Na sua entrevista semanal na TVI, diz que «É muito mau quando o presidente
se encontra num contexto em que lhe chamam nomes».
Os casos de Miguel Sousa Tavares, como o das manifestações, são uma simples
amostra do que se diz em conversas privadas em determinados meios, não tão
pequenos como possa imaginar.
Já se colocou a pergunta: “porque se encontra Portugal mergulhado em tão
profunda crise?”, então será benéfico para si e para outros que o faça e chegue
a uma conclusão, dizendo-a abertamente na televisão, de modo a que todos os
portugueses que o ouvem a conheçam.
Já se perguntou a si próprio – e não diga que não, já que serei obrigado a
chamar-lhe mentiroso ou brincalhão – qual ou quais as verdadeiras razões que
conduziram o país e os “malcriados” dos portugueses que chamam nomes àqueles
que deveriam ser o exemplo vivo da lisura, da seriedade e da honestidade?
O senhor, caro professor, já fez tudo isso e muito mais! Já chegou à
conclusão de que os portugueses estão correctos e que, apesar de usarem de toda
a sua “vernaculidade e calão” têm todas as razões do mundo para o fazerem.
Usando de toda a franqueza, considerei infeliz a comparação entre o Beppe
Grillo e o presidente português, pelo único motivo de que aquele é gordo e não
um palhaço, mas um “comediante” italiano que, num dos seus sonhos ou delírios,
como queira, e como cidadão em pleno uso dos seus direitos, se lembrou de se
candidatar a umas eleições no seu país.
Creia que detesto o insulto gratuito. Mas, pensando bem, será que Miguel
Sousa Tavares proferiu um insulto, ou, antes, usou uma frase como termo de
comparação?
Não se esqueça que todos temos o inalienável direito à indignação. Estou
convencido de que uns sessenta e tal por cento dos portugueses, mais perto dos
setenta, se encontram indignados com o que se passa com os seus salários, as
suas pensões, o desemprego no qual vegetam, a fome e a miséria em que o
colocaram nos dois últimos anos sobretudo, e, como professor de direito que é,
sabe perfeitamente que tudo isso conduz ao desespero.
Além disso, sabe-o tão bem como eu, pelo menos, que nem o povo se habituou
a viver acima das suas possibilidades nem a classe política, em especial a
dominante tem o menor respeito para com esse povo que tem vivido, de geração em
geração sem a menor consideração por parte dos políticos, usando-o apenas para
obterem o voto que lhes permita aplicar as medidas de austeridade, roubando-o “a céu aberto e tão descaradamente…” que se
torna impressionante apreciar o seu auto-domínio.
Onde pretende chegar com as afirmações que fez no “seu” canal televisivo?
Que a culpa de tudo é dos sindicatos? Que estes deveriam ser punidos por isso?
Nada me admiraria se assim fosse, embora em tribunal fosse, senão impossível de
provar, muito complicado fazê-lo.
Pensará, por outro lado, que se deveriam proibir essas manifestações que levam
cartazes e soltam palavras de ordem, slogans, que podem incomodar determinados “senhores?”
O seu discurso foi feito no sentido contrário, pois deveria ter dito que
quem erra em Portugal são todos aqueles que agem contra os direitos da
cidadania, como o direito ao trabalho e à dignidade com que deve ser executado,
como também ao sistema remuneratório que, convenhamos, é vexatório, humilhante
mesmo.
O grande mal das televisões é que se limitam a convidar algumas “personalidades”
e nunca os membros do povo. Já viu sobreviver algum país sem o seu povo?
Impossível, não é? Mas, creia, não é impossível que qualquer país sobreviva sem
esses supostos intelectuais que gostam de “botar a faladura” de modo a
achincalhar sempre mais “a populaça”.
Voltando atrás: quanto à troca de nomes, que políticos ou que intelectuais
ou comentadores – que geralmente acumulam – sente respeito pelo povo, a quem tratam
de piolhosos, de estúpidos, de ignorantes e tantos outros apodos?
Se pretende lançar já a sua candidatura à presidência da República
Portuguesa, apesar de tudo, deverá mostrar inequivocamente que defende o
direito à indignação de todo o povo, mas não apenas por palavras, mas por
actos. Coisa que não faz, ou porque não sabe ou porque está contagiado pelo
pensamento generalizado dos políticos e de outros..!
Queira passar uma boa semana, que seja rica em “casos” que lhe permitam
poder arranjar matéria para comentar no próximo domingo.
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