Enquanto na capital o presidente e os
conselheiros de Estado se reuniam, durante sete horas, para chegarem à
conclusão que é preciso defender o equilíbrio entre a disciplina financeira e a
solidariedade, no Vaticano, o papa Francisco, segundo afirmam alguns, deu-se ao
trabalho de fazer um exorcismo numa criança doente.
Poderão perguntar-me que tem a ver uma coisa
com a outra, e com toda a simplicidade responderei que muito, pois quem está
necessitado de um verdadeiro exorcismo é Portugal e os portugueses, visto
andarem por aí muitos demónios à solta, que de tudo o que renda dinheiro se
apoderam ou vendem a quem dê mais, enquanto que os portugueses, que não sentem
equilíbrio algum nas decisões “superiormente” tomadas, pelo contrário, decidem
fazer manifestações e até greves. Imagine-se!
È que, apesar de empregarem o termo
solidariedade, omitem a quem ela deverá ser dirigida, se aos mesmos de sempre,
os detentores do capital, porque não creio que possam pretender que seja
dirigida aos desempregados, aos doentes, às crianças que passam fome, ao “cisma
grisalho” – essa peste – aos pensionistas e reformados ou aos desempregados de
longa duração.
Também assim acontece quanto ao crescimento e
à competitividade, crescimento saudável das crianças e competitividade mesmo
que o campeonato já tenha terminado.
Sete horas de reunião, ao fim das quais
Abílio Morgado, secretário do “conclave laico”, também conhecido por Conselho
de Estado, limita-se a ler um comunicado aos jornalistas um comunicado com
cinco pontos, citando as questões que proporcionaram o entretenimento e a
justificação do recebimento das senhas da presença dos “cardeais da política
nacional” que, em caso de dúvidas se encontra à disposição do presidente da República.
Ora, como o actual presidente da República afirmou um dia que nunca se enganava
e raramente tinha dúvidas, para quê a existência desse grupo de fazedores de
nada que se limitam, quase na totalidade, a ouvir, remexerem o traseiro
tentando aliviar as nádegas da sustentação do seu peso nelas depositado por
tantas horas seguidas.
O que é engraçado, mas sem piada alguma, é que,
falando de solidariedade ninguém tenha falado na palavra “social”. Porquê?
Todavia, falaram de uma União Europeia Económica e Monetária efectiva e aprofundada,
mas nada de lhe colocarem o apêndice social.
Assim, mesmo que se tratasse de mais uma
mentira, às quais já começamos a estar habituados, como às mistificações – e a reunião de ontem foi apenas mais uma – na tentativa
de acalmar certos ânimos exaltados, que cerca de quinhentas pessoas
manifestaram para lá das grades colocadas em frente à fachada do palácio de
Belém, onde se batiam testos e se exigia a retirada da troika, a demissão do
governo e a retirada do presidente e as tais eleições antecipadas que tanta
falta fazem para melhorar e amainar as tempestades mentais sofridas pelos
cidadãos, no activo ou já não, mas que são quem paga as favas por outros
comidas e colhidas, e bem armazenadas nos seus celeiros no estrangeiro. Será
que, bem refastelados como estavam na sala de reuniões podiam ouvir o que se
passava lá fora? Se ouviam, nada disseram, nada se dirá.
Mas certamente que falaram sobre a
necessidade de criarem postos de trabalho, mesmo usando palavras fortes ao referir-se
ao desemprego galopante em Portugal, tratando-o mais uma vez de flagelo, mas
também e sobretudo de ser reconquistada a confiança dos cidadãos, que se
encontra de rastos, graças a todas as promessas não cumpridas pelo senhor Pedro
e seus homens de mão.
Importa-lhes, especialmente, criar melhores
condições para que os capitalistas e banqueiros enriqueçam cada vez mais, o que
leva a concluir que, afinal, onde o exorcismo era necessário era mesmo em
Portugal, para afastar todos os demónios que possuem os políticos e seus
apaniguados, fazendo com que seja sobre o povo português que recaiam todos os
malefícios causados pela moeda única e pela desfaçatez e forma como a Europa e
sua zona euro estão a ser geridas.
O que ficou bem patente e que subirá de tom,
é que é necessário romper com a troika e toda essa austeridade e que quem
cometeu as fraudes que conduziram o país onde se encontra, sejam chamados a
pagar por tudo quanto de mal lhe fizeram.
Sem comentários:
Enviar um comentário