Se um
professor for “eficiente” pode ter turmas maiores e deve ser pago com base nos
resultados dos alunos, diz o norte-americano.
Eric
Hanushek defende turmas com mais alunos
Eric Hanushek começou por fazer carreira na Força
Aérea dos Estados Unidos, onde tirou a licenciatura. Mais tarde, fez o
doutoramento em Economia no Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT, na
sigla inglesa). Actualmente é investigador no Instituto Hoover, na Universidade
de Stanford e dedica-se a temas da Economia da Educação. Esteve recentemente em
Espanha, a convite do ministro da Educação espanhol; e está, esta
segunda-feira, em Lisboa, para participar na conferência “Educação, Ciência, Competitividade”,
organizada pelo Ministério da Educação e Ciência. A sua intervenção terá como
tema “Políticas Educativas para a Qualidade e para o Crescimento Económico”.
O PÚBLICO entrevistou o professor por correio
electrónico. Económico nas respostas, Eric Hanushek considera importante, nos
resultados académicos dos alunos, o impacto dos “professores de qualidade” e
defende que os docentes sejam avaliados pelo desempenho dos estudantes. À
investigação que conclui que o aproveitamento escolar melhoraria com turmas
mais pequenas, Hanushek discorda e responde que esses resultados são residuais
e que as turmas podem ser maiores. Para isso são precisos “professores
eficientes”. Algumas perguntas do PÚBLICO sobre formação dos professores e a
importância dos pais no aproveitamento escolar ficaram por responder. “Penso
que sabe quais são as minhas respostas”, justifica.
PÚBLICO: Considera que em Portugal estamos a gastar demasiado em educação?
Eric A. Hanushek: A questão não é se estão a gastar demasiado, mas se os resultados não deveriam ser melhores. Outros países da OCDE que gastam o mesmo que Portugal têm melhores resultados. Portanto, é muito importante para o país melhorar o seu desempenho escolar.
PÚBLICO: Considera que em Portugal estamos a gastar demasiado em educação?
Eric A. Hanushek: A questão não é se estão a gastar demasiado, mas se os resultados não deveriam ser melhores. Outros países da OCDE que gastam o mesmo que Portugal têm melhores resultados. Portanto, é muito importante para o país melhorar o seu desempenho escolar.
Quanto dinheiro deve um país gastar em
educação?
Essa é uma questão política. Convém, no entanto, que o país se esforce para
que os seus gastos sejam eficazes.
Mas como é que se pode tornar o sistema
eficiente?
A investigação internacional dá algumas pistas: a chave para melhorar o
sistema está na melhoria da qualidade dos professores. Para o fazer é
necessário dar incentivos às escolas e aos professores. Apesar de ser
politicamente difícil é preciso considerar a possibilidade de pagar aos
professores pelo seu desempenho. Além disso, é importante que os professores
sejam responsabilizados pelo desempenho dos seus alunos.
Mais: se os pais
tiverem liberdade de escolha da escola, esta vai incentivar as escolas a
melhorar a qualidade dos seus professores e a sua eficiência.
É apologista de salas de aula com mais
alunos. Em Portugal, o número aumentou para 28. Qual é o número ideal?
A investigação ainda não revelou o número óptimo de alunos por sala.
Reduzir o número de alunos por turma é uma das ideias mais caras e que tem
revelado ter muito pouco impacto no sucesso dos alunos. O que a investigação
sugere é que ter menos alunos por turma, no pré-escolar e no 1.º ciclo, pode
ajudar – um pouco – a conquistar melhores resultados. Mas há maneiras melhores
de gastar dinheiro em educação do que na redução do número de alunos por turma.
A qualidade do professor é muito, muito mais importante que o número de alunos
por turma.
Sabemos que a Coreia do Sul ou o Japão,
onde as salas de aula podem ter mais de 30 alunos, têm melhores resultados nos
testes da OCDE que os EUA ou Portugal. Quando, na sua investigação aponta os
casos asiáticos não está a esquecer-se de que por detrás desses números estão
factores culturais diferentes?
Um bom professor sabe como gerir uma sala e levar os seus estudantes, mesmo
quando eles não estão naturalmente preparados para tal.
Na sua investigação fala de “professores
eficientes” e de “professores de qualidade”. São sinónimos?
Para mim, um “professor eficiente” é a mesma coisa que um “professor de
enorme qualidade”.
Como é que os define?
A investigação falha na descrição das características ou do comportamento
de um “professor eficiente”. Sabemos que há profissionais que, por sistema, são
melhores em sala de aula do que outros, mas é difícil descrevê-los. Contudo, é
possível identificar quem se está a sair bem e quem não está.
Nas escolas públicas portuguesas, é o
ministério que distribui os professores pelas escolas. Portanto, ainda que um
director soubesse identificar os “professores eficientes” de nada lhe serviria.
Os directores devem estar envolvidos na administração e gestão do seu
pessoal. Deveria ser-lhes permitido escolher quem deve entrar e sair da sua
escola.
Contudo, isto só faz sentido se o director também for avaliado com base
no desempenho dos alunos da sua escola. Os directores devem estar apostados na
melhoria dos resultados dos estudantes, mais do que em qualquer outro assunto.
Em que é que um professor “ineficiente”
pode prejudicar um aluno?
Um estudante que tem um mau professor pode ficar para trás na sua carreira
académica, para sempre. Se não aprender o que está previsto num determinado ano
de escolaridade, vai para o ano seguinte com um atraso, o que o pode atrasar
cada vez mais.
Então, todos os estudantes são bons se
tiverem um “professor eficiente”?
A investigação não é conclusiva em relação a essa questão. Mas parece que
um “professor de qualidade” é bom independentemente de ensinar alunos de topo
ou de base. O contrário também é verdade: um mau professor prejudica os bons e
os maus alunos.
Um professor “ineficiente” pode
tornar-se “eficiente”?
A investigação sugere que é difícil melhorar o desempenho dos maus
professores. É um investimento que raramente se paga a si mesmo.
=Público=
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