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sábado, 25 de maio de 2013

«O CIRCO PORTUGAL»

Aqueles que dele fazem parte estão unidos, menos por reais afinidades do que por curiosidades nascentes. No fundo, são seres à parte, que não sabem fixar-se. A sua semelhança intelectual, moral, sentimental.., é muito menos acentuada.

Agrupam-se apenas por razões bastante negativas: inicialmente,porque são implicitamente rejeitados pelos “outros”, cuja segurança interior comprometeriam; em segundo lugar, porque, mais vulgares ou, se se prefere, moralmente menos susceptíveis, não experimentam aquela necessidade de autodefesa que tão intensamente sentem os “outros”; finalmente porque, mais audaciosos nas resoluções, dizem o que pensam e o que fazem sem reticências.

Ordinariamente, o que não sucede com o primeiro grupo, este tem um chefe, do qual dependerá em grande parte a moralidade dos próprios e mesmo das acções.

Da sua influência dependem o bem e o mal. Aí, tudo é livremente comentado, e tanto pior para aqueles que se melindram.

Como se vê, a fineza de alma, aí, é bem menor, e é por isso que o primeiro clã, sem ousar declarar guerra ao segundo, se contenta com ignorá-lo.

Às vezes,raramente, um membro de um dos dois grupos une-se ao clã adverso. É um transfuga, que dificilmente será aceite sem prevenções. De início será tolerado, e só será acolhido muito mais tarde, quando houver cumprido o seu estágio.

Ao redor dos dois clãs gravitam os independentes. Têm horror a tudo o que pode restringir a sua liberdade. Ingressar num grupo cuja base é uma determinada concepção de vida, só lhes causa inquietação.

Esses solitários são, bem ou mal recebidos por ambos os campos, contanto que seja a título temporário.

Que eles não exijam, também, uma confiança que não se poderia conceder-lhes. Não são aceites sem irritação. Sentem-no e voltam, muito depressa ao seu isolamento.

Se esses solitários encalham nalgum lugar, será mais no segundo grupo do que no primeiro. A sua mediocridade ou o seu orgulho, não lhes permitirá o acesso ao primeiro, que, sem que o perceba, fez da sensibilidade moral a sua lei constitutiva.

Dizia-se e continua a dizer-se que actualmente este país se transformou num verdadeiro circo onde todos os “artistas” se salvam ou se perdem pelas suas amizades. É que elas são o reflexo de si mesmos, da sua estrutura psicológica, das suas aspirações secretas.

Não vou ao ponto de afirmar que a sua segurança é total. Mas a protecção que encontram no seio do seu grupo é para ele, eles, sem qualquer dúvida, a sua principal protecção contra a fraqueza própria e a alheia.


Entre os palhaços há sempre os ricos e os pobres, e tal como na vida em sociedade, são sempre os ricos quem se elevam acima dos demais, não permitindo que o próprio público deixe de rir por todas as “partidas” que lhes pregam.

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