É caso para dizer que adoro o folclore e que
detesto o fado. Aliás, temos bons cantores de folclore, bons bailadores e
bailadoras, como também bons apresentadores que sabem da matéria.
Por exemplo ontem, tivemos a rara
oportunidade de tomar conhecimento de que no palácio de Belém iria ter lugar um
dos maiores festivais de folclore nacional de que há memória desde há um pouco
mais de 39 anos.
Lá esteve o também cicerone e anfitrião
senhor Silva, que não deixou de cantar, enquanto todos os outros dançavam, o
«Malhão», acompanhado por uma concertina dedelhada pelo senhor Mendes, que
parece ser o seu tocador preferido dessa espécie de acordeão com teclas
redondas e bem colorida, a concertina.
Ali, todos eram polivalentes. Por exemplo, o
senhor Sousa, MR, cantou a Chula Vareira Chula, acompanhado por vários
instrumentistas do grupo, enquanto mais tarde o próprio senhor Mendes
interpretou o Corridinho Algarvio e, como não podia deixar de ser, o senhor
Alberto conseguiu impor-se com o Bailhinho da Madeira.
Quem não esteve para cantorias e tocadorias,
decidiu sair cedo do encontro, alegando estar com problemas de saúde, o que
deveria tê-lo retido em casa.
Depois, e penso não estar a divulgar qualquer
segredo de Estado, houve ainda quem se esganifasse com o Vira do Minho, com o senhor Lobo nos
ferrinhos.
Depois procedeu-se a um curto intervalo, para
refrescar as goelas e retemperar forças, continuando cerca de meia hora depois
com uma moda vilarrealense, semelhante a uma mistura de Vira e de Malhão, tendo
no entanto desentoado e obrigado os tocadores a esforçar-se para que ninguém se
apercebesse das notas falsas retiradas a uma Rebeca desafinada.
Faltou, e é preciso salientar esse facto, o
único representante dos Açores, razão pela qual foi impossível ouvir-se tocar e
cantar algo do arquipélago.
Ao que parece, o instrumento mais ouvido e
também mais numeroso, era o cavaquinho, embora tivesse as cordas um tanto
usadas, pelo que era necessário ter cuidados acrescidos para que não
quebrassem.
Naquele salão de Belém, com quase todas as
regiões de Portugal presentes, cantou-se e tocou-se muito folclore, comeu-se e
bebeu-se – água, claro – deu-se à língua, cantou-se alto e baixo, sendo que
alguns se limitavam a dançar, já que a noite era de alegria, pelo menos para
uma boa parte dos presentes.
Houve quem chamasse a essa reunião de “Conselho
de Estado”, que no fundo se limitou a mais um Conselho de Folclore do Estado
Português, que até teve, já no fim, cerca da meia noite, e para evitar fazer
mais barulho, não fossem os vizinhos chamar as autoridades devido ao ruído ali
produzido.
E, como adoro o folclore, estava á espera que
hoje surgissem notícias sobre o verdadeiro festival de ontem à noite em Belém,
mas, curiosamente, em vez de louvores, só ouço críticas aos convidados do
senhor Silva que, e macacos me mordam se não tenho razão, se remeterá a mais um
prolongado tabu, depois da “orgia musical e dançante” na noite de ontem.
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