Pedro
Passos Coelho anunciou, nesta sexta-feira, um pacote de cortes na despesa
pública, que inclui alterações na idade de reforma e a dispensa de 30 mil
funcionários públicos. Ao todo são 4800 milhões. Os cortes só aliviam em 2015,
ano de eleições.
A idade legal da reforma vai continuar a ser de 65 anos, mas
para receber a pensão completa os trabalhadores dos sectores público e privado
terão que trabalhar até aos 66 anos. Esta é uma das principais medidas
anunciadas por Pedro Passos Coelho, que avançou também que o Governo conta
dispensar 30 mil funcionários públicos, via rescisões amigáveis e alterações no
regime de mobilidade especial, onde os funcionários só poderão estar durante 18
meses.
Numa
comunicação ao país, sem direito a perguntas, o primeiro-ministro explicou que
será alterada a regra de determinação do factor de sustentabilidade das
pensões.
“Iremos alterar a regra de
determinação do factor de sustentabilidade aplicável na determinação do valor
futuro das pensões, de modo a que a idade de passagem à reforma dos sistemas
públicos de pensões sem penalização se fixe nos 66 anos de idade”, anunciou
Passos Coelho.
“Isto quer dizer que a idade legal
de reforma se mantém nos 65 anos, mas que só aos 66 não haverá qualquer
penalização”, precisou.
Outras das medidas mais fortes é a dispensa de 30 mil funcionários do Estado,
concretizada quer através de rescisões amigáveis, quer no âmbito do novo
Sistema de Requalificação da Administração Pública, que vem substituir a
mobilidade especial.
A nova mobilidade especial entra
em vigor já neste ano, enquanto as rescisões por mútuo acordo terão de ser
pedidas pelos trabalhadores entre Setembro e Novembro e, por isso, só no
próximo ano deverão produzir efeitos.
De acordo com a portaria a que o
PÚBLICO teve acesso, só serão abrangidos pelo programa os trabalhadores que
reúnam cumulativamente quatro condições. Têm que estar na carreira
de assistente técnico ou operacional (ou em carreiras equivalentes), ter até 59
anos, contrato de trabalho em funções públicas por tempo indeterminado e estar
a pelo menos cinco anos de atingir a idade legal da reforma que lhes seja
aplicável.
40 horas
semanais e convergência público-privado
A aproximação ao sector privado tem sido defendida pelo Governo e será acentuada pelo aumento do horário de trabalho da função pública de 35 para 40 horas semanais já neste ano, como anunciou também Passos Coelho.
A aproximação ao sector privado tem sido defendida pelo Governo e será acentuada pelo aumento do horário de trabalho da função pública de 35 para 40 horas semanais já neste ano, como anunciou também Passos Coelho.
O acesso à reforma na função
pública também vai sofrer alterações. Serão eliminados os regimes de
bonificação de tempo de serviço que, afirmou Pedro Passos Coelho, “expandem
desigualmente as carreiras contributivas entre diferentes tipos de actividade
profissional, criando situações injustas”. Será “mais um contributo para
reforçar a igualdade e a sustentabilidade do sistema”, sublinhou.
O Executivo quer ainda fazer
convergir as regras de determinação das pensões atribuídas pela Caixa Geral de
Aposentações com as regras da Segurança Social. Na óptica de Passos Coelho, os
trabalhadores do sector público e privado ficam “numa situação de maior igualdade”.
De acordo com os números enviados pelo Executivo à troika,
esta é a medida que irá conduzir a uma maior redução da despesa do Estado, já a
partir do próximo ano.
Com o foco dirigido aos
trabalhadores do Estado, Passos Coelho anunciou ainda que as contribuições para
a ADSE (o subsistema de saúde aplicado à generalidade dos funcionários
públicos) e para outros subsistemas de saúde (Assistência na Doença dos
Militares e Serviço de Assistência na Doença da PSP e GNR) passam de 1,5% para
2,25% já neste ano. E a partir de Janeiro de 2014, passará a ser de 2,5%. “Esta
proposta visa diminuir as transferências que todos os anos provêm do Orçamento
do Estado para esses subsistemas e, portanto, assegurar a sua sustentabilidade,
suavizando o esforço em dois anos”, disse Passos Coelho.
Os actuais pensionistas podem
contar, por outro lado, com uma nova taxa, baseada na contribuição extraordinária
de solidariedade que está a ser aplicada às pensões acima de 1350 euros. Passos
Coelho sublinhou que quer minimizar esta contribuição e, para isso, vai
associá-la ao “andamento” da economia “para que haja uma relação automática
entre, por um lado, o crescimento económico e, por outro, a redução gradual e
progressiva dessa mesma contribuição”. É uma medida temporária.
Cortes de
4800 milhões aliviam em ano eleitoral
No total, as medidas apresentadas pelo primeiro-ministro têm um valor total próximo de 4800 milhões de euros até 2015, ano de eleições e em que os cortes são aliviados.
No total, as medidas apresentadas pelo primeiro-ministro têm um valor total próximo de 4800 milhões de euros até 2015, ano de eleições e em que os cortes são aliviados.
Estas medidas incluem uma poupança de 1458 milhões nas pensões do sector privado e
público.
Nos cortes sectoriais, o
ministério da Segurança Social será o mais afectado, com poupanças de 819
milhões de euros até 2015, logo seguido pela Educação, com 756 milhões.
Apelo ao
consenso, críticas da oposição
No seu discurso, Passos Coelho insistiu na abertura do Governo para o diálogocom os parceiros sociais. E sublinhou que dá prioridade a medidas que “envolvam mudanças na actividade das pessoas, e não a cortes no seu rendimento”.
No seu discurso, Passos Coelho insistiu na abertura do Governo para o diálogocom os parceiros sociais. E sublinhou que dá prioridade a medidas que “envolvam mudanças na actividade das pessoas, e não a cortes no seu rendimento”.
Esta mensagem foi também reforçada
numa carta enviada à troika, em
que o primeiro-ministro se compromete com "a construção do consenso"
neste plano de cortes.
Só que na primeira reacção a oposição criticou a opção por mais austeridade.
Em entrevista à TVI, António José Seguro disse que as novas medidas são "péssimas notícias" e criticou o Governo
por continuar "com uma receita errada”. As centrais sindicais mostraram-se
indignadas, com medidas que consideram inaceitáveis, enquanto
os pensionistas se confessaram transtornados. Bagão Félix, ex-ministro das
Finanças e da Segurança Social, acusou mesmo o Ministério das Finanças de ter
lançado "uma OPA hostil sobre as pensões".
RESUMO DAS MEDIDAS ANUNCIADAS POR PASSOS COELHO
- Idade de reforma mantém-se nos
65 anos, mas a reforma sem penalização só será
possível aos 66 anos.
- Nova
taxa (“contribuição de sustentabilidade”) sobre as pensões,
que terá como base a contribuição extraordinária de solidariedade que está a
ser aplicada às pensões acima de 1350 euros. Passos Coelho disse que as pensões
mais baixas não serão afectadas.
- Eliminação dos regimes de bonificação de tempo de serviço para efeitos de
acesso à reforma.
- Convergência das regras de determinação das pensões atribuídas pela Caixa Geral de
Aposentações com as regras da Segurança Social, "fazendo com que os
trabalhadores do sector público e privado fiquem numa situação de maior
igualdade"
- Dispensa de 30 mil funcionários públicos,
por via de rescisões amigáveis e das alterações da mobilidade
especial.
- Transformação do Sistema
de Mobilidade Especial num
novo Sistema de Requalificação da Administração Pública, impondo um limite de 18
mesespara a permanência dos funcionários públicos neste regime.
- Aumento do horário
de trabalho da
função pública de 35 para 40 horassemanais em 2013.
- Aumento em 0,75 pontos percentuais da contribuição
para a ADSE e
para a Assistência na Doença dos Militares (ADM) e os Serviço de
Assistência na Doença (SAD) da PSP e GNR já neste ano, e mais 0,25 pontos
percentuais no início de 2014.
- Revisão
da tabela remuneratória única,
em conjunto com a elaboração de uma tabela única de suplementos para aplicação
aos trabalhadores em exercício de funções públicas, para nivelar as
remunerações com os salários praticados na economia.
- Férias dos funcionários baixam de mais de 25 dias por
ano para 22 diasem linha com o
sector privado. Carta de Passos à troika também diz que passam a aplicar regras
de despedimento colectivo no sector público.
- Idade de acesso à situação de reserva
e pré-aposentação nas Forças Armadas,
GNR e PSP passará dos 55 para os 58 anos
- Poupanças de, no mínimo de 10% face a 2013, nas despesas correntes dos ministérios.
=Público=
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