Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 30 de maio de 2013

«QUANDO PEDRO MORREU…»

Um belo dia de Verão, Pedro, que já andava adoentado há tempos, sentiu que o seu estado piorava apesar dos medicamentos que tomava. Uma vez mais foi ao médico, que após uma profunda observação, lhe disse muito sério: “Embora não veja nada que possa causar-se todo esse mal-estar que sente, só lhe posso dizer que, se assim continuar, nada poderei fazer para o salvar.”

Pedro não era velho; estaria apenas na meia idade, ou seja, entre os quarenta e os cinquenta anos. Irritava-se facilmente, se lhe colocavam uma questão exaltava-se e respondia torto, dizia agora uma coisa e logo outra, mais tarde desdizía-se, dormia pouco e mal, alimentava-se bem e sempre do melhor, bebia os seus copitos às refeições, os resultados analíticos nada mostravam de errado, pelo que decidiu consultar outro médico.

Tinham-lhe falado de um que fazia verdadeiros milagres em relação á saúde corporal dos seus doentes, e, dando a direcção ao motorista, foi vê-lo, sabendo de antemão que seria atendido logo que lá chegasse.

Tratava-se de um consultório situado num quinto andar, e quando o motorista lhe disse que haviam chegado, não sem uma certa dificuldade saiu do carro, dirigindo-se ao elevador para que o transportasse até lá cima.

Efectivamente, quando passou a porta de entrada, de imediato a recepcionista o anunciou ao médico que o foi receber à porta, abrindo-a e fazendo-lhe sinal para entrar. Durante mais de meia hora limitou-se a ouvi-lo, não o interrompendo e, após ouvir tudo quanto disse, levantou-se, auscultou-o, viu-lhe a Tensão Arterial, passou depois à palpação e, seguidamente ao raio X, nada encontrando de mal para o seu estado, por ele próprio relatado.

Pediu-lhe licença para falar com o colega que o havia consultado antes e, depois de quase meia hora ao telefone, resumindo-se a uns sim, claro, pois, compreendo..., virou-se para o Pedro dizendo-lhe: “O meu colega tinha razão. Nada lhe encontro de anormal que justifique o quadro que me relatou, o resultado das análises é bom, mas se pretender ser internado na minha clínica, permitir-me-á  submetê-lo a toda uma série de exames que…

- Não! Não posso, agora, sujeitar-me a um internamento, por curto que seja. Tenho demasiado que fazer. Talvez dentro de uns dias, ou melhor, de umas semanas possa fazer-lhe a vontade. Mas, agora, não!

E, levantando-se, saiu do consultório, desceu no elevador, entrou no carro e seguiu para a sua residência oficial. Meteu-se no gabinete, exigindo que ninguém o aborrecesse fosse com o que fosse. Um amigo seu, que tinha decidido visitá-lo para uma troca de impressões, foi dar com ele de cabeça pousada na larga e ampla secretária, já inanimado. Abanou-o, pensando que tinha adormecido mas, como não respondia, chamou o motorista e alguns assessores para que o ajudassem.

O motorista contou que tinha ido ver os médicos, que após uns telefonemas se apresentaram no local, confirmando o óbito. Um deles chamou um assessor dizendo-lhe que enviasse ao outro Pedro  um fax urgente, para que preparassem a suite de pedro no paraíso. Pedro respondeu seguidamente dizendo não ter qualquer suite, nem mesmo um simples quarto disponível para Pedro, que deveria dirigir-se às caves do inferno e que seria recebido pelo próprio rei do local, D. Mafarrico ou Satanás, ou seja, o Diabo, ele mesmo.

Os médicos olharam-se silenciosamente e, como nada mais podiam ali fazer, regressaram aos seus consultórios depois de deixarem dito que procurassem a Certidão de Óbito no consultório do primeiro.

Pedro tinha entregue a alma ao Criador, segundo eles – médicos – devido a uma sobrecarga motivada pelos remorsos..., ficando-se por aí, e tinha entregue a alma a quem de direito.


“Não devemos, nós, humanos, pretender ultrapassar a nossa condição de humanos, que é como quem diz que não devemos ostilisar os nossos semelhantes por muito pobres que sejam.”

Sem comentários:

Enviar um comentário