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terça-feira, 23 de abril de 2013

«CENTRO PROMOTOR DOS MELHORAMENTOS DAS CLASSES LABORIOSAS»

Uma das primeiras colectividades a surgir no movimento da emancipação operária, o Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, foi também um dos mais importantes.

Fundado em 1852, o seu primeiro presidente foi Rodrigues Sampaio, mas seria com o segundo presidente, Francisco Vieira da Silva, que o Centro viveria a sua época de ouro.

Com efeito, Vieira da Silva dedicou ao desenvolvimento desta associação o seu tempo livre, as suas capacidades criativas, o seu talento. Sousa Brandão redigiu os seus primeiros estatutos, os quais foram aprovados pelo governo em decreto de 16 de Junho de 1853.

Em 1870, o Centro Promotor reformulou esses estatutos, dando-lhes uma nova orientação baseada nos princípios da Internacional Operária, que, se constituiria na reunião de S. Martin’s Hall, em Londres.

Mas estes novos estatutos não chegaram a vigorar por terem sido dados como nulos todos os actos do governo do dia da publicação. A 8 de Março de 1872 foi retomada a revisão dos estatutos e aprovado então novo projecto, o qual tinha sido redigido por uma comissão constituída por Sousa Brandão, José Fontana, Nobre França, Luis Eça e Eduardo Maia, que foi o relator.

O Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas preocupou-se com o desenvolvimento cultural e educativo dos seus associados e foi criando, sucessivamente, actividades que permitissem pôr em prática esses objectivos: uma aula de instrução primária, uma biblioteca, um gabinete de leitura de jornais. A biblioteca foi inaugurada a 14 de Janeiro de 1871. Mas desde Fevereiro de 1853 que começou a ser publicado o Jornal do Centro Promotor, no qual colaboraram, entre outros, Manuel Gomes da Silva, António Nogueira, Ferreira da Conceição, Máximo Veloso.

O primeiro director do Jornal foi Rodrigues Sampaio; Francisco Vieira da Silva foi o segundo. Casal Ribeiro era o tesoureiro. Em 1872, já com feição socialista, o Centro Promotor publicou um manifesto dirigido aos operários de Portugal, exortando-os à fraternidade e à solidariedade entre as classes operárias, assim como à constituição de cooperativas de produção e consumo.

Este manifesto foi traduzido e publicado em vários jornais estrangeiros da época.

Desta associação nasceram outras de muita utilidade para o operariado; por exemplo, o Albergue dos Inválidos do Trabalho, cujo primeiro presidente foi Possidónio Narciso da Silva, que incansavelmente se dedicou ao desenvolvimento desse organismo.

O Centro Promotor era o local de reunião dos socialistas, dos liberais e dos republicanos desse tempo, nomeadamente José Fontana, Felizardo Lima, Sousa Brandão, Antero de Quental, Batalha Reis, Nobre França, Teófilo Braga.

Entretanto, as divergências que já se faziam sentir a nível mundial no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores tinham os seus ecos no Centro Promotor, onde duas correntes de opinião se desenhavam: uma que defendia a independência das classes operárias face á influência dos partidos políticos; outra que considerava de contexto político toda a actividade humana e, portanto, também a luta operária.

Muito particularmente por influência de José Fontana, a primeira opinião impôs-se, dando lugar a agregações de matizes diferentes. Assim, foi também deste Centro que nasceram, por um lado, a secção portuguesa da Associação Internacional dos Trabalhadores e todo o consequente incremento do movimento operário, com todas as lutas laborais, e, por outro lado, mais tarde, o Partido Socialista, tendo como objectivo a luta política.

Dava-se assim cumprimento às determinações do Congresso de Haia, a que o movimento português de resistência aderira e do qual foram principais defensores José Fontana e Antero de Quental.


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