A generalidade dos cidadãos vota num boletim
onde existem apenas símbolos partidários. Também na generalidade, não conhecem
aqueles que serão eleitos, graças à cruz que faz no boletim de voto. Portanto,
o seu voto, em vez de ser oferecido a uma pessoa, é-o a um partido político.
Depois, os cidadãos clamam por um melhor
comportamento dos seus representantes na Assembleia da República, uma vez que
eles se limitam a defender os seus interesses, seus e dos seu partido, jamais
os dos cidadãos que os elegeram.
Daí que, em muitos casos, os líderes
partidários imponham a disciplina de voto na defesa de um projecto de lei, por
uma proposta de mais e mais austeridade imposta ao povo, mais leis aberrantes e
degradantes, que os deputados aprovam, em muitos casos sem conhecerem a
substância do documento.
Dizem hoje os jornalistas que a moção de
censura ontem apresentada pelo PS foi derrotada pelos votos dos partidos da
coligação que sustenta o governo, votando todos eles à revelia do povo que os
elegeu, já que a esmagadora maioria da cidadania demonstrou desejar a demissão
deste desastroso governo. Não se poderia agir eficazmente sobre o que se ignora
ou se compreende mal.
De facto, quem não vê que essa renúncia do
espírito leva directamente á frouxidão da vontade e da prória democracia?
Porque me esgotaria em observar e analisar o que digo impenetrável à minha
razão? Porque procuraria constantes, onde só há o imprevisível? Porque tentaria
formular leis, quando tudo não é senão efeito de má interpretação de como deve
ser vivida a democracia?
Porque pretendem, pois, que a cidadania ande
às cegas, e que a sorte lhe sirva de guia? Porque razão se teima em manter o
povo português nesse horrendo obscurantismo, e ao mesmo tempo se afirma que se
vive uma democracia representativa em Portugal? Afinal, quem representam os
deputados? O povo, que os elegeu, ou tão-só os interesses partidários e dos
seus apoiantes?
É isso que muitos cidadãos percebem e, para
melhor compreenderem, e melhor agirem, impõe-se a exposição de casos concretos
tirados da experiência destes anos de um regime democrático bastante frágil e
muito delicado.
Os princípios gerais são conhecidos. Mas
entre a teoria e a prática há um limite que não se ousa transpor, por medo de
perder uma quantidade substancial de deputados.
Um indivíduo de Bragança que apresenta a sua candidatura
pela circunscrição de Coimbra ou outra qualquer, este exemplo deve
multiplicar-se por todos os distritos e concelhos.
Se há cidadãos que além de conhecer esses
verdadeiros paraquedistas, na sua maioria esmagadora, trata-se de ilustres
desconhecidos que, se eleitos, vão simplesmente defender e votar de acordo com
os interesses partidários, como digo antes.
Eles próprios sabem que representam um
problema para o “Zé-Povinho”, como também o sabem as autoridades e os líderes
dos partidos, mas todos se limitam a dar aos ombros, demonstrando o maior
desprezo pela cidadnia em geral.
Uma vez escolhidos para apresentarem a sua
candidatura, por exemplo por Aveiro, tendo a sua residência em Lisboa, que lhes
importa vir a defender outros interesses que não os próprios e dos seus
partidos?
Uma vez eleitos, logo demonstram que o povo
não passa de um entre muitos escolhos, que colocam de lado, limitando-se a
defender, com unhas e dentes, os únicos
interesses dos seus grupos.
E ninguém, apesar de haver muitos pensadores
em Portugal, e de alguns deles pretenderem uma revisão da Constituição para
fins unicamente de interesse partidário, nenhum deles quer dar ao povo o que
lhe pertence por direito próprio.
Infelizmente, o mesmo se passa com as
eleições autárquicas. E pergunto: “A continuar assim, como se pode pretender
que Portugal saia deste beco sem saída onde os políticos, desde há anos, o
colocaram? Porque todos os males que nos afectam já vêm de longe, embora alguns
gostem de afirmar que o único culpado se chama José Sócrates.
E, além disso, para quê 230 deputados, aos
quais alguns chamam de parasitas ou mesmo de “chulos”?
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