Ler…só faz bem
Uma multidão à volta da cama do Dr. Mário Soares
Há uns anos Jorge
Coelho contou numa entrevista que possivelmente não estaria ali se quando teve
um cancro no ouvido o tratamento não tivesse sido tão rápido,
verdadeiramente VIP.
Quando a doença lhe apareceu, o seu amigo Dias
Loureiro, um verdadeiro irmão (como Coelho lhe chama), intercedeu junto de
Durão Barroso, então primeiro-ministro, para marcar uma consulta junto de um
grande especialista médico francês com lista de espera no consultório.
Durão Barroso
telefonou ao então presidente francês Jacques Chirac para concretizar o
pedido. Este telefonou depois para o consultório e marcou a consulta
para... Jorge Coelho.
Quando Coelho viajou para Paris e se sentou no
gabinete médico, o especialista disse-lhe que sabia que a consulta tinha sido
marcada por Chirac e alertou-o que para ele os doentes eram todos
iguais...
Vem isto a propósito
de outra história médica, contada por Mário Soares na entrevista de sábado
passado à jornalista Ana Sá Lopes do i:
"Estive à morte,
inconsciente, durante cerca de dez dias. Fui salvo graças a um médico excelente
do Hospital da Luz, o Prof. Ferro. No que diz respeito à encefalite, a equipa
médica entre a qual distingo José Roquete, João Sá, Nuno Cardim, João Strecht,
além da sábia Maria de Sousa, que contactou o grande neurocientista António
Damásio, na Califórnia, grande amigo, que manteve um contacto constante com a
equipa que me tratou e salvou. Quanto ao resto, quando recuperei a consciência,
comecei a fazer o que sempre fiz, com o meu médico, Daniel Matos (que foi quem
me levou para o hospital) e a quem sempre como é meu hábito obedeci.
Também tive a sorte
ser tratado, durante a convalescença, com a enfermeira-chefe Paula Caetano, que
cuidou de mim com autêntica devoção."
É grande, como se vê,
a panóplia de meios que esteve ao dispor de Soares no hospital da Luz, um
hospital privado.
Quando Soares esteve doente, o jornalista José Manuel Fernandes perguntou:
Por que é que o Dr. Mário Soares não recorreu aos serviços de um hospital
público?
Os mais ricos e influentes sempre evitaram o Serviço
Nacional de Saúde (mesmo os que o criaram como Soares) Quando precisam,
colocam outros meios em acção.
Hoje, com a crise
económica, era mesmo impossível ver Soares ou Coelho no SNS.
Este, alvo de cortes, degradado, sem reformas do poder
político que ponham fim ao paradigma médico e medicamentoso, melhorando a
qualidade do sistema, está dirigido para os mais pobres (que não pagam
taxas moderadoras) e têm menor capacidade reinvindicativa.
A classe média está
fora do SNS por outras razões. Sem isenção de taxas moderadoras tem cada vez
menos dinheiro para recorrer aos serviços (como também acontece na justiça, a
classe média não tem acesso ao apoio judiciário e as custas judiciais são
altas).
Talvez seja hoje a classe média a mais
desprotegida em termos de saúde. É daqui que mais facilmente pode germinar a
revolta.
Os casos de Coelho e Soares não ajudam....
Os casos de Coelho e Soares não ajudam....
F. P.
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