A solidão absoluta da natureza mergulharam-no
num estado quase impossível de descrever. Sem amigos e, por assim dizer,
praticamente só sobre a Terra – do ponto de vista político falando – sente-se
acabrunhado apesar de uma superabundância de vida.
Por vezes, sem que ninguém o ouça ou veja,
apetece-lhe gritar bem alto e sente correr no seu coração rios de lava ardente;
por vezes, deixa escapar um grito involuntário, que mais parece um rugido de
fera enjaulada, pois sabe, no fundo de si próprio que, o que está a fazer aos
cidadãos portugueses é a maior injustiça, mas sabe que do outro lado estão os
seus “queridos banqueiros e capitalistas”.
Falta-lhe qualquer coisa para preencher o
abismo da sua existência; desce vales, sobe às montanhas, apelando a toda a
força dos seus desejos, o ideal de uma flama futura; Este fantasma imaginário e
os astros no céu, o próprio princípio da vida no universo.
Todavia, este estado de calma e perturbação,
de indigência e de riqueza em que vive.., um dia tinha-se distraído a desfolhar
um ramo de plátano sobre um riacho, e a agarrar-se à ideia de que a cada folha
que a corrente levava.
Nesses momentos cria-se um rei que teme
perder a sua coroa por uma revolução súbita, não ressente as angústias vivas a
cada acidente que ameaça os rebentos do seu ramo.
Ó fraqueza dos mortais! Ó infância do coração
humano, que não envelhece jamais! Eis, pois, a que grau de puerilidade a sua
soberba razão pode descer! E ainda é verdade que alguns homens aliam o seu
destino a coisas de tão pouco valor que aquelas folhas de plátano.
Mas, como exprimir toda essa massa de
sensações fugitivas que ele sentia, sente, nos seus momentos de maior solidão?
Os sons que tornam as paixões na vida de um coração solitário assemelham-se ao
murmúrio dos ventos e das águas que se vêm e sentem num deserto, e que não
podem ser pintadas.
Já pouco falta para que a Primavera se
despeça de nós, o que o lança ainda mais na incerteza; e ele, que tantos verões
passou nas terras quentes de África, sente um certo receio de não apreciar o
clima desta Velha Lusitânia, temendo que o calor faça desencadear determinadas
ideias em determinados sectores da sociedade nacional.
Ele sabe que no mais forte pino do Verão
surgem, por vezes nuvens e fantasmas, que lhe fazem correr o suor pelo corpo,
colocando-lhe as mãos húmidas de transpiração e que, por muito que as lave logo
humedecem de novo e arrefecem, sentindo desejos de as aquecer ao lume brando de
uma boa acha de sobro.
Daqui posso ouvir, podemos todos ouvir o
canto melancólico, que me recorda que em todos os países o canto natural do
homem é triste, mesmo se exprime a felicidade. Ora, com o canto de Pedro, que
nunca exprime a felicidade, pelo contrário, sentimos a vontade de o calar de
vez e de uma vez por todas.
Também canta o canário de Belém, que segundo
alguns pretende falar agora sobre o “depois da troika”, quando todos sabemos
haver outros motivos para a convocação de uma reunião do Conselho de Estado, ao
mesmo tempo que ouvimos também o canto da lira, onde faltam cordas, e onde
somos forçados e tornar os acordes de alegria sobr o tom consagrado aos
suspiros.
O sino solitário que se eleva lá longe no
vale, atraiu a minha atenção: quantas vezes segui com o olhar os pássaros de
passagem que voavam bem alto nos ares do meu país, fugindo de climas longínquos
e tentando ficar entre nós por uns tempos, mas que este ano decidiram fazer “greve”.
Um secreto instinto atormenta os cidadãos que
sentem não ser eles próprios que um viajante; mas uma voz do Céu parece dizer: “Homem,
a época da migração ainda não chegou; espera que o vento da morte se levante;
então, partirás para regiões desconhecidas, como o exige o teu coração.”
Levantai-vos rapidamente, tempestades
desejadas, que deveis levar Pedro aos espaços de uma outra vida! Assim dizendo,
os cidadãos marchavam decididos, a face inflamada, encantada, atormentada, e
como que possuída pelo demónio dos seus corações ofendidos!
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