desses pais têm expectativas
inaceitáveis para seus filhos e confundem o “não sou capaz” com o “não quero”
(contudo a criança também sofre se os pais não lhe estabelecem padrões de
realização e não a estimulam a progredir).
Habitualmente, a violentação da criança
ocorre quando os pais não suportam o esforço diário de educar os filhos e não
têm ninguém a quem pedir ajuda.
Ora, o mesmo acontece com os políticos, que
descarregam no povo todas as suas frustrações e erros, culpando-o e culpando
outros pelos seus fracassos, que haviam afirmado infalíveis, mas que só
conseguiram colocar a população mais na miséria e na fome, apelando à desculpa
de que os cidadãos se tinham habituado a viver acima das suas possibilidades.
Também os políticos pretendem, segundo eles
mesmos, fazer reformas que todos excepto eles consideram inaceitáveis e
impróprias de um Estado social que zele pelos interesses da nação e, logo,
pelos interesses da cidadania, especialmente a menos favorecida, geralmente o
bode expiatório, por mais fácil e acessivel, muitas vezes sem alguém que os
defenda.
Quando assim acontece, pode afirmar-se
categoricamente que o governo está a agir criminosamente, pelo que deverá ser
feita justiça nos e pelos tribunais competentes.
Todavia, torna-se impossível que tal
aconteça, pois a esmagadora maioria do povo não possui os meios necessários
para levar á barra do tribunal todos esses políticos governantes que o
espoliam, exploram e maltratam com o melhor dos sorrisos nos lábios.
A violentação do povo acontece quando o
governo fomenta o desemprego, quando não suportam que os cidadãos se manifestem
ordeiramente contra as suas decisões, sem que o povo possa recorrer ao
presidente da República que, na generalidade dos casos, se coloca do lado do
prevaricador, o governo, que até faz parte da sua família política, apesar de
ter jurado cumprir e fazer cumprir a Constituição nacional.
Mas, quando o governo age de má fé, como
aliás tem sido o caso entre nós, logo surgem indivíduos a colocar-se do seu
lado, proferindo afirmações dirigidas ao povo, tais como: “ai aguenta, aguenta”,
no que respeita toda a austeridade imposta aos cidadãos, ou: “os salários
deveriam baixar”, tendo, por seu lado, asseguradas verdadeiras fortunas
mensalmente, pagas por todos os cidadãos que ainda conseguem manter um emprego
e pagar todos os impostos engendrados por um ministro das finanças pouco menos
que acéfalo e que toca as raias da estupidez, uma estupidez doentia,
confundível com um determinado grau de megalomania paranoide.
Tratar e recuperar pessoal e socialmente os
ofendidos é cada vez mais difícil, pois nas suas previsões, antecipam novas
medidas de austeridade, como a aplicação de novas taxas moderadoras no sistema
de saúde, que em muitos e muitos casos impedem o recurso aos especialistas, até
porque convém manter a maioria do povo obnubilada, alienada e a viver no seio
de profunda miséria humana.
E quando o povo se manifesta pelas ruas das
cidades do país, não hesitam um segundo que seja em enviar ao seu encontro as
forças da ordem, a quem dão ordens.
Espero que os portugueses saibam, dentro de
três dias apenas, mostrar-lhes que afinal estão vivos e sabem o que querem para
si e para os seus, isto é, para toda a população espezinhada, mostrando-lhes
uma vez mais que sempre são pessoas e que, como tal, sabem pensar e reagir,
fazendo saber a esses indivíduos que afinal, a justiça social pode estar muito
ferida, mas que se mantém viva, apesar de tudo terem tentado para acabar com
ela.
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