Tenho um amigo e colega que, quando se falava
de que era o povo quem mais ordenava, ele ria-se e dizia, com um ar irónico,
que sim senhor, só que “era o povo quem mais ordenha».
Não se tratava de um visionário, apenas se
apercebeu antes de todos nós, que realmente não se podia confiar minimamente
naqueles que transferiram todos os seus interesses para a política, dela se
servindo para pisar a cidadania, roubando-a de forma descarada do fruto do seu
suor causado pelo labor quotidiano, quando o tem e pode exercer as funções
inerentes às suas habilitações e capacidades.
No seguimento da Revolução dos Cravos,
acontecida a 25 de Abril de 1974, serenados os ânimos revolucionários, todos
trabalhavam com satisfação e até alegria, todos eram poucos para conduzir o
país rumo a um estatuto de país democrático e, nos dias próprios, o povo saía à
rua com satisfação, com o sentimento de solidariedade entre todos, sem os
emblemas partidários e sem que houvesse qualquer distinção ente cada um e entre
todos em especial.
Todas e todos eram simples cidadãos que, com
um cravo na mão comemoravam a coragem e a colaboração dos valorosos capitães que
tinham expulso o que restava da ditadura salazarista/marcelista, em plena
liberdade, coisa nunca antes vista em Portugal, e foram longos 48 anos de
repressão, de prisões arbitrárias nas masmorras da Pide, no exílio…
Muitos passaram tremendos momentos, muitos
haviam desaparecido para todo sempre,
deixando mulheres e filhos menores entregues a si próprios e sujeitos à miséria
e à fome.
Eram muitas as esperanças alimentadas num
futuro melhor, dentro do quadro democrático que nos foi oferecido pelos gloriosos
militares que tudo arriscaram para mudar Portugal.
Bem cedo, porém, se pôde verificar não haver
vontade de retirar os portugueses do obscurantismo político em que viviam até
ao momento em que os militares colocaram fim à ditadura.
As sessões de esclarecimento encetadas pelos
militares, cedo morreram, logo que regressaram aos quartéis e entregaram poder aos políticos, que tudo mudaram, que
com tudo acabaram, pois lhes convinha mais um povo ignorante, a quem
oferecessem uns passeios de vez em quando, com boas jantaradas e bem regadas, à
sua própria custa, embora lhes dissessem que se tratava de uma oferta fosse do
presidente da Câmara local, ou deste u daquele partido, mas que eram pagos com
os impostos de todos.
E, como aquelas e aqueles que nunca tinham
saído das suas terras, lá bem no profundo interior do país, irem até Lisboa ou
até ao Porto ou Coimbra, e ainda por cima com tudo pago, era um verdadeiro
milagre, uma verdadeira dádiva daqueles “tão bons autarcas ou políticos”, que
com o dinheiro de todos pagavam esses
passeios e jantares nunca antes degustados.
Assim começou a espalhar-se a corrupção nas
autarquias e entre s políticos em geral e, como houvesse quem falasse e
demonstrasse que efectivamente assim era, também isso começou a rarear, mudando
o calendário para poderem, durante as campanhas eleitorais poderem colocar
autocarros e proporcionar jantaradas aos que nada têm, aos que recebem pensões
miseráveis.
A coisa, apesar de tudo, surte ainda o efeito
desejado, juntamente com aquelas promessas que até parecem sérias, de que “comigo
(connosco) no governo não mais seja quem for passará fome”, “connosco no
governo todas as crianças poderão fazer as três refeições diárias”, “connosco no
governo, todos conhecerão a felicidade”, porque para nós o que conta são as
pessoas!
Realmente, dizem a verdade, embora de forma
camuflada, porque realmente primeiro estão as pessoas, mas para pagar os
descarados roubos que fazem desde o momento em que são eleitos.
Mas, infelizmente, ainda há quem prefira não
compreender o que efectivamente se passa nesta grande aldeia que é Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário