Há cerca de dois anos e uns meses, vindo das
bandas do país do sul desolador da Europa, quase de repente, surgiu um
indivíduo que de imediato começou a proclamar desejar ser pastor, até porque
era urgente mudar, para melhor, a vida das ovelhas, carneiros e cordeiros,
conduzir o rebanho para novas paragens e pastagens.
Esse novo aspirante a pastor era, na sombra,
aconselhado por um seu igual, de nome Miguel que, às escondidas de todos os
membros do rebanho tinham já tudo combinado sobre a melhor forma de arrasarem
com tudo o que fosse benéfico para o rebanho.
Que pretendiam eles? Que os cordeiros
crescessem e pudessem dar lã, para depois serem todos, ovelhas, carneiros e
borregos tosquiados a seu bel prazer, proporcionando-lhes, e aos seus amigos
mais próximos do ponto de vista da cor deles, fabulosos lucros, ao mesmo tempo
que fariam compreender ao rebanho quem mandava, quem dava as ordens, quem
decidia o que e onde pastar.
Mas, vivia-se uma época em que o rebanho
estava bastante dividido e em que ambos se viam à nora para juntar ao seu lado
a parte do rebanho que lhes garantisse a “propriedade” da sua maioria. Ora, os
membros do rebanho pareciam gagos, pois só conseguiam, nas suas “vozes roucas”
soletrar o início de uma palavra: ficavam-se quer as ovelhas, quer os carneiros
quer os cordeiros por um “Méééé”, já que lhes era impossível conseguir
articular o resto da dita, “rda”.
Dos lados de Belém tudo era silêncio, como de
costume, embora ali para os lados de S. Bento a coisa fervilhasse, sendo para
lá que Pedro e Miguel resolveram enviar os seus mastins e reunir todos os
componentes da parvónia que neles confiavam e assim o expressaram, começando a segui-los
por toda a grande aldeia da Lusitânia.
Enquanto os cordeirinhos se limitavam à sua
irreverência, dando saltos e correndo de um lado para o outro, seus pais,
ovelhas e carneiros, permaneciam, fiéis, junto do Pedro e do Miguel.
Um belo dia, como que se abriram as portas
das tais novas pastagens, criando-se então uma espécie de aliança que
permitiria congregar uma maioria confortável de ovelhas e carneiros, e seus
cordeiros, num só grupo que, diziam o Pedro, o Miguel e também o Paulo,
detentor das chaves das ditas portas dos currais, seguindo-se então uma
contagem de unidades que preferiram a companhia desse trio maravilha.
Foram, pois, considerados os novos pastores
do grande rebanho lusitano e, para poderem dominá-lo como lhes convinha,
nomearam, de acordo com o professor de Belém, novos pastores e muitos
subpastores, a quem deram a denominação de assessores, pois não podiam fazer
tudo sozinhos, e muito era o que tinham a fazer pela sua frente.
Cedo, porém, demonstraram que a sua única
intenção era a de obrigarem os membros todos do rebanho a darem tudo o que
possuiam, toda a sua lã, mas também a sua carne para com ela se banquetearem.
Alguns carneiros e ovelhas começaram a
mostrar o seu descontentamento pela negação das promessas por eles feitas, e
pouco tempo depois podiam ver-se pelas ruas das cidades do país a quem já
designavam por “Carneirolândia” do sul da Europa, aqueles que quer o Pedro,
Miguel e Paulo, mas também o tal professor de Belém e muitos outros seus
apaniguados, tinham, conseguindo-o através de todas as suas mentiras – e tantas que
foram e continuam – iludir.
E como agora aquela que se arvora em “patroa”
quer da Europa quer deles exige cada vez mais lã e mais carne, Pedro não se
poupa a esforços para conseguir acalmá-la, nem que para tal tenha de sacrificar
todo o rebanho lusitano.
«Quo Vadis, Lusitânia?»
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