Aqueles que dele fazem parte estão unidos,
menos por reais afinidades do que por curiosidades nascentes. No fundo, são
seres à parte, que não sabem fixar-se. A sua semelhança intelectual, moral,
sentimental.., é muito menos acentuada.
Agrupam-se apenas por razões bastante
negativas: inicialmente,porque são implicitamente rejeitados pelos “outros”,
cuja segurança interior comprometeriam; em segundo lugar, porque, mais vulgares
ou, se se prefere, moralmente menos susceptíveis, não experimentam aquela necessidade
de autodefesa que tão intensamente sentem os “outros”; finalmente porque, mais
audaciosos nas resoluções, dizem o que pensam e o que fazem sem reticências.
Ordinariamente, o que não sucede com o
primeiro grupo, este tem um chefe, do qual dependerá em grande parte a
moralidade dos próprios e mesmo das acções.
Da sua influência dependem o bem e o mal. Aí,
tudo é livremente comentado, e tanto pior para aqueles que se melindram.
Como se vê, a fineza de alma, aí, é bem
menor, e é por isso que o primeiro clã, sem ousar declarar guerra ao segundo,
se contenta com ignorá-lo.
Às vezes,raramente, um membro de um dos dois
grupos une-se ao clã adverso. É um transfuga, que dificilmente será aceite sem
prevenções. De início será tolerado, e só será acolhido muito mais tarde,
quando houver cumprido o seu estágio.
Ao redor dos dois clãs gravitam os
independentes. Têm horror a tudo o que pode restringir a sua liberdade.
Ingressar num grupo cuja base é uma determinada concepção de vida, só lhes
causa inquietação.
Esses solitários são, bem ou mal recebidos
por ambos os campos, contanto que seja a título temporário.
Que eles não exijam, também, uma confiança
que não se poderia conceder-lhes. Não são aceites sem irritação. Sentem-no e
voltam, muito depressa ao seu isolamento.
Se esses solitários encalham nalgum lugar,
será mais no segundo grupo do que no primeiro. A sua mediocridade ou o seu
orgulho, não lhes permitirá o acesso ao primeiro, que, sem que o perceba, fez
da sensibilidade moral a sua lei constitutiva.
Dizia-se e continua a dizer-se que
actualmente este país se transformou num verdadeiro circo onde todos os “artistas”
se salvam ou se perdem pelas suas amizades. É que elas são o reflexo de si
mesmos, da sua estrutura psicológica, das suas aspirações secretas.
Não vou ao ponto de afirmar que a sua
segurança é total. Mas a protecção que encontram no seio do seu grupo é para
ele, eles, sem qualquer dúvida, a sua principal protecção contra a fraqueza
própria e a alheia.
Entre os palhaços há sempre os ricos e os
pobres, e tal como na vida em sociedade, são sempre os ricos quem se elevam
acima dos demais, não permitindo que o próprio público deixe de rir por todas
as “partidas” que lhes pregam.
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