Uma das primeiras colectividades a surgir no
movimento da emancipação operária, o Centro Promotor dos Melhoramentos das
Classes Laboriosas, foi também um dos mais importantes.
Fundado em 1852, o seu primeiro presidente
foi Rodrigues Sampaio, mas seria com o segundo presidente, Francisco Vieira da
Silva, que o Centro viveria a sua época de ouro.
Com efeito, Vieira da Silva dedicou ao
desenvolvimento desta associação o seu tempo livre, as suas capacidades
criativas, o seu talento. Sousa Brandão redigiu os seus primeiros estatutos, os
quais foram aprovados pelo governo em decreto de 16 de Junho de 1853.
Em 1870, o Centro Promotor reformulou esses
estatutos, dando-lhes uma nova orientação baseada nos princípios da
Internacional Operária, que, se constituiria na reunião de S. Martin’s Hall, em
Londres.
Mas estes novos estatutos não chegaram a
vigorar por terem sido dados como nulos todos os actos do governo do dia da
publicação. A 8 de Março de 1872 foi retomada a revisão dos estatutos e
aprovado então novo projecto, o qual tinha sido redigido por uma comissão
constituída por Sousa Brandão, José Fontana, Nobre França, Luis Eça e Eduardo
Maia, que foi o relator.
O Centro Promotor dos Melhoramentos das
Classes Laboriosas preocupou-se com o desenvolvimento cultural e educativo dos
seus associados e foi criando, sucessivamente, actividades que permitissem pôr
em prática esses objectivos: uma aula de instrução primária, uma biblioteca, um
gabinete de leitura de jornais. A biblioteca foi inaugurada a 14 de Janeiro de
1871. Mas desde Fevereiro de 1853 que começou a ser publicado o Jornal do
Centro Promotor, no qual colaboraram, entre outros, Manuel Gomes da Silva,
António Nogueira, Ferreira da Conceição, Máximo Veloso.
O primeiro director do Jornal foi Rodrigues
Sampaio; Francisco Vieira da Silva foi o segundo. Casal Ribeiro era o
tesoureiro. Em 1872, já com feição socialista, o Centro Promotor publicou um
manifesto dirigido aos operários de Portugal, exortando-os à fraternidade e à
solidariedade entre as classes operárias, assim como à constituição de cooperativas
de produção e consumo.
Este manifesto foi traduzido e publicado em
vários jornais estrangeiros da época.
Desta associação nasceram outras de muita
utilidade para o operariado; por exemplo, o Albergue dos Inválidos do Trabalho,
cujo primeiro presidente foi Possidónio Narciso da Silva, que incansavelmente
se dedicou ao desenvolvimento desse organismo.
O Centro Promotor era o local de reunião dos
socialistas, dos liberais e dos republicanos desse tempo, nomeadamente José
Fontana, Felizardo Lima, Sousa Brandão, Antero de Quental, Batalha Reis, Nobre
França, Teófilo Braga.
Entretanto, as divergências que já se faziam
sentir a nível mundial no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores
tinham os seus ecos no Centro Promotor, onde duas correntes de opinião se
desenhavam: uma que defendia a independência das classes operárias face á
influência dos partidos políticos; outra que considerava de contexto político
toda a actividade humana e, portanto, também a luta operária.
Muito particularmente por influência de José
Fontana, a primeira opinião impôs-se, dando lugar a agregações de matizes
diferentes. Assim, foi também deste Centro que nasceram, por um lado, a secção
portuguesa da Associação Internacional dos Trabalhadores e todo o consequente
incremento do movimento operário, com todas as lutas laborais, e, por outro
lado, mais tarde, o Partido Socialista, tendo como objectivo a luta política.
Dava-se assim cumprimento às determinações do
Congresso de Haia, a que o movimento português de resistência aderira e do qual
foram principais defensores José Fontana e Antero de Quental.
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