O professor universitário e
comentador político, Pacheco Pereira, mostra-se, em entrevista ao Jornal de
Negócios publicada esta sexta-feira, muito crítico face à actuação do Governo
que acusa de “estar a gozar” com os portugueses, a quem trata como “súbditos”,
através de “uma governação incompetente, arrogante e perversa”. Pacheco Pereira
refere ainda que o “medo” que a sociedade portuguesa vive actualmente tem os
“mesmos efeitos destrutivos” do tempo da ditadura.
Na véspera da apresentação do seu novo livro
de crónicas, Pacheco Pereira dá hoje uma entrevista ao Jornal de Negócios na
qual reforça a sua posição relativamente às políticas aplicadas pelo actual
Governo de coligação que “está a gozar connosco” e a “tratar-nos como súbditos”
através de “uma governação incompetente, arrogante e perversa, que [por isso]
merece a indignação de todas as pessoas decentes”.
“Estamos
mergulhados numa corrida suicidária sob todos os pontos de vista. O
empobrecimento da classe média destrói o dinamismo da sociedade”, afirma
Pacheco Pereira, insistindo que “um dos grandes problemas da política do actual
Governo é ela ser centrada no combate aos mais fracos, e de poupar os mais
fortes” perdendo, ao fazer isso, “toda a legitimidade” e criando um “mecanismo
de deslegitimação da própria democracia”.
Apesar de
distinguir os quase 40 anos de democracia que vivemos com os 48 anos de
ditadura do passado, Pacheco Pereira salienta que há actualmente em Portugal
“medo do confronto, do conflito, da discussão livre”, considerando que temos
“uma sociedade de respeitinho, de salamaleques”. Como exemplo, o professor
universitário refere os “debates na Assembleia da República”, com frequentes
“trocas de falsos elogios” que provam, na sua opinião, a “incapacidade de falar
com franqueza e liberdade”, uma “das coisas piores para um País numa crise
profunda”, como Portugal.
“Um funcionário
público depende cada vez mais das chefias” e “como a possibilidade de as
pessoas terem mobilidade social, de mudarem de emprego, é muito escassa, é
fácil incutir o medo numa sociedade deste género”. Contudo, Pacheco Pereira
esclarece que este medo é diferente do da ditadura mas “tem os mesmos efeitos
destrutivos” porque “as pessoas têm medo de perder o emprego, as condições
mínimas de vida que tinham adquirido, de empobrecer”.
E quanto ao
futuro? Pacheco Pereira considera que “isto está torto [e] a caminho de coisas
ainda mais tortas. Pode sair-nos um palhaço, como em Itália, um ditador
populista, uma desagregação grave do sistema político em que todos tenham
capacidade de vetar os outros, um regime autoritário assente numa ditadura das
finanças”.
Ainda assim, o
comentador político reforça, nesta entrevista ao Jornal de Negócios, a sua tese
de que as eleições “podiam ser vantajosas” no sentido em que ao provocarem
“instabilidade no sistema político” poderiam favorecer “a negociação com a
troika” e afastar do poder “um ajuntamento de pessoas, [que está no Governo] a
tratar da sua carreira política”, considerando que pode “fazer tudo sem
consequências” e apenas para “salvar a sua imagem” e “satisfazer a sua
vaidade”.
N. M.
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