O primeiro remédio – e pergunto-me se há
outros – é dar, ou restituir, ao clima político-social nacional uma força, uma
tensão que o tornem saudável, em vez de o tornar cada vez mais débil.
(Não deve o senhor Pedro esquecer-se de que a
corda demasiado esticada, parte e depois é o bom e o bonito. A culpa é toda
sua!)
Para erguer alguém acima de si mesmo, para
lhe restituir uma energia que se perdeu ou que se não soube adquirir, só existe
um meio: determinar-lhe, e se preciso impor-lhe, o esforço, mas a ele mesmo o
senhor Pedro.
Falo essencialmente do esforço físico, mas
também do moral, religioso e intelectual que, em conjunto, poderão salvá-lo de
si próprio. Tudo o mais são conselhos de charlatão.
De resto, de forma nenhuma um político, que
nunca trabalhou naa sua vida ou se limitou a simular trabalhar, adora ver os
outros esforçar-se e detesta tudo quanto o obrigue a um esforço que dele exija
aplicar os seus flácidos músculos.
Tanto isto é verdade que, nos casos mais
difíceis em que ele coloca à nossa atenção “recursos incríveis”, mas sob a
condição de jamais os convocar e mobilizar, pois os esforços devem ser apenas
para os outros, os cidadãos de menores recursos, os sujeitos a maiores
dificuldades económicas e socialmente depreciados pela maioria dos políticos,
servindo apenas para trabalhar, ficar desempregado, vegetar na vida quotidiana,
perder a casa e, em muitos casos ver-se obrigado, com sua mulher e filhos a
recorrer aos pais de um deles, dos cônjuges, é evidente, e tentar conseguir
caber ainda numa das casas em que antes habitara.
Mais; há no senhor Pedro a tendência de se
comprazer, sentindo-se arrebatado observando o esforço de todos os cidadãos de
que priva, com todas as suas medidas de austeridade, de uma vida dentro dos parâmetros
da dignidade humana, e na tentativa de calar certas bocas que entretanto se
abriram, dizer que oferece, nas escolas, almoço e lanche a todas as crianças
cujos progenitores se viram, de repente, na miséria, devido a todos os cortes
por ele e seus esbirros efectuados.
SE alguém lhe propõe alguma coisa diferente,
se alguém lhe mostra os erros gravíssimos que comete, limita-se a empurrar para
o seu antecessor, sabendo ser mentira, a culpa de tudo o que de mal afecta
Portugal e os portugueses.
Depois, bem, depois cai implacavelmente sobre
os reformados e pensionistas, roubando-os ostensivamente dos seus direitos
adquiridos ao longo de toda uma vida de trabalho árduo, escreve à troika,
telefona ao senhor Seguro dizendo-lhe que quer enviar-lhe uma carta,
marimbando-se plenamente em todas as propostas por ele e outros apresentadas.
E, a sua “preguiça”, que os portugueses pagam
demasiado cara, o seu tédio, na maioria das vezes, são atitudes que adopta pelo
desespero de não poder roubar-lhes ainda mais.
Enquanto isso, todos aqueles que vivem na
riqueza são por ele isentados de qualquer comparticipação extraordinária no
sentido de aliviar os mais pobres que
não podem mitigar a fome e a miséria que os assola, atitude que tanto o orgulha
e pelas quais se sente arrebatado.
De facto, não há nada de menos fraco que um
indivíduo que se diz político e defensor da justiça social que um
primeiro-ministro que desde que tomou posse nada mais fez que inventar sempre
mais novas medidas de austeridade e aplicá-las sempre aos mesmos.
Um dia acordará, despertará totalmente de
toda a sua arrogância e soberba e, como se diz, isso acontecerá no dia em que o
povo saiba “por onde o pegar”, e toda a sua ira contra os mais pobres desaparecerá,
pois serão eles próprios a mostrar-lhe o caminho da rua.
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