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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cavaco falhou declaração de compromisso para o pós-troika

Ponto do comunicado do Conselho de Estado que garantia consensos para o futuro caiu, por oposição dos socialistas.
Cavaco Silva teve de prescindir de um dos pontos que queria colocar no comunicado

O projecto de comunicado que o Presidente da República levava para o Conselho de Estado continha um ponto que ficou pelo caminho.
Cavaco Silva gostaria que o documento resultante da reunião de segunda-feira plasmasse, de alguma forma, o consenso das mais altas instituições do Estado, do principal partido da oposição e dos “senadores” políticos quanto aos compromissos que Portugal terá de assumir no futuro, mesmo depois do programa de assistência económica e financeira. Mas falhou esta declaração de compromisso, sobretudo devido à oposição do secretário-geral do PS e de conselheiros mais à esquerda.
A discussão sobre o teor do comunicado começou ao fim de seis horas de reunião do Conselho de Estado, cuja ordem de trabalhos eram as “Perspectivas da Economia Portuguesa no pós-troika no quadro de uma União Económica e Monetária efectiva e aprofundada”.
E foi preciso quase uma hora para se chegar à redacção final *, criticada até por alguns conselheiros por ser demasiado abstracta e não reflectir o que lá se passou. António José Seguro terá afirmado que aquela declaração não era fiel ao que havia sido dito na reunião e Cavaco Silva acabou por riscar, literalmente, o parágrafo.
Antes disso, vários conselheiros tinham focado a falta de consenso nacional, tanto no presente como para o futuro. Jorge Sampaio foi um deles, ao afirmar que o tempo de negociação e compromisso já passou. Manuel Alegre também o deixou claro, assim como Mário Soares – cuja intervenção foi sobretudo crítica para com a actuação do Presidente da República. E também o presidente do Tribunal Constitucional (TC) se tinha referido ao tema quando, na sua intervenção, afirmara que o primeiro pressuposto para o consenso é respeitar a Constituição.
·         Depois de sete horas de reunião, os conselheiros do Presidente da República defenderam a necessidade de se promover um “adequado equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à actividade económica” no seio dos Estados-membros, com a ajuda das instituições europeias. Discutiu-se também a questão tão actual da garantia dos depósitos bancários abaixo dos 100 mil euros.
Em comunicado lido pelo secretário do Conselho de Estado, os conselheiros consideram que cabe ao programa de aprofundamento da União Económica e Monetária criar condições para que a União Europeia e os Estados-membros “enfrentem, com êxito, o flagelo do desemprego que os atinge e reconquistem a confiança dos cidadãos”.
Há um mês, em viagem de Estado à Colômbia, o Presidente da República afirmou que os portugueses têm feito grandes sacrifícios e que o país “estaria melhor se as instituições europeias também fizessem a sua parte”.
Numa só página com cinco pontos, os 18 conselheiros de Cavaco Silva descrevem ainda as temáticas que abordaram nesta longa reunião, mas sem tomar mais nenhuma posição concreta. Se temas de política interna foram abordados, isso não consta desta comunicação oficial.
Nos restantes pontos do comunicado, o Conselho de Estado descreve que se debruçou sobre os “desafios que se colocam ao processo de ajustamento português no contexto das reformas em curso na União Europeia e tendo em vista o período pós-troika”. Mas não identifica tais desafios nem como os ultrapassar.
No quadro da criação de uma União Bancária, lê-se também no documento, “o Conselho analisou a instituição dos mecanismos de supervisão, de resolução de crises e de garantia de depósitos dos bancos”, considerada um “passo da maior importância para corrigir a actual fragmentação dos mercados financeiros da zona euro”. Sobre a questão da garantia dos depósitos bancários, o ministro das Finanças assegurou há dias que os depósitos abaixo dos 100 mil euros estão sempre assegurados e são intocáveis.
Os conselheiros do Presidente da República contam ainda que se debruçaram sobre a perspectiva do “reforço da coordenação das políticas económicas e da criação de um instrumento financeiro de solidariedade destinado a apoiar as reformas estruturais dos Estados-membros, visando o aumento da competitividade e o crescimento sustentável”. Mas também não se manifestam sobre como e até que ponto pode ser reforçada essa coordenação nem as condições desse instrumento financeiro.
Sampaio: Reunião “foi interessante”

A reunião do Conselho de Estado terminou no palácio de Belém cerca da meia-noite. À saída, boa parte dos conselheiros limitou-se a dizer "boa noite" aos jornalistas.
O ex-Presidente da República Jorge Sampaio foi mais explícito: deu um passo atrás para afirmar que a reunião "foi interessante". Parecia querer dizer mais alguma coisa, mas depois retraiu-se. Questionado se saía “preocupado” do encontro, Sampaio respondeu que “preocupante está tudo": "Olhem para a Síria…”
Questionada pelos jornalistas sobre se a reunião correu bem, a presidente da Assembleia da República respondeu "correu, correu". “Bom, agora não vamos falar mais disso”, apressou-se a acrescentar Assunção Esteves. O ex-Presidente Ramalho Eanes também lançou um “bem, muito bem”, à mesma pergunta.
Mário Soares foi o primeiro a sair da reunião às 19h40, enquanto os restantes conselheiros só abandonaram a sala depois da meia-noite. No fim da reunião os conselheiros saíram quase todos aos pares. O primeiro-ministro saiu a conversar, sorridente, com o ex-ministro centrista Bagão Félix, mas nem sequer levantou os olhos para os jornalistas. Os dois ficaram depois largos minutos a conversar ao fundo das escadas do palácio.
=Público=

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