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quarta-feira, 24 de abril de 2013

A classe média

Ler…só faz bem

Uma multidão à volta da cama do Dr. Mário Soares

Há uns anos Jorge Coelho contou numa entrevista que possivelmente não estaria ali se quando teve um cancro no ouvido o tratamento  não tivesse sido tão rápido, verdadeiramente VIP.

Quando a doença lhe apareceu, o seu amigo Dias Loureiro, um verdadeiro irmão (como Coelho lhe chama), intercedeu junto de Durão Barroso, então primeiro-ministro, para marcar uma consulta junto de um grande especialista médico francês com lista de espera no consultório.

Durão Barroso telefonou ao então presidente francês Jacques Chirac para  concretizar o pedido. Este telefonou depois para o consultório e marcou a consulta para... Jorge Coelho.

Quando Coelho viajou para Paris e se sentou no gabinete médico, o especialista disse-lhe que sabia que a consulta tinha sido marcada por Chirac e alertou-o que para ele  os doentes eram todos iguais...   
       
Vem isto a propósito de outra história médica, contada por Mário Soares na entrevista de sábado passado à jornalista Ana Sá Lopes do i:  
    
"Estive à morte, inconsciente, durante cerca de dez dias. Fui salvo graças a um médico excelente do Hospital da Luz, o Prof. Ferro. No que diz respeito à encefalite, a equipa médica entre a qual distingo José Roquete, João Sá, Nuno Cardim, João Strecht, além da sábia Maria de Sousa, que contactou o grande neurocientista António Damásio, na Califórnia, grande amigo, que manteve um contacto constante com a equipa que me tratou e salvou. Quanto ao resto, quando recuperei a consciência, comecei a fazer o que sempre fiz, com o meu médico, Daniel Matos (que foi quem me levou para o hospital) e a quem sempre como é meu hábito obedeci.

Também tive a sorte ser tratado, durante a convalescença, com a enfermeira-chefe Paula Caetano, que cuidou de mim com autêntica devoção."

É grande, como se vê, a panóplia de meios que esteve ao dispor de Soares no hospital da Luz, um hospital privado.   

Quando Soares esteve doente, o jornalista José Manuel Fernandes perguntou: Por que é que o Dr. Mário Soares não recorreu aos serviços de um hospital público?

Os mais ricos e influentes sempre evitaram o Serviço Nacional de Saúde (mesmo os que o criaram como Soares)  Quando precisam, colocam outros meios em acção.

Hoje, com a crise económica, era mesmo impossível ver Soares ou Coelho no SNS.

Este, alvo de cortes, degradado, sem reformas do poder político que ponham fim ao paradigma médico e  medicamentoso, melhorando a qualidade do sistema, está dirigido para os mais pobres (que não pagam  taxas moderadoras) e têm menor capacidade reinvindicativa.  

A classe média está fora do SNS por outras razões. Sem isenção de taxas moderadoras tem cada vez menos dinheiro para recorrer aos serviços (como também acontece na justiça, a classe média não tem acesso ao apoio judiciário e as custas judiciais são altas).  

Talvez seja hoje a classe média a mais desprotegida em termos de saúde. É daqui que mais facilmente pode germinar a revolta. 

Os casos de Coelho e Soares não ajudam....   
       
F. P.


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