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domingo, 19 de maio de 2013

«ELIMINEM-SE AS “SOMBRAS”»

Procurar eliminar sombras não pode ser agradável para ninguém. Mas quem mais sofre é, certamente, aquele que as crê reais. Não somente procura alcançar o vazio e perseguir o nada, como se torna inapto a integrar-se no real.

Que a realidade o chame a si – e ela não pode fazê-lo brutalmente – e todas as aberrações são possíveis, desde a aversão  simples ao esforço, que só ele,. Sobrepuja o real, até todas aquelas formas – no mais das vezes abjectas – do diletantismo, que só encara a vida dos mais pobres como um jogo sem valor moral.

Percebem-se, são mais que evidentes as consequências de semelhante comportamento – desencaminhamento pela imagem – visto que não mais se trata apenas de vida intelectual, mas de acção social e até religiosa, embora com umas fortes mentiras enfiadas lá pelo meio… como a inspiração de Nossa Senhora de Fátima,  o apelo a S. Jorge e tantas outras que durante o ano são vertidas na pia destinada às mentiras proferidas pelos políticos.

Se nada mais conta, a não ser o universo fictício que se deixou sugerir pelo abuso de uma certa retórica na qual ninguém acredita, e critica, não se vê muito bem porque se deveria dedicar-se a viver pelos outros, em virtude do “patriotismo” – que sabem corresponder a mais uma mentira enormíssima -  em virtude da abnegação, sempre penosa e frequentemente aborrecida.

Aquele que vive de imagens ilusórias e que delas se alimenta é, necessariamente, um egoísta, porque, encerrando-se nesse mundo, encerra-se a si mesmo.

Nada o interessa mais do que essa onda sempre inconstante, que contempla com enlêvo e cuja atracção é tirânica para o povo. Porque, a vida dos outros, as necessidades alheias, que são coisas reais, não se integram mais, senão dificilmente, nesse mundo irreal, feito apenas de miragens inconsistentes.

E esse político – quem se espantaria disso? – está perdido para a vida religiosa mais intensa, pois esta não se realiza sem uma estrutura mental extremamente sólida, porque sempre impõe sacrifícios concretos e muito penosos, que estão sempre por recomeçar, indefinidamente.

Quem se deixou intoxicar pelo abuso da imagem continua a procurar essa droga. Não é mais capaz, e torna-se cada vez menos, de alcançar aquele domínio de si que esse esforço religioso impõe. Ao contrário, tudo o afasta dele.

Como falar-lhe ainda de austeridade, de sacrifício, de disciplina dos sentidos e da imaginação? Quem compreenderia, também, das verdades que são verdades de fé e que, por isso mesmo, transcendem o tangível e o visível?

Esse universo ultrapassa-o, como o ultrapassa também a necessidade de solidão – daí os tabus prolongados – sem a qual não há  verdadeira abstracção, nem atenção ao chamado Deus. Ele tornou-se, salvo um assomo de energia com o qual não se pode contar, inapto a ouvi-lo e a segui-lo.

E essa fuga desvairada diante da solitude, da paz interior e do recolhimento do espírito, constitui bem um dos piores vícios da actualidade. Quem quer que se deixe arrebatar por esse turbilhão renuncia a todo o domínio de si, pelo qual, igualmente, um pensamento e uma acção verdadeiramente humanos e sobrenaturais são possíveis.

De todos os “divertimentos”, no sentido pascalino da palavra, que nos afasta de nós mesmos, que nos distraem e nos impedem de fazer silêncio, a fim de ver claro para bem  agir, não há outro pior que o abuso sobre um povo crédulo, que nem o é já tanto.


É por isso que, desde a infância, desde aquele período, sobretudo, em que um político se põe em busca do equilíbrio, de uma estrutura mental sólida e, numa palavra, se encaminha para a maturidade, se deveria cuidar de o salvaguardar do perigo mortal que ameaça a sua formação, e que não é outro senão a procura de quimeras e a busca – tão vã e louca! – das miragens.

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