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domingo, 26 de maio de 2013

«PROFESSORES EM GREVE»

Senhor Ministro da Educação

A delicadeza é perfeitamente compatível com a firmeza, e até com muito grande energia. Em pedagogia, não há dez meios, não há mais que um único, quero dizer, um só bom: onde a vontade vacila, é a vontade que é preciso fortificar. Substituí, pois, com a vosa, a que falta.

O senhor não escapará a este lei, a não ser que renuncie ao seu dever de “educador”. Sente-se realmente preparado para exercer o cargo que ocupa? Ele é o fundamento de toda a acção verdadeiramente formadora. E se, com efeito, todos os professores se unem numa acção de luta contra as suas políticas educativas, que educam apenas a caminhar para o desemprego daqueles que têm a seu cargo a educação e ensino das crianças, adolescentes e jovens portugueses, certamente têm as suas razões que, numa espécie de cegueira característica do momento que o país atravessa, onde impera a austeridade, com esses seus sorrisos – que não podem ser reais – antes repletos de hipocrisia, pretende decretar “serviços mínimos” para o período em que os professores já anunciaram fazer greve.

As crianças, adolescentes e jovens sentem-se preparadas para se submeterem aos exames? Então, mesmo com os professores em greve e o adiamento dos exames, para quê “abrir uma nova frente de guerra social”, pretendendo exigir uns serviços mínimos que não têm razão de ser.

Os alunos preparados e com a matéria actualizada nas suas cabeças, tanto podem submeter-se hoje como amanhã ou mesmo depois aos exames. Dá a impressão que que existe de sua parte, senhor ministro, uma má-vontade e que pretende, seguindo a regra geral do governo de que faz parte, fazer exigências cuja razão de ser não existem.

Quererá, por exemplo, exigir aos professores – que tão maltratados têm sido e, ao que parece, continuarão a ser, que mintam? Acha que é papel do professor essa missão, ou, pelo contrário, será a de combater a mentira e ensinar-lhe de que só a verdade tem valor?

É evidente, que as crianças, adolescentes e jovens, cujas famílias vivem na verdade e até chegam a colaborar com o professores de seus filhos nessa luta constante contra a mentira, infelizmente tão em voga em certos meios da sociedade portuguesa, como por exemplo a política, onde dizer uma verdade parece custar mais que fazer tratar os dentes todos da boca.

Também fui aluno, também gostava de me divertir, mas todos os dias sem excepção, fui sempre um aluno aplicado. Devo dizer-lhe que no meu tempo de estudante, a greve era apenas uma miragem e, mesmo assim, proibida.

Mas, infelizmente, existiam outros motivos que impediam os professores de comparecer às aulas e aos exames, sendo o principal a doença. A doença, naqueles tempos, era muito mais difícil de tratar. E, por casualidade, tive um professor que adoeceu precisamente na véspera do início dos exames. Isto no liceu, ainda.

O Reitor, homem austero como convinha mostrar-se a condizer com o regime, veio ter connosco, anunciando-nos a situação, e perguntando-nos o que pretendíamos. Se a substituição do professor se aguardávamos pelo seu regresso. Todos em unanimidade dissemos que preferíamos esperar pelo professor e que então faríamos o exame da disciplina que leccionava. Sabe uma coisa? Naqueles tempos, para além da austeridade imposta pelo regime, havia uma coisa que hoje faz muita falta: o respeito pelos mestres, e aquele era-o.

E, tendo sabido da nossa decisão, aquele professor foi operado numa casa de saúde do Porto e, antecipou a sua alta e regresso ao liceu para que pudessemos terminar os exames finais do curso liceal.

Dentro do máximo respeito, mas com uma certa alegria por o termos de volta, todos fizemos as provas e, como chefe de turma, fui chamado ao gabinete do reitor, que em nome de todos me felicitou pela atitude tomada por todos nós.

Quando os alunos estão preparados, tanto lhes faz fazer hoje como amanhã um exame, uma prova. Naqueles tempos, senhor ministro, repito-o, havia respeito e aplicação da nossa parte. Acha que os professores de hoje têm a vida tão facilitada nesse sentido como antigamente?


Portanto, seja o senhor a dar o exemplo, mostrando respeito, todo o respeito por eles e não queira exigir deles o que o senhor não pode dar-lhes.

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